Em coma na Alemanha, opositor de Putin era mantido sob vigilância na Rússia
Imprensa russa informou que cada passo de Alexei Navalny, suspeito de ter sido envenenado, era rastreado pelo governo de Vladimir Putin
atualizado
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No momento em que o político de oposição mais proeminente da Rússia luta por sua vida em um hospital de Berlim, a mídia russa informou neste domingo, 23, que Alexei Navalniy esteve sob vigilância constante por agentes de segurança federais durante sua viagem à Sibéria, onde adoeceu com suspeita de envenenamento.
Uma reportagem citou fontes de agências de segurança do país que disseram que Navalny foi submetido a uma intensa operação de vigilância à paisana durante a viagem.
O jornal diário Moskovsky Komsomolets trouxe detalhes da vigilância de cada movimento seu, incluindo o que ele e seus acompanhantes comiam, com quem se encontrou, seus registros de cartão de crédito, recibos de compras, onde ele ficou, em que veículos viajou e até mesmo um sushi pedido por delivery e um mergulho noturno no rio.
Navalny costuma ser extremamente cauteloso ao viajar, mantendo-se discreto e tomando precauções de segurança, de acordo com os agentes de segurança citados na reportagem. Ele ficou em casas seguras na cidade siberiana de Novosibirsk e em um hotel em Tomsk. No hotel, a equipe alugou mais quartos do que o necessário e ele não se hospedou no local que estava registrado em seu nome.
A porta-voz de Navalny, Kira Yarmysh, comentou que Navalny sabia que estava sob vigilância constante. “A escala da vigilância não me surpreende em nada”, ela tuitou no domingo. “Estávamos bem cientes disso antes. Mas é incrível que eles não hesitaram em contar a todos sobre isso”, escreveu ela.
Quando Navalny deixou Novosibirsk em dois veículos, os agentes montaram uma operação de rastreamento. “Toda a viagem do oposicionista foi bem escondida e mesmo os ‘federais’ não sabiam de seus planos”, disse a reportagem. “Portanto, foi estabelecida vigilância secreta para os carros. Na rodovia havia uma bifurcação na estrada para Kemerovo e Tomsk. O comboio foi acompanhado por policiais disfarçados de civis de ambas as cidades.”
Outro assessor de Navalny, Leonid Volkov, escreveu no Facebook que a reportagem indicava o intenso nível de vigilância que Navalny enfrentava ao viajava: “Um grande número de funcionários em trajes civis está envolvido, as rotas são rastreadas, todos os movimentos, hotéis, reuniões. Mas realmente por quê? Navalny é um criminoso procurado?”
Alexei Navalny foi transferido da cidade siberiana de Omsk para Berlim no sábado em uma ambulância médica financiada pela fundação do filantropo russo e ex-magnata das telecomunicações, Dmitry Zimin, depois que médicos inicialmente negaram permissão para ele deixar o país.
O avião partiu para a Alemanha nas primeiras horas da manhã de sábado e um comboio de ambulâncias fortemente vigiadas pela polícia alemã o levou ao hospital Charité de Berlim. Navalny estava em coma e em estado crítico quando foi internado e o hospital disse que nenhuma nova informação sobre sua saúde estaria disponível antes de segunda-feira.
O caso
Navalny sofreu um colapso em um voo matinal de Tomsk para Moscou na quinta-feira após visitar Novosibirsk e Tomsk. De acordo com os aliados de Navalny, os médicos de Omsk pareciam dispostos a cooperar com sua transferência, mas oficiais à paisana e agentes de segurança invadiram o hospital e os médicos negaram permissão para ele sair.
Somente após repercussão internacional e expressões de preocupação da chanceler alemã Angela Merkel e do presidente francês Emmanuel Macron foi que Navalny finalmente recebeu permissão. Os apoiadores temem que o atraso possa ter comprometido suas chances de sobrevivência.
Navalny é um dos maiores críticos do Vladimir Putin e é conhecido por seus vídeos no YouTube expondo corrupção e suborno por políticos, burocratas e oligarcas russos. Ele foi impedido de concorrer a uma eleição presidencial em 2018 e já foi preso por organizar protestos não autorizados.
Em julho, Navalny foi forçado a fechar sua Fundação Anticorrupção depois que ela foi prejudicada por multas. Ele prometeu então começar imediatamente uma nova organização que faria o mesmo trabalho.
Em março, as autoridades congelaram sua conta bancária e as de todos os membros de sua família, incluindo seus pais, filha e até mesmo seu filho de 11 anos, Zakhar. Ele é o mais recente de uma sucessão de críticos do Kremlin que sofreram suspeita ou confirmação de envenenamento.