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Em sua última coluna, jornalista saudita alerta para censura da mídia

Autoridades turcas suspeitam que Jamal Khashoggi foi assassinado após entrar no consulado da Arábia Saudita em Istambul

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PETROS GIANNAKOURIS/ASSOCIATED PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Polícia encontra evidências de jornalista foi assassinado dentro de consulado
1 de 1 Polícia encontra evidências de jornalista foi assassinado dentro de consulado - Foto: PETROS GIANNAKOURIS/ASSOCIATED PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

O jornal norte-americano The Washington Post publicou, na noite de quarta-feira (18/10), a última coluna assinada pelo jornalista saudita Jamal Khashoggi, que desapareceu depois entrar no consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia, no dia 2. No texto, ele alerta que governos no Oriente Médio “receberam rédea livre para continuar silenciado a mídia em um ritmo crescente”.

O “Post” publicou a coluna mais de duas semanas depois que Khashoggi foi visto pela última vez e apenas algumas horas depois que o jornal turco Yeni Safak noticiou que o jornalista teria sido torturado e morto dentro do prédio do consulado. Segundo o veículo turco, funcionários sauditas cortaram seus dedos e então o decapitaram, enquanto sua mulher o esperava do lado de fora.

O governo saudita, incluindo o príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman, nega qualquer envolvimento no caso.

Em uma nota escrita antes do texto, a editora da seção de opinião global do “Post”, Karen Attiah, disse que recebeu o texto do tradutor e assistente de Khashoggi um dia depois que ele foi dado como desaparecido.

O jornalista começou a escrever para a seção de opinião do jornal em setembro de 2017, e suas colunas criticavam o príncipe e a direção do governo saudita.

Na coluna, intitulada “O que o mundo árabe mais precisa é liberdade de expressão”, o jornalista relatou a prisão de um escritor proeminente que se posicionou contra o governo da Arábia Saudita e citou o incidente no qual o governo egípcio tomou o controle de um jornal. “Essas ações não provocam mais reação da comunidade internacional. Em vez disso, quando desencadeiam condenações, elas são rapidamente seguidas de silêncio. Como resultado, governos árabes foram liberados para continuar silenciando a mídia em ritmo crescente”, escreveu.

O presidente americano, Donald Trump, havia inicialmente criticado os sauditas pelo desaparecimento, mas recuou. Na quarta-feira, Trump disse que os Estados Unidos querem que a Turquia entregue qualquer gravação em áudio ou vídeo do suposto assassinato de Khashoggi, “caso existam”. Ele recentemente sugeriu que a comunidade internacional chegou a conclusões precipitadas de que a Arábia Saudita estivesse por trás do desaparecimento do jornalista.

Cidadão saudita
Khashoggi era um cidadão saudita que entrou em um exílio auto-imposto nos EUA com a ascensão do príncipe herdeiro. Na coluna, ele também discutiu a prática dos governos do Oriente Médio de bloquear o acesso à internet para controlar rigidamente as informações que seus cidadãos podem ver.

O mundo árabe está enfrentando a própria versão da Cortina de Ferro, imposta não por atores externos, mas por forças domésticas que disputam o poder”, escreveu.

Além disso, Khashoggi elogiou o Washington Post por traduzir muitas de suas publicações do inglês para o árabe e disse ser importante para o Oriente Médio ler sobre a democracia no Ocidente. O jornalista também ressaltou ser fundamental que as vozes árabes tenham uma plataforma através da qual sejam ouvidas.

“Nós sofremos com a pobreza, má administração e educação deficiente. Por meio da criação de um fórum internacional independente, isolado da influência dos governos nacionalistas que espalham propaganda de ódio, as pessoas comuns do mundo árabe seriam capazes de resolver os problemas estruturais que suas sociedades enfrentam.”

O jornal inicialmente suspendeu a publicação da coluna, em meio à esperança do retorno de Khashoggi, disse Attiah. “Agora eu tenho que aceitar: isso não vai acontecer”, escreveu a editora.

Ela terminou sua nota agradecendo Khashoggi pelo seu trabalho. “Esta coluna capta perfeitamente seu compromisso e paixão pela liberdade no mundo árabe. Uma liberdade para a qual ele aparentemente deu sua vida. Sou eternamente grata por ele ter escolhido o ‘Post’ como sua última casa jornalística, há um ano, e ter nos dado a chance de trabalhar juntos.”

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