metropoles.com

Entenda por que Putin usa neonazismo para justificar ataque à Ucrânia

Presidente russo instrumentaliza a existência de grupos de extrema direita na Ucrânia, mas analistas veem desculpa para derrubada de regime

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Alexei NikolskyTASS via Getty Images
Putin em Moscou
1 de 1 Putin em Moscou - Foto: Alexei NikolskyTASS via Getty Images

País independente desde 1991, quando a União Soviética se desfez, a Ucrânia convive em sua formação política com a existência de grupos ultranacionalistas, que chegam a ostentar símbolos abertamente nazistas, como a suástica hitlerista. Alguns, inclusive, têm ligações com o governo em algum grau.

Esses grupos, porém, não representam uma porção numerosa da sociedade nem ocupam posições de poder político. Ainda assim, o presidente russo, Vladimir Putin, tem insistido que a ofensiva militar que lançou contra a Ucrânia tem, como um dos principais objetivos, “desnazificar” o país vizinho.

Na última semana, ao apelar para que os militares ucranianos tomassem o poder e derrubassem Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, Putin disparou: “Será mais fácil chegar a um acordo com vocês do que com o bando de drogados e neonazistas que estão sentados em Kiev”. Veja a retórica do líder russo:

16 imagens
Tanques militares russos e veículos blindados avançam em Donetsk, Ucrânia
Uma coluna de veículos blindados passa por um posto policial na cidade de Armyansk, norte da Crimeia. No início do dia 24 de fevereiro, o presidente Putin anunciou uma operação militar especial a ser conduzida pelas Forças Armadas russas em resposta aos pedidos de ajuda dos líderes das Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk
Engarrafamento em Kiev: moradores tentam deixar a capital após o ataque
BRUXELAS, ÉLGIUM - 24 DE FEVEREIRO: O secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, faz uma declaração sobre a operação militar da Rússia na Ucrânia, na sede da OTAN em Bruxelas, Bélgica, em 24 de fevereiro de 2022
Diante do ataque russo, cidadãos ucranianos deixaram as suas casas, localizadas em zonas de conflito, e recorreram aos trens
1 de 16

Ataque com mísseis

Pierre Crom/Getty Images
2 de 16

Tanques militares russos e veículos blindados avançam em Donetsk, Ucrânia

Stringer/Agência Anadolu via Getty Images
3 de 16

Uma coluna de veículos blindados passa por um posto policial na cidade de Armyansk, norte da Crimeia. No início do dia 24 de fevereiro, o presidente Putin anunciou uma operação militar especial a ser conduzida pelas Forças Armadas russas em resposta aos pedidos de ajuda dos líderes das Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk

Sergei MalgavkoTASS via Getty Images
4 de 16

Engarrafamento em Kiev: moradores tentam deixar a capital após o ataque

Pierre Crom/Getty Images
5 de 16

BRUXELAS, ÉLGIUM - 24 DE FEVEREIRO: O secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, faz uma declaração sobre a operação militar da Rússia na Ucrânia, na sede da OTAN em Bruxelas, Bélgica, em 24 de fevereiro de 2022

Dursun Aydemir/Agência Anadolu via Getty Images
6 de 16

Diante do ataque russo, cidadãos ucranianos deixaram as suas casas, localizadas em zonas de conflito, e recorreram aos trens

Omar Marques/Getty Images
7 de 16

24 de fevereiro de 2022, Renânia-Palatinado, Ramstein-Miesenbach: aviões da Força Aérea dos EUA estão na pista da Base Aérea de Ramstein. As tropas russas começaram seu ataque à Ucrânia

Oliver Dietze/picture Alliance via Getty Images
8 de 16

Tanques das forças ucranianas se movem após a operação militar da Rússia

Wolfgang Schwan/Anadolu Agency via Getty Images
9 de 16

Um oficial do Serviço de Proteção Russo em frente ao Kremlin, na Praça Vermelha, no dia 24 de fevereiro de 2022, em Moscou, Rússia. Tropas russas lançaram seu ataque antecipado na Ucrânia na quinta-feira

Mikhail Svetlov/Getty Images
10 de 16

CRIMEIA, RÚSSIA - 24 DE FEVEREIRO DE 2022: um veículo blindado atravessa a cidade de Armyansk, norte da Crimeia. No início de 24 de fevereiro, o presidente Putin anunciou uma operação militar especial a ser conduzida pelas Forças Armadas russas, em resposta aos pedidos de ajuda dos líderes das Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk

Sergei MalgavkoTASS via Getty Images
11 de 16

Habitantes de Kiev deixaram a cidade após ataques de mísseis pré-ofensivos das forças armadas russas e da Bielorrússia

