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Este 24 de fevereiro marca exatos dois anos desde o início da invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia. O ataque interrompeu uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), que buscava evitar que essa escalada acontecesse.
Até mesmo o embaixador da Rússia na ONU, Vasily Nebenzya, que presidia a sessão naquele mês, expressou espanto enquanto o representante da Ucrânia, Sergiy Kyslytsya, questionava duramente os ataques que começavam em seu país.
A ONU imediatamente condenou a escalada da violência e diversas partes ecoavam os pedidos de cessar-fogo e por uma solução negociada. Dois anos depois, com pelo menos 10,5 mil civis mortos e 19,8 mil feridos, o fim dos combates ainda parece distante.
A opinião é do porta-voz da ONU na Ucrânia, Saviano Abreu, que alerta que, além da continuação da guerra, o número de bombardeios segue crescendo.
“A guerra não acabou e infelizmente a gente não se vê e fala tanto mais da Ucrânia nos noticiários, nas manchetes dos jornais. Mas isso não quer dizer que a situação melhorou. Pelo contrário, está piorando muito”, diz o porta-voz.
“Nós vimos que no ano passado o número de bombardeios e ataques crescer. Foi mais do que em 2022, quando essa rápida intensificação da guerra começou, o ano passado foi ainda pior. E o problema maior é que a situação perto da frente de batalha, as pessoas que moram nas zonas mais afetadas pela guerra, estão chegando a uma situação realmente catastrófica, de calamidade”.
15 milhões precisam de ajuda
Em toda a Ucrânia, a infraestrutura civil foi destruída e danificada: prédios residenciais, hospitais, escolas e instalações de energia. Além disso, a economia do país está em ruínas. Assim, a quantidade de ucranianos que precisam de ajuda humanitária não para de crescer. Segundo Saviano Abreu, o número atual se aproxima de quase 15 milhões de pessoas.
“É quase 40% de toda a população da Ucrânia que hoje precisa do mais básico para sobreviver. Isso é em todo o país, mas a situação é muito pior em áreas perto da frente de batalha, lá tem mais ou menos 3,3 milhões pessoas nos dois lados, nas áreas ocupadas pela Rússia, mas também nas áreas com controle do governo na Ucrânia, que precisam da ajuda humanitária. Essas são as pessoas que nos preocupam mais. Essas são as pessoas que estão há quase dois anos sem acesso a água potável na casa delas, sem acesso a gás, sem acesso eletricidade”.
Ele adiciona que a ONU levou auxílio para cerca de 11 milhões de pessoas e reforça que a ajuda deve continuar chegando para que as Nações Unidas e seus parceiros sigam apoiando a população ucraniana.
País que exportava alimento agora depende de apoio internacional
O segundo ano da guerra também foi marcado por eventos como a destruição da represa de Kakhovka e a decisão da Rússia de se retirar da Iniciativa de Grãos do Mar Negro.
As interrupções na cadeia de produção e abastecimento continuam sendo uma questão no país. O assessor executivo do Programa Mundial de Alimentos na Ucrânia, Rodrigo Mota, falou à ONU News que o país, antes o “supermercado” da entidade, agora depende de apoio para alimentar sua população. São 7 milhões de ucranianos que precisam de assistência alimentar.
“Ucrânia é um país agrícola. Antes da guerra, a Ucrânia se orgulhava de dizer que era a cesta de pão que alimentava mais de 400 milhões de pessoas no mundo inteiro. Para nós do PMA, a Ucrânia era o nosso supermercado. A gente comprava alimentos da Ucrânia para ajudar e para prover essa alimentação para a populações e em países africanos e em outras partes do mundo”, observa Mota.
“A Ucrânia sempre teve esse lugar muito especial para as nossas operações. Voltar para a Ucrânia sabendo dessa história e desse lugar que a Ucrânia ocupava antes, é uma realidade muito triste. Significa que um país que antes produzia alimento agora precisa de alimento. Muitos produtores, muitos agricultores, principalmente os pequenos agricultores e pequenos agricultores, sofreram bastante com o impacto da guerra”.
Segundo Rodrigo Mota, uma em casa cinco famílias na Ucrânia está sob risco de algum tipo de insegurança alimentar e depende da ajuda humanitária já que, além da destruição das estruturas das cidades, a produção de alimentos também foi dificultada com o perigo de campos minados.
Por isso, o PMA tem um projeto para a limpeza dessas áreas e o reestabelecimento da agricultura local. O representante da agência na Ucrânia conta que quase 23% das áreas que eram destinadas à produção agrícola hoje são suspeitas de estarem minadas.
“O PMA, juntamente com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, desde o ano passado, estamos implementando o projeto limpeza dos campos que foca em ajudar os pequenos produtores agrícolas, a limpar os seus terrenos de minas, isso é um trabalho de formiguinha, porque requer muita dedicação e muito investimento”.
“Mas a gente não pode deixar que uma população que antes vivia da sua própria subsistência, agora tenha que depender da assistência humanitária. Nesse ano de 2024, é um esforço coletivo para que a Ucrânia consiga retornar a esse posto de produtor agrícola, produtor de grãos de trigo e que consiga prover a sua subsistência dos pequenos produtores e que os grandes produtores consigam entregar alimentos para outras regiões do mundo.”
Iniciativa do Mar Negro
A Iniciativa do Mar Negro garantiu a exportação segura de mais de 32 milhões de toneladas de mercadorias dos portos ucranianos. O PMA exportou mais de 725 mil toneladas de alimentos para apoiar os esforços humanitários que evitaram a fome no Afeganistão, no Chifre da África e no Iêmen.
Ao decidir se retirar da Iniciativa do Mar Negro, a Rússia também encerrou seu compromisso de “facilitar a exportação desimpedida de alimentos, óleo de girassol e fertilizantes dos portos do Mar Negro controlados pelos ucranianos”.
A retirada do país do acordo foi seguida por ataques a instalações portuárias e de armazenamento de grãos na Ucrânia. Os ataques russos têm consequências catastróficas tanto para o povo da Ucrânia quanto para os 345 milhões de pessoas que sofrem com a fome em todo o mundo, segundo dados da ONU.