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Os turcos começaram a votar neste domingo (31/3) para escolher seus novos prefeitos, em eleições vistas como um voto a favor ou contra o presidente Recep Tayyip Erdogan. O partido do líder, o islamoconservador AKP, pretende recuperar a cidade de Istambul, a “joia” do país, governada pela oposição desde 2019.
A reeleição do atual prefeito, Ekrem Imamoglu, pode alçar o político opositor a favorito para as próximas eleições presidenciais turcas, em 2028, quando será escolhido o futuro chefe de estado.
Nas seções eleitorais, os eleitores comparecem sem grande entusiasmo, observaram os correspondentes da AFP. “Todos estão preocupados com suas vidas diárias. A crise está engolindo a classe média e tivemos que mudar todos os nossos hábitos”, lamentou Guler Kaya, 43 anos, que disse ter abandonado todas as atividades de lazer. “Se Erdogan vencer, será ainda pior”, prevê ela.
Na capital, Ancara, a eleitora Meliha Sonmez esperava para votar no prefeito da oposição (CHP) Mansur Yavas. “Essa eleição não é apenas uma eleição municipal. Se Erdogan perder essa eleição, ele ficará enfraquecido”, diz a aposentada de 60 anos, que perdeu 32 membros de sua família no terremoto que devastou a província de Hatay, no sul, em fevereiro de 2023.
Erdogan em campanha ativa
O chefe de Estado não está concorrendo nas eleições locais, mas sua sombra paira sobre as urnas. Aos 70 anos, 21 deles no poder, Erdogan investiu toda a sua estatura de estadista na campanha e percorreu o país ao lado dos candidatos de seu partido, o da Justiça e Desenvolvimento (AKP).
Ele se envolveu particularmente na briga por Istambul, capital econômica da Turquia, da qual foi prefeito na década de 1990 antes de chegar ao poder. Erdogan apoia o candidato Murat Kurum, um ex-ministro pouco carismático.
O objetivo é recuperar a cidade mais rica do país das mãos do prefeito social-democrata Ekrem Imamoglu, que esteve à frente da pior derrota eleitoral de Erdogan há cinco anos. Agora, as pesquisas de intenções de voto dão a ele uma pequena vantagem.
O presidente e o prefeito deveriam votar por volta do meio-dia em dois distritos da megalópole. Se for reeleito, o ambicioso Imamoglu – que Erdogan descreve como um “prefeito de meio período” obcecado pela presidência –, marcará pontos para a eleição presidencial de 2028.
“Istambul foi abandonada à própria sorte nos últimos cinco anos. Queremos salvá-la do desastre”, denunciou Erdogan.
Para os observadores, o nível de participação, tradicionalmente alto, desempenhará um papel decisivo, especialmente em Istambul.
Pela manhã, confrontos à margem da votação na província de maioria curda de Diyarbakir, no sudeste, deixaram uma pessoa morta e 12 feridas, segundo uma autoridade local disse à AFP.
Oposição dispersa
Ao contrário das eleições municipais de 2019, desta vez a oposição concorre de forma dispersa: o CHP, a principal sigla opositora, não conseguiu conquistar o apoio dos outros partidos na maioria das cidades.
O partido pró-curdo DEM disputa sozinho, correndo o risco de favorecer o partido governista –ameaçado em alguns lugares pela ascensão do partido islâmico Yeniden Refah.
Mesmo assim, o CHP se diz confiante em suas chances: “Vamos obter uma grande vitória amanhã, que não será a derrota de ninguém”, disse o presidente da sigla, Özgür Özel, no sábado, enquanto passeava por Izmir. As pesquisas antecipam que a cidade do oeste do país deve permanecer na oposição, assim como Ancara.
“No final, a Turquia vencerá”, insistiu ele.
Em um país que enfrenta uma inflação oficial de 67% ao ano e uma moeda em desvalorização acentuada (de 19 para 31 libras por dólar em um ano), a oposição pode esperar que os eleitores aproveitarão a ocasião para dar uma advertência ao governo.
“Se Imamoglu conseguir se manter, ele terá vencido sua batalha dentro da oposição para se estabelecer como líder para a próxima eleição presidencial”, observa Bayram Balci, pesquisador do Centro de Estudos e Pesquisas Internacionais, da Sciences Po em Paris.
Mas, por outro lado, “se ele conseguir reconquistar Istambul e Ancara, Erdogan verá isso como um incentivo promover uma emenda à Constituição a fim de se candidatar à reeleição em 2028”, ressalta. Isso significaria concorrer a um quarto mandato.