Pierre Crom/Getty Images
12 de 16

Ao redor do mundo, várias pessoas se manifestam contra o ataque russo à Ucrânia. "Pare a guerra", escreveu mulher em cartaz durante manifestação em frente ao Portão de Brandemburgo, na Alemanha

Kay Nietfeld/picture aliança via Getty Images
13 de 16

Embaixada da Ucrânia em Brasília

Rafaela Felicciano/Metrópoles
14 de 16

Segurança local é reforçada na Embaixada da Ucrânia em Brasília

Rafaela Felicciano/Metrópoles
15 de 16

Embaixada da Rússia em Brasília

Rafaela Felicciano/Metrópoles
16 de 16

Encarregado de negócios da Embaixada da Ucrânia em Brasília, Anatoliy Tkach fala com a imprensa após ataque da Rússia

Rafaela Felicciano/Metrópoles

Opositores de Putin e especialistas em política externa que acompanham o desenrolar do conflito, avaliam, porém, ser improvável que o líder russo acredite que o fascismo tenha tanta força assim no país vizinho. Putin, no entanto, usa esse discurso como propaganda para tornar a guerra mais palatável, inclusive em casa, já que milhares de russos têm desafiado as proibições e se manifestado contra a invasão em dezenas de cidades.

O chefe de Estado da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, é um raro presidente judeu na Europa. Ele não perde a chance de contar como membros de sua família lutaram contra as forças de Adolf Hitler (e vários não sobreviveram). Zelensky usa sua história para combater as acusações de que seu governo seria, na prática, de tendências neonazistas.

A versão defendida por Putin, entretanto, ecoa entre ativistas mundo afora, inclusive no Brasil. O historiador, youtuber e militante comunista Jones Manoel, por exemplo, tem usado suas redes sociais para dizer que a administração atual, que chegou ao poder após uma série de protestos entre 2013 e 2014, contra a influência política russa sobre o governo, é “neofascista”.

Para ele, que é militante do PCdoB, os protestos começaram de maneira espontânea, mas foram “rapidamente apropriados por grupos neonazistas”. “Nos protestos de 2013-2014, era possível ver vários símbolos nazistas, fotos de Stepan Bandera e símbolos dos grupos colaboracionistas ucranianos que apoiaram a invasão de Hitler”, publicou Manoel no Twitter, sem dizer diretamente como um presidente judeu se encaixa nesse discurso.

Stepan Andriyovych Bandera, morto em 1959, no que se desconfia ter sido um atentado da inteligência russa, foi um líder nacionalista que é tido como herói na Ucrânia, mas, segundo o governo russo e investigações feitas pelo Estado norte-americano, teve ligações com os nazistas aliados de Hitler que invadiram o país na Segunda Guerra Mundial.

Militantes políticos que admiram Bandera são a base de movimentos nacionalistas que têm alas extremistas, como o Pravyi Sektor (Setor Direito) ou o batalhão Azov. Esse último grupo tem raízes inegavelmente neonazistas e ganhou espaço nas forças armadas regulares da Ucrânia em 2014, justamente por ter tido papel importante na luta contra forças separatistas pró-Rússia.

15 imagens
Pertencente a uma família de operários, Vladimir cresceu em uma periferia russa, em São Petersburgo, e sonhava ser espião
Formou-se em direito e, em seguida, entrou para o serviço secreto russo, a KGB, em 1975
Tempos depois, iniciou vida política como vice-prefeito de São Petersburgo. Em 1999, tornou-se primeiro-ministro e, no ano seguinte, após a renúncia do então presidente, Boris Yeltsin, foi eleito presidente da Rússia
Pouco depois de assumir a presidência, liderou com êxito tropas russas ao ataque à Chechênia, durante a 2ª Guerra da Chechênia, o que o fez crescer em popularidade
Em 2004, Putin foi reeleito e, em seguida, assinou o protocolo de Kyoto, documento que o tornou responsável por reduzir gases-estufa liberados pela Rússia
1 de 15

Vladimir Vladimirovitch Putin é o atual presidente da Rússia. No poder há 20 anos, desde a renúncia de Boris Yeltsin, Putin é conhecido por apoiar ditadores e declarar oposição ferrenha aos Estados Unidos

Sergei Guneyev /Getty Images
2 de 15

Pertencente a uma família de operários, Vladimir cresceu em uma periferia russa, em São Petersburgo, e sonhava ser espião

Mikhail Svetlov /Getty Images
3 de 15

Formou-se em direito e, em seguida, entrou para o serviço secreto russo, a KGB, em 1975

Alexei Nikolsky /Getty Images
4 de 15

Tempos depois, iniciou vida política como vice-prefeito de São Petersburgo. Em 1999, tornou-se primeiro-ministro e, no ano seguinte, após a renúncia do então presidente, Boris Yeltsin, foi eleito presidente da Rússia

