Entenda a crise que levou presidente do Peru a tentar fechar Congresso
Pedro Castillo, presidente do Peru, foi eleito num contexto de intensa polarização e instabilidade política após o fim do governo Kuczynski
atualizado
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Em novos desdobramentos da crise política peruana, nesta quarta-feira (7/12), o presidente do Peru, Pedro Castillo, anunciou a dissolução do Parlamento do país, convocou novas eleições e decretou estado de emergência e toque de recolher. Apesar da tentativa de golpe, o Congresso ignorou o pronunciamento de Castillo e aprovou seu impeachment.
O anúncio não foi uma surpresa, pois o presidente já vinha flertando com autoritarismo há algum tempo. Durante sua campanha à Presidência da República, Castillo chegou a prometer a desativação do Tribunal Constitucional e afirmou que a Suprema Corte do país defendia a “grande corrupção”. A época, ele ameaçou fechar o Congresso se os parlamentares não aceitassem seus planos.
Apesar de militar pela esquerda, Castillo tem um tom conversador no que tange os costumes. Ele é contra a legalização do aborto e a chamada “ideologia de gênero” na educação. Já eleito, ele declarou não ser comunista, após ser “acusado” por apoiadores da sua rival nas urnas, Keiko Fujimori.
A tentativa de dissolução do parlamento acontece em linha com os processos de impeachment abertos contra ele. A oposição alegava que Castillo era moralmente incapaz de ocupar o cargo de presidente do país.
Castillo ficou conhecido em 2017, após liderar uma greve de professores de quase três meses por aumento dos salários. Em 2021, ele foi eleito, vencendo a candidata de extrema-direita Keiko Fujimori. A diferença de votos entre eles foi de 0,4 ponto percentual.
Devido a margem de votos que levou Castillo à vitória, a candidata derrotada Keiko Fujimori disse que o resultado era “ilegítimo”, mas no final acabou reconhecendo que perdeu a eleição.
Inclusive, a derrota de Keiko se dá por alguns motivos. Ao sobrenome Fujimori – ela é filha do antigo ditador Alberto Fujimori, que governou o país de 1990 a 2000, um período marcado por intensa violência de Estado; ao início da “Onda Rosa” na América Latina”, ou seja, o ressurgimento da esquerda na América Latina e a pauta camponesa.
Vale destacar que Castillo é o primeiro presidente camponês da história do Peru. Ele nasceu na pequena cidade andina de Puña, na província de Chota. Uma características desse povo são os largos chapéus, como usa o atual presidente.
Legislativo
O equilíbrio entre os poderes no Peru é frágil, um dos motivos é a característica unicameral do país, ou seja, em vez de uma Câmara e Senado, o Peru conta apenas com uma Casa Legislativa. Dessa forma, se a Casa decide derrubar um presidente, não há outra que possa equilibrar essa disputa política.
Sem um pêndulo político, antes de Castillo o país já passava por outra crise, dessa vez, pela mão do parlamento. Com o fim do mandato de Pedro Pablo Kuczynski, de 2016 a 2018, o Peru elegeu Martín Vízcarra, que foi derrubado pelo parlamento após dois anos por suspeitas de corrupção. Após isso, Manuel Merino assumiu e ficou no cargo dois meses e caiu pelo mesmo motivo.
Merino foi sucedido por Francisco Sagasti, que entregou o cargo a Castillo após as eleições.