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De convite de honra a veto: como relação de Lula e Maduro deteriorou

Último episódio da tensão entre os governo de Lula e Maduro aconteceu nesta semana, após o Brasil vetar a entrada da Venezuela nos Brics

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Colagem mostra Lula e Maduro - Metrópoles
1 de 1 Colagem mostra Lula e Maduro - Metrópoles - Foto: Arte/Metrópoles

Pouco mais de um ano separou o momento de aceno entre Lula e Nicolás Maduro, durante um evento em Brasília, e o azedume que tomou conta da relação entre os dois líderes sul-americanos nos últimos meses.

Visitando o Brasil após oito anos, Maduro foi recebido com tapete vermelho por Lula em maio de 2023 para um evento que reuniu líderes regionais em Brasília. O convite para o líder chavista participar da Cúpula de Presidentes da América do Sul aconteceu em meio à contestação internacional sobre a legitimidade de seu governo, além da cobrança pelo respeitos aos direitos humanos na Venezuela.

Ainda assim, o herdeiro político de Hugo Chávez foi defendido pelo presidente do Brasil durante o evento, que classificou as denúncias contra o regime chavista de “narrativa antidemocrática”.

Lideranças  da América Latina, da direita à esquerda, criticaram a fala de Lula. Para Maduro, no entanto, o encontro com Lula foi um “fato histórico” e “transcendental”. 

Chá de camomila

Antes das eleições presidenciais da Venezuela, Maduro assinou o Acordo de Barbados, em 2023, prometendo garantias eleitorais e um pleito livre no país. Contudo, o líder chavista passou a dar sinais de que não cumpriria o pacto meses antes da votação.

Um dos episódios mais marcantes do período pré-eleitoral no país foram denúncias da oposição, que acusaram Maduro de utilizar a máquina pública para dificultar a inscrição de um candidato de oposição para disputar as eleições.

As denúncias fizeram com que o governo brasileiro acompanhasse “com expectativa e preocupação” os desdobramentos políticos no país, fazendo até mesmo com que Lula ligasse para Maduro solicitando o cumprimento do acordo assinado no ano anterior.

Apesar das promessas, a proximidade do pleito fez com que Maduro subisse o tom e falasse até em “banho de sangue” e “guerra civil” caso não fosse reeleito.

O presidente brasileiro se mostrou assustado com as declarações do aliado regional. Mas como resposta, recebeu de Maduro a sugestão de que fosse tomar um “chá de camomila”. 

Lula não reconhece vitória de aliado

Contrariando o acordo de eleições democráticas, o pleito na Venezuela se desenrolou e apontou Maduro como presidente reeleito do país no último dia 28 de julho, em uma vitória não reconhecida por parte da comunidade internacional, que passou a pressionar o regime. 

Apesar de o Partido dos Trabalhadores (PT) ter admitido a vitória de Maduro, o governo Lula condicionou o reconhecimento da reeleição do herdeiro de Hugo Chávez à divulgação das atas eleitorais, e passou a atuar como uma espécie de mediador do diálogo entre as demandas do exterior e o regime chavista.

Lula chegou até mesmo a sugerir a realização de uma nova eleição no país como forma de resolver o impasse entre Maduro, opositores e comunidade internacional. A ideia, no entanto, foi rejeitada não só pelo líder chavista, como também pela oposição. 

Veto da Venezuela nos Brics

O não apoio à vitória do aliado fez Lula ser acusado pelo procurador-geral da Venezuela de ser porta-voz dos interesses dos Estados Unidos na América Latina, além de um “agente da CIA”. O governo venezuelano, no entanto, disse que a declaração Tarek Saab não refletia o posicionamento do regime Maduro.

Apesar da tentativa de colocar panos quentes na tensão que crescia, a relação entre Lula e Maduro azedou de vez após a 16ª cúpula dos Brics, realizada na Rússia entre os dias 22 e 24 de outubro, onde o Brasil vetou o ingresso da Venezuela no bloco.

Em uma dura nota divulgada pela chancelaria venezuelana, Lula foi comparado a Jair Bolsonaro e acusado de “agredir” o país liderado por Maduro. 

“O povo venezuelano sente indignação e vergonha com esta agressão inexplicável e imoral da chancelaria brasileira (Itamaraty), mantendo o pior das políticas de Jair Bolsonaro contra a Revolução Bolivariana fundada pelo Comandante Hugo Chávez”, disse o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela em um comunicado.

O Ministério das Relações Exteriores não quis se pronunciar sobre a nota. Lula também ainda não comentou o tom duro da diplomacia do país liderado por Nicolás Maduro.

Analistas ouvidos pelo Metrópoles, no entanto, apontam que os últimos desdobramentos indicam uma quebra nas relações entre Brasil e Venezuela sob o comando de Lula e Maduro.

“De fato existe uma quebra das relações, que é bastante clara, bastante firme”, diz o analista político Vito Villar. “Para que isso seja contornado, e eu acho difícil que seja feito no curto prazo, será necessário um processo um pouco extenso da diplomacia brasileira. É preciso que seja criado um ambiente para que isso aconteça, que exista boa vontade dos dois lados, o que no momento não está no radar, a não ser que ocorra uma grande mudança por parte da Venezuela com relação aos resultado das eleições”, explica.

 

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