Entenda o conflito que pode levar Rússia e Ucrânia a uma nova guerra
Governo de Vladimir Putin deslocou 100 mil soldados para a fronteira com a Ucrânia e está prestes a iniciar conflito com impacto global
atualizado
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A disputa das potências mundiais por influência geopolítica e econômica está prestes a descambar em um conflito militar com potencial para impactar economicamente o mundo inteiro. Reagindo a pressões da Europa ocidental e dos Estados Unidos, a Rússia está se preparando há semanas para invadir a vizinha Ucrânia e a decisão de fazer isso já teria sido tomada pelo presidente Vladimir Putin. Essa iminente guerra é motivada por tensões contemporâneas, mas também é explicada por um contexto histórico que remonta ao século 19 e até mesmo a Napoleão Bonaparte.
A Ucrânia está localizada entre a porção oriental da Europa e a Rússia e tem sido uma espécie de zona de segurança ou grande muro usado pelos russos para resistir a investidas militares. Por isso, os russos consideram fundamental manter grande influência sobre o país vizinho e evitar avanços de possíveis adversários nesse território.
Foi uma aproximação dos ucranianos com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliança de 30 países liderada pelos Estados Unidos, que ligou o sinal de alerta em Moscou dessa vez, desencadeando a reação militar.
Uma Ucrânia aliada à Rússia deixa possíveis inimigos vindos da Europa a mais de 1,5 mil km de Moscou. Uma Ucrânia adversária dos russos diminui a distância para pouco mais de 600 km. E essa proteção tem sido fundamental há centenas de anos. Em 1812, por exemplo, as tropas francesas, sob o comando de Napoleão, invadiram a Rússia, mas o longo percurso pelo território ucraniano acabou enfraquecendo o então exército mais poderoso do mundo e ajudando a encerrar a hegemonia francesa na Europa.
Rotinas parecidas se repetiram na Primeira e na Segunda Guerras Mundiais e o “muro” ucraniano foi determinante para proteger Moscou ao longo da existência da União Soviética (1922 a 1991).
Fase contemporânea do conflito
Para o governo ucraniano, liderado por Volodymyr Zelensky, o conflito iminente é uma espécie de continuação da invasão russa à península da Criméia, que ocorreu em 2014 e causou mais de 10 mil mortes. Na época, Moscou aproveitou uma crise política no país vizinho e a forte presença de russos nessa rica região para incorporá-la a seu território.
Desde então, os ucranianos acusam os russos de usar táticas de guerra híbrida (sem necessariamente incluir ação militar direta) para desestabilizar constantemente o país. Essas táticas incluiriam ataques cibernéticos constantes à infraestrutura ucraniana. Em janeiro deste ano, por exemplo, sites do governo da Ucrânia foram tirados do ar por vários dias e o governo local logo culpou a Rússia, que negou – oficialmente – qualquer agressão.
O que está em jogo
Analistas mundo afora têm avaliado que a agressividade russa é também uma tentativa de reposicionamento dos poderes geopolíticos globais. Putin estaria avaliando que os Estados Unidos vivem uma crise que levará à decadência de sua influência global e quer ocupar o espaço que está se abrindo.
Dá força a essa visão a recente aproximação entre a Rússia e a China comunista, que apoia explicitamente a demanda russa de evitar qualquer acordo entre Ucrânia e Otan. Este mês, Putin se reuniu com o presidente chinês, Xi Jinping, quando foi para a abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno, em Pequim, e os dois combinaram uma “aliança sem limites” contra o assédio ocidental.
A guerra iminente teria como afetados diretos (depois dos envolvidos), os países da Europa Ocidental, que temem, por exemplo, a interrupção do fornecimento de gás natural que é fundamental para gigantes como a Alemanha. A preocupação motivou a viagem às pressas do presidente francês Emmanuel Macron à região no início dessa semana.
Os esforços diplomáticos de Macron para evitar o conflito, porém, não parecem ser suficientes e os países ocidentais estão se organizando para reagir, sob a liderança dos Estados Unidos, com uma grande ofensiva comercial para punir a Rússia com sanções se a invasão se concretizar.
Efeitos até no Brasil
Essas sanções, porém, não devem doer apenas nos russos se o conflito se iniciar, mas pressionar as economias do mundo inteiro. Distante mais de 15 mil km da Rússia, o Brasil, por exemplo, não tem laços econômicos tão relevantes com os dois países envolvidos, mas também seria afetado pela provável disparada no preço do petróleo que é esperada pelos analistas. Esse aumento pode jogar por terra os esforços que políticos têm feito em Brasília para tentar reduzir o valor dos combustíveis por aqui.
Nesse tenso cenário, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL) está de viagem marcada para Moscou na próxima semana, mas não deve embarcar com pretensões de influenciar no conflito.
As preocupações de Bolsonaro no exterior são, paradoxalmente, internas. Com a viagem, que também inclui a Hungria no roteiro, o brasileiro tenta mostrar a militantes e aliados que não está tão isolado diplomaticamente no mundo, como acusam seus adversários.
O governo brasileiro ainda não tornou públicas preocupações com o iminente conflito e nem indicou a possibilidade de desistência.