Desafios do ultraliberal Milei incluem falta de relação com Lula
O novo presidente argentino, Javier Milei, terá quatro anos para reverter o cenário de crise econômica, com elevados índices de pobreza
atualizado
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Com a missão de reerguer a economia e o moral de todo um país, Javier Milei toma posse como presidente da Argentina, em Buenos Aires, neste domingo (10/12). O político ultraliberal e seus oito ministros ficarão à frente do comando do país nos próximos quatro anos. Entre os grandes desafios figura a indisposição pública do novo presidente com o colega brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Ainda é uma incógnita a maneira como Milei pretende se relacionar com o Brasil e com o governo do presidente Lula a partir da posse. Durante a campanha, o argentino não poupou insultos ao brasileiro, a quem chamou de “ladrão” e “corrupto”, entre outros impropérios. A verdade é que, depois da eleição, o tom adotado pelo ultraliberal está mais ameno.
O discurso agressivo em relação ao petista talvez venha a ser, cada vez mais, confrontado com a realidade de que o Brasil é o principal parceiro comercial dos argentinos. A questão a ser colocada na balança por Milei é se vale a pena manter um movimento ideológico em um momento no qual a Argentina mais depende de uma reação econômica.
Coube à futura ministra Diana Mondino, das Relações Exteriores, visitar pessoalmente o Brasil para entregar uma carta de Milei a Lula, na qual foi feito o convite para a posse. O petista decidiu não aceitar o convite, mas escalou seu ministro das Relações Exteriores, o chanceler Mauro Vieira, para a solenidade.
Apoiador de Milei de primeira hora, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se escalou para ir à posse. E foi com uma pequena comitiva. Já em solo argentino, Bolsonaro se encontrou com Milei na sexta-feira (8/12). O ultraliberal afagou o brasileiro na sua chegada: “É um orgulho muito grande receber a visita de Bolsonaro, a quem admiro pela luta contra a esquerda internacional”, afirmou.
Nomes confirmados para a posse de Milei:
- Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia;
- Luis Lacalle Pou, presidente do Uruguai;
- Santiago Peña, presidente do Peru;
- Gabriel Boric, presidente do Chile;
- Felipe VI, rei da Espanha;
- Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria;
- Vahagn Khachaturyan, presidente da Armênia;
- Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores do Brasil;
- Jair Bolsonaro, ex-presidente do Brasil;
- Michelle Bolsonaro, ex-primeira-dama do Brasil;
- Eduardo Bolsonaro, deputado federal;
- Santiago Abascal, deputado espanhol e presidente do partido Vox;
- Fabio Wajngarten, assessor de Bolsonaro;
- Gilson Machado Neto, ex-ministro do Turismo.
Desafios
Milei assume a Argentina com a missão de reverter a situação financeira catastrófica (interna e externa) herdada de Alberto Fernández, com uma taxa de inflação de mais de 140% ao ano. O novo presidente também tem o desafio de reduzir os elevados índices de pobreza provocados pela crise que assombra os hermanos há anos.
Conforme o Instituto Nacional de Estatística e Censos da Argentina (Indec), o “IBGE argentino”, a Argentina tem 40,1% da população (11,8 milhões) abaixo da linha da pobreza e 9,3% (2,7 milhões) em situação de miséria.
Caso siga os planos iniciais, Milei, além de fechar o Banco Central e dolarizar a economia, vai extinguir 10 pastas. Entre elas, Saúde e Educação. Durante a corrida eleitoral, ele propôs um esquema de vouchers para lidar com as demandas dos argentinos nesses setores.
Além do presidente argentino, tomam posse os parlamentares eleitos neste ano. Nos próximos quatro anos, a coalizão A Liberdade Avança, de Milei, contará com 39 deputados e oito senadores. O Juntos pela Mudança, do ex-presidente Mauricio Macri, com 94 cadeiras na Câmara e 24 no Senado. Já a aliança peronista soma 107 deputados e 34 senadores.
Desta forma, a partir de 10 de dezembro, o partido do ultraliberal torna-se a terceira força no Parlamento argentino.
Nomes do primeiro escalão de Milei:
- Luis Caputo (Economia);
- Patricia Bullrich (Segurança);
- Mariano Cúneo Libarona (Justiça);
- Diana Mondino (Relações Exteriores);
- Guillermo Ferraro (Infraestrutura);
- Guillermo Francos (Interior);
- Sandra Pettovello (Capital Humano: fusão das pastas do Desenvolvimento Social, Educação e Saúde);
- Luis Alfonso Petri (Defesa).
Economia fragilizada
O político também precisa lidar com o recuo de 4,9% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, no qual a agricultura foi o setor que apresentou maior baixa (-40,2%), seguido da pesca (-30,5%). Já o setor hoteleiro e de restaurantes cresceu 6,4%, logo atrás a exploração de minas e pedreiras aumentou 6,3%.
Outro desafio da gestão de Milei é quitar a dívida bilionária do país com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Herdado do governo de Mauricio Macri (2015-2019), o crédito aprovado pelo FMI chega a US$ 44 bilhões — totalizando quase R$ 216 bilhões.
Como Fernández entrega a Argentina para Milei: