Mortes no Líbano: entenda explosões de pagers que miraram o Hezbollah
Milhares de pagers usados por membros do Hezbollah explodiram no Líbano, de forma simultânea, ferindo mais de 4 mil pessoas e matando 11
atualizado
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O grupo militar armado Hezbollah enfrentou um ataque pouco comum e viu uma ação coordenada provocar a explosão de diversos pagers no Líbano. A ação, na terça-feira (17/9), feriu mais de 4 mil pessoas e deixou outras 11 mortas, entre elas uma criança de 8 anos. Ainda não ficou claro o mecanismo usado para fazer os equipamentos explodirem.
O grupo libanês acusou Israel de estar por trás da ofensiva e prometeu resposta ao ataque. Desde o início da guerra na Faixa de Gaza, a tensão entre o país judeu e seus adversários árabes aumentou, assim como o risco de mais conflito na região.
“O Hezbollah definitivamente vai retaliar em grande escala. Como? Onde? Não sei”, declarou o ministro das Relações Exteriores do Líbano, Abdallah Bou Habib.
Até o momento, o governo de Benjamin Netanyahu não se pronunciou sobre o caso, ainda cercado de mistérios. No entanto, um dia antes, o premiê israelense sinalizou que as forças do país intensificariam as operações no Líbano, visando garantir a segurança de moradores da região norte de Israel.
Pagers viram armas
Ainda não está claro o que provocou a explosão, simultânea, de milhares de pagers utilizados por membros do Hezbollah no Líbano.
Imagens analisadas pelo Metrópoles após o ataque indicam que ao menos um modelo dos dispositivos que explodiram possui características semelhantes a de pagers fabricados pela empresa Gold Apollo, registrada em Taiwan.
Por medidas de segurança, o Hezbollah passou a recomendar que seus afiliados substituíssem a comunicação via smartphones pelos pagers. O argumento foi de que os aparelhos correm menos riscos de serem alvos de ataques cibernéticos, por conta da pouca conexão que possuem.
Diferentemente de celulares modernos, os pagers funcionam por meio de mensagens curtas, transmitidas após o remetente narrar o recado à um centro de comunicação, que o envia para o destinatário.
Ao Metrópoles fontes no Líbano afirmaram o uso dos dispositivos no país é feito, quase exclusivamente, por membros do Hezbollah, além de alguns centros médicos.
O que pode ter acontecido?
Apesar de o Hezbollah não ter tornado pública as investigações sobre o caso, fontes anônimas ligadas ao grupo deram maiores detalhes sobre as explosões para a mídia árabe.
O ataque não teria origem apenas cibernética e pode ter contado com um trabalho de sabotagem anterior dos aparelhos, que teriam explodido após o superaquecimento das baterias de lítio.
Em alguns casos, o aumento de temperatura chegou a ser sentido por vítimas do ataque, dizem relatos. Ao jornal Sky News Arabia, um nome ligado ao Hezbollah afirmou que uma substância explosiva foi implantada pelo Mossad, a agência de espionagem israelense, no interior dos pagers que podem ter sido detonados remotamente.
“O Mossad colocou uma quantidade de PETN altamente explosivo nas baterias dos dispositivos, e os detonou aumentando a temperatura das baterias”, disse uma fonte do grupo libanês ao jornal árabe.
O Tetranitrato de pentaeritrina (PETN) é uma substância altamente explosiva, sensível a choques ou fricção.
Especialistas ouvidos pelo Metrópoles indicam que a versão, ainda não confirmada pelo grupo libanês, é uma das principais hipóteses para explicar o ataque.
“A explosão de pagers no Líbano aparenta ser um ato coordenado com alvos pré-selecionados, apresentando diversas características de um ataque cibernético por sabotagem. Esse tipo de incidente envolve a manipulação maliciosa de hardware controlado por software, resultando em danos físicos, como interrupção de comunicações, falta de energia e até mesmo explosões”, afirma o professor e advogado em Direito Digital Lucas Karam.
Essa versão também foi defendida pelo ex-analista da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos Edward Snowden.
“À medida que chegam informações sobre a explosão dos sinais sonoros no Líbano, parece agora mais provável que se trate de explosivos implantados e não de um hack. Por quê? Muitos ferimentos graves e consistentes. Se fossem baterias superaquecidas explodindo, você esperaria muitos mais pequenos incêndios e falhas de ignição”, escreveu o ex-funcionário da CIA em uma publicação no X, à qual a reportagem teve acesso por meio de grupo do Telegram no exterior.