Embate entre Trump e Kamala esquenta em temas como raça e imigração
Após a fala de Trump questionando a identidade racial de Kamala, o tema, que já é divergente entre eles, ganhou destaque
atualizado
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Após o candidato à presidência dos Estados Unidos pelo Partido Republicano, Donald Trump, questionar a identidade racial de Kamala Harris, o tema raça ganhou destaque na campanha. Outro ponto sobre o qual os dois candidatos se distanciam ferrenhamente é na política de imigração que os EUA devem adotar.
“Ela é indiana ou negra? Ela estava promovendo apenas sua origem indiana. Não sabia que ela negra até alguns anos atrás, quando ela virou negra e, agora, quer ser conhecida como uma pessoa negra”, comentou Donald Trump.
Em resposta, Kamala Harris disse que o que Donald Trump falou para a Associação Nacional de Jornalistas Negros: “Foi o mesmo show de sempre. Deixe-me apenas dizer: o povo americano merece algo melhor do que a divisão e o desrespeito de Donald Trump”.
O especialista em política norte-americana Emanuel Assis explica que as falas de Trump “no eleitorado trumpista terão um impacto muito mínimo. Primeiro, porque a base eleitoral do Trump, segundo as pesquisas mostram, é de maioria branca. E, segundo, porque os seus eleitores são muito convictos naquilo que o Trump carrega, na agenda que o Trump apresenta e é uma agenda que se opõe às questões raciais, às questões de gênero, às questões de igualdade social”.
Segundo o especialista, a tudo que é considerado progressista pelo republicano é motivo para se opor.
“Tudo isso que é dito progressista, que eles classificam como progressista, o Trump se opõe, o eleitorado dele é um eleitorado muito convicto dessa agenda, tem uma base ideológica muito enraizada no conservadorismo trumpista”, explica Emanuel.
Fora da base trumpista, Emanuel explica que “para a parcela do eleitorado negro, eu acredito que o impacto também vai ser mínimo. Porque esse eleitorado tem consciência de que o Trump se opõe às questões raciais. E, enfim, a tudo que diz respeito a essa agenda. Mas o voto, acredito eu, do eleitorado negro no Trump, da pequena parcela do eleitorado negro no Trump, ele se dá muito mais por uma questão econômica, de outros fatores que não a racial”.
Diante desse mesmo cenário, o internacionalista destaca que a “última pesquisa mostrou que ela tem em torno de 70% ali do eleitorado negro nacionalmente falando. Então, ela tem uma base eleitoral negra consolidada. Eu acredito que o que ela pode usar no momento como estratégia é, primeiro, motivar a base eleitoral negra que ainda está indecisa se vai votar nessas eleições, se vão as urnas votarem”.
Em termos de estratégias eleitorais nos swing states (estados pêndulos), Emanuel entende que “vai ser mais importante ainda, porque apesar dela ter uma maioria do eleitorado negro nacionalmente falando, nos swing states a população negra está mais dividida, tanto entre ela e entre o Trump, quanto na motivação de votar em si, de irem às urnas. Então ela pode usar isso a seu favor, de tentar mobilizar a população negra dos swing states que forma decisiva. Foi um eleitorado decisivo na eleição do Biden em 2020 e que vai ser, as pesquisas mostram que vai ser uma base eleitoral decisiva nos swing states esse ano também”.
Os chamados “estados pêndulos” são decisivos nas eleições norte-americanas pela característica de oscilarem, a cada eleição, entre preferência maior para um lado ou para o outro: no caso republicano ou democrata.
Política de imigração
A política de imigração nos Estados Unidos é um dos temas que mais polarizam a disputa eleitoral. Enquanto Donald Trump defende que todas as fronteiras dos EUA sejam fechadas e os imigrantes deportados, Kamala defende a inclusão.
Emanuel Assis explica que “Kamala reconhece que esse é um problema a ser solucionado, a política imigratória dos Estados Unidos está em crise e precisa ser repensada. O seu principal desafio seria unir os democratas e uma parcela do Partido Republicano, pelo menos, para ela ter uma maioria confortável para passar essas reformas tanto na Câmara dos Representantes quanto no Senado”.
“Biden tentou fazer isso com a maioria apertadíssima no Senado e uma minoria na Câmara dos Representantes. Ele tentou fazer isso negociando um projeto de reformas na política migratória dos Estados Unidos. Inclusive o projeto é chamado de um projeto bipartidário para a migração. Chegou em um documento, mas por uma agitação trumpista, inclusive dentro do Partido Republicano, esse projeto acabou sendo rejeitado, agora no início do ano. Então, o desafio da Kamala vai ser um desafio de continuar o que o Biden tem feito, que é buscar pontos de convergência entre duas agendas totalmente diferentes no que diz respeito ao tema da imigração e aprovar leis e reformas nesse sentido”, completa o especialista.
O internacionalista explica que a grande diferença entre Donald Trump e Kamala Harris é a forma de lidar com a questão.
“A principal diferença e a principal semelhança da política da Kamala com a do Trump ao mesmo tempo é que, na semelhança, ambos reconhecem o problema e a diferença é que eles enxergam o problema sob óticas diferentes e apresentam soluções diferentes. A Kamala vai no sentido de respeitar os direitos humanos ao propor as reformas e o Trump já ignora totalmente essa agenda, apoiando medidas muito rigorosas e de alguma maneira, indo contra legislações de décadas de proteção ao direito dos imigrantes”, afirma o internacionalista.
Ao explicar a linha política do Trump, o especialista destaca que “ele também reconhece o problema da imigração, só que numa visão conservadora, na visão trumpista, no sentido de que para ele a política imigratória nos Estados Unidos é uma política frouxa, que permite com que criminosos entrem no país sem nenhum tipo de supervisão, de controle das fronteiras. Ele criou essa narrativa desde 2016 e vem mantendo essa mesma narrativa até hoje, mesmo tendo quatro anos para mudar essa política imigratória, ele mantém essa narrativa de que a política nos Estados Unidos para a imigração é uma política frouxa”.
Donald Trump propõe como solução para o problema realizar uma “deportação em massa de imigrantes ilegais, a construção do muro na fronteira, uma vigilância maior, inclusive ele não se opõe a assassinato de imigrantes que estejam tentando passar a fronteira, então é uma política que em vários sentidos, fere os direitos humanos básicos”.