Em meio à guerra, como os muçulmanos celebram o Ramadã
Ramadã, mês sagrado dos islâmicos, inicia-se neste domingo (10/3). As negociações para cessar-fogo na Faixa de Gaza seguem sem acordo
atualizado
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As negociações para um cessar-fogo na Faixa de Gaza antes do Ramadã, mês sagrado do islamismo que inicia neste domingo (10/3), ainda não chegaram a um acordo. Apesar disso, o governo de Israel afirma que o acesso à Esplanada das Mesquitas em Jerusalém durante o Ramadã será permitida, mas que na Faixa de Gaza a situação será avaliada a cada semana.
Fazendo uma avaliação histórica, Francirosy Campos, antropóloga da Universidade de São Paulo (USP), afirmou que a a violência durante o mês do Ramadã se tornou comum por parte de Israel. Ainda disse que não existe diferença entre os conflitos passados com o que ocorre hoje em Gaza. “A prática é a mesma: colonizar, dominar, humilhar. Eles buscam atingir os muçulmanos durante o Ramadã. É a forma que encontram para aplicar sua violência”, opinou.
A influenciadora digital Shadia Salamah afirma que Israel sabe como os palestinos ficam vulneráveis no mês do Ramadã e usam isso. Ela afirma que uma das suas principais práticas é o jejum, mas mesmo assim Israel tem o costume de bombardear a Palestina.
Shadia é palestina e mora no Brasil, mas a família paterna ainda vive na Palestina, na cidade de Betunia, perto de Ramallah (um dos grandes centros). Ela e a família ainda conseguem manter contato. Porém, hoje em dia quando a família liga para dar notícias o pensamento é “seja o que Deus quiser” e ela e a família só conseguem ficar em paz quando os familiares na Palestina ainda puxam assunto.
Em meio aos conflitos, a agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos (Unrwa) informou que “a situação é terrível e está piorando a cada minuto”. Mais de 30 mil pessoas já foram mortas nos intensos bombardeios desde outubro.
Com a fome, a influenciadora diz que os mulçumanos em Gaza já estão fazendo o jejum, mas de forma involuntária, por escassez de comida. “Com Israel barrando a ajuda humanitária, os palestinos estão morrendo de desnutrição e o jejum já está sendo feito”.
O que é o Ramadã?
O Ramadã corresponde ao nono mês do calendário lunar islâmico – em que o Alcorão, o livro sagrado da religião islâmica, teria sido revelado ao Profeta Muhammad. Neste ano, o período tem início previsto para 10 de março e término em 8 de abril.
Segundo Ali Zoghbi, vice-presidente da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil, FAMBRAS, por se tratar de um período de purificação, aprofundamento espiritual e maior convívio com familiares e a comunidade, o Ramadã é muito aguardado pelos mulçumanos.
A prática mais conhecida é o jejum absoluto de alimentos e líquidos, incluindo água. Mas, também são praticadas atitudes positivas em relação ao ser humano, ou seja, ser mais solidário, e é extremamente recomendado que se leia o Alcorão.
O jejum passa a ser obrigatório para os muçulmanos na fase da puberdade, em que eles já têm o discernimento do certo e errado. Entretanto, as próprias crianças costumam a fazer um jejum de meio período para se sentirem parte da celebração.
O final do Ramadã é marcado pela maior festividade do calendário muçulmano, a Eid al-Fitr. Na quebra final do jejum, os muçulmanos vestem suas melhores roupas, enfeitam suas casas e oferecem alimentos a outros membros da comunidade.
“Para nós, muçulmanos, mesmo com as abstenções, é um período marcado por muita alegria. Por isso, desejo que, em cada canto do planeta, essa alegria reverbere, e que as bênçãos obtidas por meio do jejum e das orações se espalhem por todos, de qualquer nação ou religião. O Islã é uma religião de paz e, esse pedido, com toda certeza, será parte de nossas súplicas”, diz Ali Zoghbi.
@shadiaasalamah Respondendo a @périco ♬ som original – Shadia Salamah
A celebração no Brasil
Segundo a Federação das Associações Muçulmanas do Brasil, existem duas milhões de pessoas adeptas ao islamismo no Brasil e aproximadamente um milhão delas praticam o Ramadã.
A FAMBRAS tem um trabalho intensivo durante o período do Ramadã no Brasil. Distribuindo a quebra do jejum não só para a comunidade muçulmana como também para a população em vulnerabilidade. O vice-presidente, Dr. Ali, disse estar muito feliz com as atitudes do país, em que muitas escolas têm mudado os horários, permitindo que a reza aconteça de forma adequada, suspendendo jovens de atividades físicas que requerem muito esforço e, também, nos escritórios de trabalho.
Shadia, leva seus costumes para as suas redes sociais e quando se fala sobre o mês sagrado recebe comentários como “Deus me livre ficar sem comer e sem beber”, “mas nem água?”, mas disse que leva esses comentários com leveza, já que para ela as pessoas não entendem o propósito e é um processo até entenderem.
“No Ramadã, você sempre tem alguma coisa para reforçar. Principalmente com os nossos irmão na Palestina e com a resiliência e fé que eles estão tendo”, disse a influenciadora digital.