Diplomata russo na ONU renuncia: “Nunca tive tanta vergonha do meu país”
Boris Bondarev, conselheiro da missão russa em Genebra, criticou a invasão coordenada pelo Kremlin à Ucrânia
atualizado
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O conselheiro russo na Organização das Nações Unidas (ONU) em Genebra, Boris Bondarev, renunciou ao cargo nesta segunda-feira (23/5) e fez duras críticas à guerra da Ucrânia.
“Durante os 20 anos da minha carreira diplomática, vi diferentes reviravoltas em nossa política externa, mas nunca senti tanta vergonha do meu país como em 24 de fevereiro deste ano”, afirmou.
A data mencionada por Bondarev faz referência ao início da invasão por parte do Kremlin. O conflito já perdura por 88 dias e Kiev faz diversas denúncias sobre as tropas russas, como a execução de civis em Bucha, o sitiamento da cidade portuária de Mariupol, abusos sexuais cometidos pelos soldados, reservas de alimentos detidas, entre outros.
“Aqueles que conceberam esta guerra querem apenas uma coisa: permanecer no poder para sempre, viver em palácios pomposos de mau gosto, navegar em iates comparáveis em tonelagem e custo a toda a Marinha russa e desfrutar de poder ilimitado e total impunidade”, continuou Bondarev.
O pronunciamento foi distribuído para colegas da Missão Permanente da Federação Russa nas Nações Unidas e compartilhado no perfil do LinkedIn do diplomata.
O perfil de Bondarev aponta que ele estava no atual cargo desde 2019 e era especializado em desarmamento e controle de armas. Antigo funcionário do ministério de Relações Exteriores russo, o diplomata afirmou que a pasta não trabalha mais com diplomacia, e sim com “belicismo, mentiras e ódio”.
Ele também criticou o ministro Sergei Lavrov. “Passou de um intelectual profissional e educado, que muitos meus colegas tinham em tão alta estima, para uma pessoa que constantemente transmite declarações conflitantes e ameaça o mundo (isto é, a Rússia também) com armas nucleares!”, definiu.
Veja a publicação, em inglês:
Leia a tradução abaixo:
Muito atrasado, mas ainda assim. Hoje me demiti do serviço diplomático russo.
Durante os 20 anos da minha carreira diplomática, vi diferentes reviravoltas em nossa política externa, mas nunca senti tanta vergonha do meu país como em 24 de fevereiro deste ano. A guerra agressiva desencadeada por Putin contra a Ucrânia e de fato contra todo o mundo ocidental, não é apenas um crime contra o povo ucraniano, mas também, talvez, o crime mais grave contra o povo da Rússia, com uma letra Z em negrito que risca todas as esperanças e perspectivas de uma sociedade próspera e livre em nosso país.
Aqueles que conceberam esta guerra querem apenas uma coisa: permanecer no poder para sempre, viver em palácios pomposos de mau gosto, navegar em iates comparáveis em tonelagem e custo a toda a Marinha russa e desfrutar de poder ilimitado e total impunidade. Para conseguir isso, eles estão dispostos a sacrificar quantas vidas forem necessárias. Milhares de russos e ucranianos já morreram só por isso.
Lamento admitir que ao longo de todos esses 20 anos o nível de mentiras e falta de profissionalismo no trabalho do Ministério das Relações Exteriores tem aumentado cada vez mais. No entanto, nos últimos anos, isso se tornou simplesmente catastrófico. Em vez de informações imparciais, análises imparciais e previsões sóbrias, há clichês de propaganda no espírito dos jornais soviéticos da década de 1930.
Foi construído um sistema que engana a si mesmo. O ministro [Sergei] Lavrov é um bom exemplo da degradação desse sistema. Em 18 anos, ele passou de um intelectual profissional e educado, que muitos meus colegas tinham em tão alta estima, para uma pessoa que constantemente transmite declarações conflitantes e ameaça o mundo (ou seja, a Rússia também) com armas nucleares!
Hoje, o Ministério das Relações Exteriores não tem nada a ver com diplomacia. É tudo sobre belicismo, mentiras e ódio. Serve aos interesses de poucos, muito poucos, contribuindo assim para um maior isolamento e degradação do meu país. A Rússia não tem mais aliados, e não há ninguém para culpar a não ser sua política imprudente e mal concebida.
Estudei para ser diplomata e sou diplomata há 20 anos. O Ministério se tornou minha casa e minha família. Mas eu simplesmente não posso mais compartilhar essa ignomínia sangrenta, tola e absolutamente desnecessária.
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