Europa registra recordes de até 25°C no inverno
Mudança climática tornou atual onda de calor na Europa mais provável em época de inverno. Temperaturas amenas devem reduzir contas
atualizado
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Temperaturas recordes para o inverno vêm sendo registradas pela Europa desde o final de 2022. Mais ao sul do continente, muitos celebraram o Réveillon de camiseta. Numa época normalmente de movimento intenso, estações de esqui europeias ficaram desertas.
Enquanto ativistas exigem ações mais resolutas contra as mudanças climáticas, o relativo calor alivia pressão sobre os governos que se debatem com o aumento dos preços da energia.
Em centenas de locais, da Suíça à Hungria, quebraram-se recordes invernais de temperatura. Em Budapeste, a noite de Natal foi a mais quente da história, e em 1º de janeiro registraram-se 18,9°C.
Na França, a noite de 30 para 31 de dezembro foi a mais quente desde os primeiros registros. No sudoeste do país foram alcançados quase 25°C.
Na Alemanha, termômetros chegaram a marcar 20°C na virada do ano. Segundo o serviço de meteorologia nacional, trata-se da temperatura mais alta para a época desde que começaram os registros, em 1881.
A TV da República Tcheca mostrou árvores começando a florescer. O Departamento de Meteorologia e Climatologia da Suíça expediu um aviso para alérgicos, devido ao pólen das aveleiras que florescem precocemente.
Na Espanha, registraram-se 25,1°C no aeroporto de Bilbao, com tempo ensolarado. Normalmente janeiro é muito chuvoso na cidade.
Fase relativamente longa de tempo ameno
Ainda não há análises científicas sobre o papel da mudança climática global na atual onda de calor invernal no continente. Entretanto, o perfil térmico deste início de janeiro se encaixa na tendência de longo prazo de temperaturas em alta, devido à ação humana sobre o clima.
“Os invernos estão se tornando mais quentes na Europa em decorrência do aumento das temperaturas globais”, afirma Freja Vamborg, climatóloga do Copernicus Climate Change Service da União Europeia.
O ano de 2022 foi marcado por eventos meteorológicos extremos, como ondas de calor letais na Europa e na Índia, e enchentes no Paquistão, os quais cientistas concluíram estar diretamente relacionados ao aquecimento global.
Segundo Friederike Otto, climatóloga do Imperial College London: “O calor recorde do Ano Novo por toda a Europa foi tornado mais provável devido à mudança climática causada pelo homem, a qual também torna cada onda de calor mais provável e mais quente.”
Os picos térmicos também têm feito certas plantas começarem a crescer mais cedo e atraído animais a deixarem a hibernação precocemente, assim tornando-os mais vulneráveis a serem mortos por posteriores quedas bruscas de temperatura.
O diretor do Instituto Pierre-Simon Laplace, Robert Vautard, destaca que, embora as temperaturas máximas tenham sido registradas entre 30 de dezembro e 2 de janeiro, a presente fase amena já dura duas semanas e ainda não passou: “Na verdade, é um evento relativamente prolongado.”
Boa notícia para as contas de gás
As temperaturas atipicamente amenas permitiram um breve alívio para os governos europeus pressionados a preservar suas escassas reservas de gás natural e conter a escalada dos preços, desde que a Rússia cortou o fornecimento do combustível para a Europa.
Apesar das promessas de que a atual crise energética aceleraria a transição de combustíveis fósseis para a energia limpa, no curto prazo os países têm reagido à queda das reservas de gás russo apressando-se em adquirir mais gás de outras fontes.
Porém a onda de tempo ameno fez cair a demanda de combustível para calefação, contribuindo para a redução dos preços. Na manhã desta quarta-feira (04/01), o preço-base do gás natural estava em 70,25 euros por megawatt/hora, o mais baixo desde o começo da invasão da Ucrânia pela Rússia, em 24 de fevereiro de 2022.
O Departamento de Energia da Itália prevê que as contas de gás devem baixar em janeiro, caso as temperaturas mais amenas persistam. Em nota, contudo, o serviço de notícias e análises Eurointelligence alertou que os países não devem se permitir autocomplacência no assunto.
“Embora [a onda amena] vá proporcionar aos governos maior margem de flexibilidade fiscal na primeira parte deste ano, para resolver os problemas energéticos da Europa será necessária ação concertada ao logo de vários anos. Ninguém deve crer que a coisa já acabou”, afirmou.