metropoles.com

Entenda os motivos da revolta contra os Estados Unidos no Iraque

Já complicadas, as relações entre Iraque, Irã e EUA agora estão bem mais tensas; saiba o que está em jogo

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
KHALID MOHAMMED/ASSOCIATED PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
ataque embaixada EUA
1 de 1 ataque embaixada EUA - Foto: KHALID MOHAMMED/ASSOCIATED PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Há meses, protestos furiosos vêm tomando conta do Iraque, motivados pela frustração com uma economia disfuncional, a corrupção e a influência generalizada do Irã. E então um ataque com foguetes matou um empreiteiro americano a serviço dos Estados Unidos.

Ataques aéreos lançados pelos americanos atingiram uma milícia iraquiana apoiada pelos iranianos e a ira deles voltou-se contra os Estados Unidos, culminando com uma invasão da área onde fica o prédio da embaixada americana em Bagdá, na última terça-feira (31/12/2019).

Os ataques aéreos e a invasão da embaixada constituem a pior crise enfrentada pelos Estados Unidos no Iraque depois de anos e que acabou enredando o país nos voláteis problemas internos envolvendo o Iraque e o vizinho Irã.

Já complicadas, as relações entre Iraque, Irã e Estados Unidos agora estão bem mais tensas.

O que ocorreu nestes últimos dias?
No dia 27 do mês passado, mais de 30 foguetes foram lançados contra uma base militar iraquiana perto de Kirkuk, ao norte do Iraque, matando um empreiteiro a serviço dos Estados Unidos e ferindo quatro americanos e dois soldados iraquianos.

Os Estados Unidos acusaram a milícia Kataib Hezbollah, financiada pelo Irã, de perpetrar o ataque. Um porta-voz da milícia negou envolvimento do grupo. O presidente Donald Trump responsabilizou o Irã pelo ataque e, no Twitter, disse que “o Irã matou um empreiteiro americano e feriu muitos”.

O Exército americano lançou ataques aéreos contra a milícia durante o fim de semana, matando 25 membros do grupo, no que o secretário de Estado Mike Pompeo qualificou como “uma resposta decisiva”. Ele disse que os Estados Unidos “não vão tolerar que a República Islâmica do Irã perpetre ações que colocam homens e mulheres americanos em risco”.

Estados Unidos e Irã estão em rota de colisão há anos — por causa da influência iraniana no Iraque, o programa nuclear do país e outros assuntos — e as tensões se intensificaram durante o governo de Donald Trump, que se retirou do acordo nuclear firmado em 2015 e impôs sanções devastadoras contra Teerã.

Mas os ataques aéreos ocorrem num momento particularmente explosivo no Iraque, onde a ira contra a intromissão estrangeira já era intensa. O principal clérigo xiita do país, o Grande Aiatolá al-Husseini al-Sistani, advertiu que o Iraque não deve se tornar “um campo para acertos de contas internacionais”, e o primeiro ministro Adel Abdul-Mahdi qualificou os ataques aéreos de violação da soberania iraquiana.

Na terça-feira, manifestantes invadiram área da embaixada dos Estados Unidos em Bagdá. Não entraram no edifício, mas a eles acabaram se juntando milhares de outros manifestantes — muitos deles membros de grupos de combate tecnicamente vigiados pelo Exército iraquiano, entoando o slogan “Morte à América”.

Trump acusou o Irã de “orquestrar” a invasão, acrescentando que “eles serão totalmente responsabilizados”.

Muitos dos manifestantes que invadiram a área da embaixada são membros do Kataib Hezbollah e outras milícias apoiadas pelo Irã. Embora o Irã tenha uma forte influência no Iraque, ele também tem sido alvo da ira popular e por vezes da violência por parte dos manifestantes iraquianos.

Por que o Iraque está tão volátil recentemente?
Os enormes e às vezes violentos protestos irromperam no Iraque a partir de outubro, quando a população, enfurecida com o desemprego no país, a corrupção e os serviços públicos caóticos foi para as ruas. Durante 12 semanas, o governo buscou uma solução prometendo reformas, mas ao mesmo tempo reprimindo com força as manifestações.

Mais de 500 pessoas foram mortas e 19 mil ficaram feridas nas revoltas, segundo o enviado especial das Nações Unidas. A violenta resposta do governo só intensificou a determinação dos manifestantes e os protestos aos poucos se expandiram para incluir queixas sobre a influência generalizada no Irã dentro do governo iraquiano.

