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Em meio a protestos, Geórgia exclui chance de novas eleições gerais

Um novo pleito é exigido pela presidente Salomé Zourabichvili, que anunciou que se recusaria a entregar o mandato, enquanto novas eleições

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1 de 1 Imagem colorida, bandeira da União Europeia e à frente vários policiais - Metrópoles - Foto: IMAGO/SNA

O governo da Geórgia excluiu neste domingo (1°/12) a possibilidade de realização de novas eleições legislativas, como exige a oposição, apesar da crise política no país do Cáucaso, abalado por três noites consecutivas de manifestações pró União Europeia (UE), dispersadas pela polícia.

A ex-república soviética está em turbulência desde as eleições legislativas de 26 de outubro, vencidas pelo partido governista Sonho Georgiano, mas denunciadas pela oposição como marcadas por irregularidades, que boicotaram o novo Parlamento.

Um novo pleito é exigido pelos partidos da oposição, assim como pela presidente Salomé Zourabichvili, em ruptura com o governo, que anunciou que se recusaria a entregar o mandato no final do ano, enquanto novas eleições legislativas não acontecessem.

“Claro que não”, respondeu o primeiro-ministro Irakli Kobakhidze aos jornalistas que lhe perguntavam se o governo, acusado de uma deriva autoritária pró-Rússia, aceitaria organizar novas eleições.

Os protestos nas ruas, que reuniram milhares de manifestantes durante três noites consecutivas, foram provocadas pela decisão do governo de adiar para 2028 as ambições do país de integrar a União Europeia.

Os protestos em Tiblissi e outras cidades foram reprimidos com jatos de água e gás lacrimogêneo pela polícia, que realizou mais de 150 prisões. Várias dezenas de policiais foram feridos por projéteis e fogos de artifício lançados pelos manifestantes.

“Inaceitável” para a UE

A nova chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, criticou no domingo o uso desproporcional da força pela polícia.

“É claro que o uso da violência contra manifestantes pacíficos não é aceitável e que o governo georgiano deve respeitar a vontade do povo georgiano”, afirmou ela durante uma visita de apoio à Ucrânia, no primeiro dia de seu mandato.

“Votamos para a União Europeia, pela liberdade, pelos direitos humanos. E o que nosso governo está fazendo? O exato oposto”, denunciou no sábado (30), Ani Bakhtouridzé, uma manifestante de 32 anos.

O Ministério do Interior, por sua vez, afirmou no sábado que “as ações de certos indivíduos presentes na manifestação se tornaram violentas pouco depois de seu início” e que a polícia respondeu “conforme a lei”.

Paralelamente às manifestações, centenas de funcionários públicos, incluindo do Ministério das Relações Exteriores, da Defesa e da Educação, bem como juízes, publicaram declarações conjuntas em sinal de protesto. Mais de cem escolas e universidades suspenderam suas atividades.

Cerca de 160 diplomatas georgianos também criticaram a decisão do governo, considerando que ela contrariava a Constituição e levaria “ao isolamento internacional” do país. Muitos embaixadores georgianos renunciaram em sinal de protesto.

A presidente pró-europeia do país, Salomé Zourabichvili, apoia o movimento de protesto, mas tem poderes limitados. Ela garantiu que não deixaria seu cargo como previsto no final de dezembro.

“Enquanto não houver novas eleições e um Parlamento que eleja um novo presidente de acordo com novas regras, meu mandato continuará”, afirmou ela em uma entrevista exclusiva à AFP.

A ex-diplomata francesa, nascida em Paris, anunciou que estabeleceu no sábado um “conselho nacional” composto por partidos da oposição e representantes da sociedade civil.

“Graves irregularidades”

A chefe da diplomacia europeia, que assumiu o cargo neste domingo, declarou que a situação na Geórgia tinha “consequências claras” para as relações com a UE.

Kaja Kallas explicou que “opções” foram propostas aos 27 Estados-membros da UE sobre como reagir, inclusive com a imposição de sanções, e que um acordo sobre o assunto deveria ser alcançado.

O governo georgiano, por sua vez, acusa Bruxelas de “chantagem”, mas ainda garante que pretende integrar a UE até 2030.

Após a votação de outubro, um grupo de observadores eleitorais da Geórgia afirmou ter provas de um sistema complexo de fraude eleitoral em grande escala. Bruxelas exigiu uma investigação sobre o que qualificou como “graves” irregularidades.

O porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Matthew Miller, “condenou o uso excessivo da força contra os georgianos que exercem sua liberdade de manifestação”. “Suspensamos nossa parceria estratégica com a Geórgia”, acrescentou ele.

A França, o Reino Unido, a Ucrânia, a Polônia, a Suécia e a Lituânia também expressaram suas preocupações.

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