Carl Court /Getty Images
5 de 15

Pouco depois de assumir a presidência, liderou com êxito tropas russas ao ataque à Chechênia, durante a 2ª Guerra da Chechênia, o que o fez crescer em popularidade

Sergei Karpukhin /Getty Images
6 de 15

Em 2004, Putin foi reeleito e, em seguida, assinou o protocolo de Kyoto, documento que o tornou responsável por reduzir gases-estufa liberados pela Rússia

Alexei Nikolsky v
7 de 15

Seguindo a Constituição russa, que o impedia de exercer mais de dois mandatos consecutivos, o ex-KGB apoiou o seu primeiro-ministro, Dmitri Medvedev, nas eleições que o sucederiam

Mikhail Klimentyev /Getty Images
8 de 15

Em 2012, no entanto, voltou a ser eleito para novo mandato de seis anos, mesmo com forte oposição

Matthew Stockman /Getty Images
9 de 15

O líder russo Vladimir Putin diz que não irá recuar e desafia a comunidade internacional

Alexei Nikolsky /Getty Images
10 de 15

No ano seguinte, apoiou a guerra que aconteceu na Síria e enviou militares para ajudar o regime do presidente sírio, Bashar Al Assad

Mikhail Svetlov/Getty Images
11 de 15

Apesar de toda desaprovação mundial diante de atos de guerra, Putin conseguiu se eleger em 2018 para mais seis anos, com vantagem expressiva em relação aos adversários

Mikhail Svetlov /Getty Images
12 de 15

Devido à lei que sancionou em 2021, Putin poderá concorrer nas duas próximas eleições e, se eleito, ficar no poder até 2036

Mikhail Svetlov /Getty Images
13 de 15

Recentemente, após exigir que o Ocidente garantisse que a Ucrânia, que faz fronteira com território russo, não se juntaria à Otan, reformou a inimizade entre os países

Vyacheslav Prokofyev /Getty Images
14 de 15

O conflito, que acendeu alerta mundial, ganhou novos capítulos após Putin ordenar, no dia 25 de fevereiro de 2022, que tropas invadissem a Ucrânia utilizando armamento militar

Anadolu Agency /Getty Images
15 de 15

Apesar dos avisos de sanções por parte de outras nações, o presidente russo prosseguiu com a intentada e deu início à guerra

picture alliance /Getty Images

Ucrânia responde na mesma moeda

A carta de “chamar de nazista” também está sendo usada pelo lado oposto no conflito. Ao ser invadida, a Ucrânia respondeu militarmente, mas também com propaganda. Nas redes sociais, o governo ucraniano postou um meme que retrata um Putin diminuto, sendo controlado por Hitler. Nas respostas, ucranianos e outros opositores a Putin o chamaram de “Putler” e lembraram que a Rússia também convive com grupos e milícias ultranacionalistas que podem ser apontados como militantes de extrema direita, como um grupo de motociclistas chamado, em russo, de “Lobos da Noite”. Veja:

Quando a capital ucraniana, Kiev, começou a ser bombardeada, na quinta-feira (25/2), autoridades do país chamaram a ofensiva de “o pior ataque desde a ofensiva nazista de 1941”.

Críticas

“A Ucrânia não é controlada por nazistas ou fascistas, apesar do crescimento de grupos ultranacionalistas e fascistas nos últimos anos – um problema global não específico da Ucrânia”, disse à BBC a historiadora Amy Randall, da Santa Clara University, na Califórnia, especialista em Rússia. “Essa referência a nazistas e neonazistas se tornou muito proeminente na mídia russa por volta de dezembro de 2013”, adicionou, ao mesmo veículo, Brian Taylor, professor de Ciência Política da Syracuse University e autor de livros sobre Putin.

“Há um segmento da população ucraniana que relembra aquelas tentativas de alcançar a independência ucraniana sob Stalin, aliando-se a Hitler, não como uma colaboração com o nazi-fascismo, mas como a atuação de patriotas ucranianos e heróis nacionais”, completou Taylor.

Apesar dessa influência, os grupos de extrema direita jamais conseguiram cadeiras no Poder Legislativo do país, tampouco cargos no Executivo.

Para os analistas, portanto, as acusações dos dois lados são parte da propaganda, que é um dos fronts mais importantes de uma guerra. O cientista político holandês Cas Mudde, um dos mais importantes pesquisadores do extremismo político e do populismo na Europa e nos Estados Unidos, tem comentado a guerra Rússia-Ucrânia em suas redes sociais e, no último dia 23 de fevereiro, fez uma postagem dizendo que “a Rússia não é fascista e a Ucrânia não é neonazista. É perfeitamente possível haver conflitos entre dois países e nenhum deles ser nazista”. Veja:

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?