Muitos manifestantes ligam a influência iraniana à corrupção dentro do governo e entre as milícias xiitas. Em novembro, os manifestantes atearam fogo no consulado iraniano em Najaf, cidade que fica ao sul do país, e durante semanas acamparam na frente da fortemente protegida Zona Verde de Bagdá, que abriga o Parlamento e o gabinete do primeiro ministro. No fim do mês, Abdul-Mahdi anunciou que renunciaria ao cargo. Desde então, o governo iraquiano está no limbo, incapaz de escolher o sucessor.

Como o Irã está envolvido nas milícias do Iraque?
Depois de anos competindo com os Estados Unidos pela influência sobre o Iraque, o Irã se tornou uma força agressiva e poderosa na vida iraquiana. O Irã tem uma influência poderosa no governo, nos negócios e na religião iraquianos.

Partidos ligados aos iranianos se tornaram uma força importante no Parlamento, especialmente a partir da saída do Exército americano do país em 2009. E quando o Estado Islâmico invadiu o Iraque em 2014, o Irã ajudou as milícias xiitas a combaterem o grupo, o que deu a Teerã poder de intervir na segurança do Iraque.

Quando as milícias e os Estados Unidos — na verdade combatendo do mesmo lado — expulsaram o Estado Islâmico do território que o grupo controlava dentro do Iraque, as milícias ficaram mais influentes. E controlam facções poderosas no Parlamento e no Exército, embora algumas tenham se tornado grupos mafiosos que usam a extorsão dos iraquianos para se beneficiarem financeiramente.

Algumas milícias atacaram também bases americanas onde americanos estão estacionados. O clérigo populista Muqtaba al-Sadr, que tem defendido a saída de Estados Unidos e Irã do Iraque, insistiu para essas milícias pararem com “ações irresponsáveis”.

O Kataib Hezzbollah, grupo acusado pelo ataque com foguetes na sexta-feira, tem vínculos estreitos com o Irã, mas para muitos iraquianos é a principal força iraquiana. É um movimento separado do Hezbollah do Líbano, apesar de os dois grupos serem financiados pelo Irã e se oporem aos Estados Unidos. O Departamento de Estado qualifica os dois grupos como organizações terroristas.

O Kataib Hezbollah prometeu uma “retaliação” pelos ataques aéreos, mas sem dar mais detalhes. O ministério do Exterior do Iraque declarou que os Estados Unidos “devem assumir total responsabilidade pelas consequências desta ação ilegal”.

E quanto à presença dos Estados Unidos no Iraque?
Os Estados Unidos têm 5,2 mil soldados no Iraque e um número variável de empreiteiros a serviço do governo americano. Grande parte dos soldados está estacionada na base a noroeste de Bagdá e em outra base ao norte, região controlada pelos curdos.

A área da embaixada em Bagdá, que foi aberta em 2009, com 42 hectares de terreno, é quase tão grande quanto a Cidade do Vaticano. A embaixada e o consulado americano em Irbil, ao norte do Iraque, têm no total 486 funcionários, a maioria baseada em Bagdá.

Após a invasão na terça-feira, o Pentágono enviou mais 120 para Bagdá. No fim do mesmo dia, o secretário da Defesa Mark Esper anunciou que 750 soldados seriam mobilizados para a região.

A presença americana no Iraque diminuiu drasticamente a partir do seu auge, durante e imediatamente após a Guerra do Iraque. Havia 16 mil pessoas trabalhando no complexo da embaixada em 2012 e 170 mil soldados no Iraque em 2007. Em meio à crescente tensão com o Irã este ano, o Departamento de Estado ordenou a alguns diplomatas para deixarem a embaixada.

O que vem ocorrendo no Irã?
Além da agitação regional, o Irã também vem enfrentando os piores tumultos em décadas. Os protestos no país começaram em novembro após um repentino aumento dos preços da gasolina e se transformaram depois em manifestações contra os líderes do governo iraniano e a maneira como vêm fazendo frente às sanções americanas, uma economia cambaleante e a ira dos vizinhos no Iraque e no Líbano.

Milhares de pessoas participaram das manifestações de protesto, muitas de cidades com grande população de baixa renda e operária, mas as forças de segurança iranianas esmagaram os protestos matando até 450 pessoas, segundo grupos de direitos humanos. O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, justificou a dura repressão afirmando que se tratava de um complô coordenado por inimigos do Irã, dentro e fora do país.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?