Entenda por que as enchentes na Espanha foram tão devastadoras
Enchentes foram causadas por fenômeno meteorológico e agravadas por ações humanas. Pelo menos 205 pessoas morreram na tragédia
atualizado
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Até a manhã de sexta-feira (1º/11), a Espanha havia confirmado 205 mortes causadas pelas enchentes que assolam o país desde terça-feira (29/10). A tragédia, classificada como a pior do século na região, tem ligação direta com as mudanças climáticas.
As enchentes foram causadas por um fenômeno meteorológico conhecido localmente como Depressão Isolada de Alta Altitude (Dana) — a interação entre massas de ar frio e quente sobre as águas quentes do Mediterrâneo —, que, apesar de serem comuns naquele local, estão cada vez mais intensas.
As vítimas estão concentradas em Valência, uma das regiões mais afetadas pela tragédia — apenas na cidade espanhola são 202 mortos confirmados. As outras três vítimas são dos estados vizinhos de Castilla-La Mancha e Andaluzia.
Estragos
A Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) divulgou imagens de satélite do desastre.
Veja abaixo registros de 8 de outubro em comparação com o dia 30 do mesmo mês, após as fortes tempestades:
Segundo a Agência Meteorológica da Espanha (Aemet), Valência recebeu, em apenas algumas horas, mais chuva do que nos dois anos anteriores.
Em termos de comparação, o número de mortes causadas pela enchente no país europeu supera o de vítimas da tragédia do Rio Grande do Sul, quando 183 pessoas morreram após o aumento do nível dos rios que banham o estado brasileiro. As chuvas no Rio Grande do Sul duraram cerca de 30 dias. Na Espanha, choveu durante apenas 8 horas.
A inundação foi agravada pela alta densidade populacional na área metropolitana de Valência, que abriga 1,87 milhão de pessoas. Uma dessas regiões foi Paiporta, ao sul de Valência — pelo menos 62 pessoas morreram no local —, quase um terço do total de vítimas.
Outro agravante foi o momento em que as chuvas começaram: no fim da tarde de terça-feira (29/10), quando muitas pessoas estavam fora de casa. Muitas mortes ocorreram em carros ou quando as vítimas tentaram procurar abrigo.
Há, ainda, relatos de que as autoridades não avisaram as pessoas a tempo. “Não houve nenhum aviso”, queixou-se a prefeita de Paipora, Maribel Albalat.
A Aemet informou que emitiu um alerta vermelho de tempestade na manhã daquele dia. Entretanto, a proteção civil só enviou o aviso à população às 20h15, quando as inundações tinham causado estragos enormes.
Estradas e plantações destruídas
O processo de levantamento e identificação das vítimas continua, de acordo com o governo. Por isso, o número de mortos pode aumentar. O número total de desaparecidos ainda é desconhecido.
Cerca de 1,7 mil militares atuam em busca de pessoas entre os destroços, tarefas de limpeza ou distribuição de ajuda básica. “Todos unidos para ajudar onde for necessário pelo tempo que for preciso”, escreveu o Ministério de Defesa espanhol.
De acordo com o Centro de Coordenação de Emergência de Valência, 447 pessoas seguem em abrigos. Além disso, 150 estradas continuam bloqueadas, a maior parte delas da rede secundária. O governo anunciou ainda que 6,2 mil hectares de plantações foram afetadas e que pelo menos 20 municípios tiveram as aulas canceladas na próxima semana.
Além disso, na sexta-feira, a Polícia Nacional prendeu cinco pessoas que estariam saqueando uma loja de joias em um shopping em Aldaia, na região metropolitana de Valência.