Discursos de Zelensky priorizam armas, sanções e alertas de destruição
Esses temas aparecem em sete de cada 10 declarações do líder ucraniano, tanto em seus vídeos diários quanto a parlamentos pelo mundo
atualizado
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Entre apelos de paz e críticas cáusticas à Rússia, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, centraliza seus discursos em três nichos básicos: pedidos de material bélico, de mais sanções econômicas contra o país liderado por Vladimir Putin e de alertas para a destruição que a guerra tem causado ou pode provocar.
Esses temas aparecem em sete de cada 10 declarações do líder ucraniano. Desde o começo do conflito, em 24 de fevereiro, Zelensky adotou discursos em vídeos e pronunciamentos como convidado de vários parlamentos pelo mundo como uma de suas principais armas. O Metrópoles analisou 60 declarações públicas do presidente, além de mensagens publicadas em redes sociais.
Todas as noites o líder ucraniano divulga um vídeo com um discurso. Quando os ataques se agravam ou Putin faz novas ameaças, é comum que ele se manifeste mais de uma vez ao longo do dia. E na base da palavra Zelensky tem conseguido atrair a atenção – e a solidariedade – mundial.
Nos últimos dias, o presidente ucraniano passou a ser mais incisivo em seus pronunciamentos. Começou a usar termos mais fortes a fim de destacar os riscos que a guerra traz ao seu país e à humanidade. Um recado claro: a guerra está cada vez mais devastadora.
O uso de armas químicas, biológicas ou nucleares e o perigo de acidentes com radiação apareceram com maior frequência.
O pedido de armas, pilar de seus discursos, atingiu o nível máximo na reunião de cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), em 24 de março.
“Vocês poderiam nos dar 1% de todos os seus aviões, 1% de seus tanques. Um por cento. Para salvar as pessoas e as nossas cidades, a Ucrânia precisa de ajuda militar irrestrita. Assim como a Rússia usa todo o seu arsenal contra nós sem restrições”, exigiu Zelensky.
Presença no parlamento
Com a preocupação global focada no conflito no Leste Europeu e seus impactos, Zelensky passou a discursar para os parlamentos de países como Estados Unidos, França, Itália, Reino Unido, Polônia, Canadá, Japão, Suíça, Alemanha, Israel e Austrália, além de no Parlamento Europeu.
Na conferência com os australianos, reforçou o pedido bélico. “Temos que manter armados aqueles que estão lutando contra esse mal. Você tem um veículo de pessoal armado muito bom, o Bushmaster, que pode ajudar substancialmente a Ucrânia, e outros equipamentos que podem fortalecer nossa posição em termos de armamento. Se você tiver a oportunidade de compartilhar isso conosco, ficaríamos muito gratos”, frisou, na quinta-feira (31/3).
Para israelenses, uma reprimenda no mesmo sentido, em 20 de março. “Todo mundo sabe que seus sistemas de defesa antimísseis são os melhores… E que vocês podem definitivamente ajudar nosso povo, ajudar a salvar as vidas de ucranianos, de judeus ucranianos”, acrescentou. O líder ucraniano consegue se equilibrar suficientemente na retórica para que seus apelos não soem apenas como chantagens mal disfarçadas.
Aos norte-americanos, fez um discurso emblemático, em 16 de março. É raro o Congresso dos EUA abrir espaço de fala para líderes estrangeiros. Lá, pediu apoio. “Precisamos de uma união de países para parar o conflito rapidamente.”
Zelensky foi além. “Lembrem do 11 de setembro, quando o mal tentou transformar suas cidades, territórios independentes, em campo de batalha. Estamos vivendo isso todas as noites”, frisou.
Aos parlamentares franceses, fez falas semelhantes, em 23 de março. “A Europa não via há 80 anos o que está acontecendo na Ucrânia”, destacou em videoconferência.
Recuos
Contudo, o líder ucraniano também recuou e mudou o entendimento — ou pelo menos o que diz — a respeito de alguns assuntos. Até mesmo o ingresso na Otan, que desencadeou a invasão, foi relativizado e colocado na mesa para negociação.
Outro destaque é negociação de áreas separatistas pró-Rússia. Zelensky, em 22 de março, admitiu que poderia entregar o controle de regiões como Donbass e Crimeia – já anexada ao território da Rússia em 2014, como parte da tentativa de conseguir uma reunião com Putin.
Dias depois, em entrevista à revista britânica The Economist, em 28 de março, Zelensky defendeu a soberania ucraniana. “É possível que alguns compromissos, que não arrisquem nossa soberania, sejam feitos para salvar vidas. Mas compromissos que provoquem a desintegração do país, como os que Putin propõe, ou melhor, exige, nunca serão feitos”, frisou.
“Cautela” com russos
Após uma negociação de semitrégua na Ucrânia, com a Rússia afirmando que reduziria “drasticamente” os ataques à capital, Kiev, e a Chernihiv, em pronunciamento, o líder ucraniano admitiu que a conversa entre representantes dos dois países, em Istambul, na Turquia, tinha sido positiva, mas não apagava o risco de ataques russos. “A situação não se tornou mais fácil”, afirmou em 29 de março.
Despois, reforçou a tese. “Nada concreto”, resumiu na quinta-feira (30/3). Ele ainda classificou como “são só palavras” a promessa russa de reduzir os ataques.