De ambientalista a apoiador de Trump, entenda Kennedy Jr. nas eleições
Sobrinho de JFK lançou a candidatura independente à presidência dos EUA, porém, suspendeu a campanha e declarou apoio a Trump
atualizado
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Robert F. Kennedy Junior, sobrinho do ex-presidente John F. Kennedy, apresentou no início do ano sua candidatura à presidência dos Estados Unidos de forma independente, ou seja, nem republicano, nem democrata. Porém, na última sexta-feira (23/8), após anunciar suspensão de sua campanha, declarou apoio a Donald Trump.
O movimento de Kennedy Junior foi uma grande surpresa. Além de fazer parte de uma família tradicionalmente democrata, ele ficou conhecido na política norte-americana por sua postura ambientalista.
Kennedy trabalhou por anos como advogado, lutando contra poluidores. Mesmo assim, declarou apoio a Trump, que é conhecido por ser um negacionista do clima e “inimigo” do meio ambiente. Junior chegou a afirmar que o republicano foi “melhor presidente ambiental da história americana”.
Donald Trump convidou Kennedy para participar de um comício de campanha em Glendale, Arizona, onde foi recebido ao som da multidão gritando “Bobby! Bobby!”. Em um breve discurso no comício, Kennedy disse que Trump “tornaria a América saudável novamente, e os protegeria contra o totalitarismo”.
Como resposta, Trump disse que o pai de Kennedy, ex-senador de Nova York, e o tio “estão olhando para baixo agora e estão muito, muito orgulhosos de Bobby”. “Estou orgulhoso de Bobby”, complementou o republicano.
Assassinato de JFK
Donald Trump disse que divulgaria “todos os documentos restantes relativos ao assassinato de John F. Kennedy” caso eleito presidente em novembro. A iniciativa faria parte de uma nova comissão proposta sobre tentativas de assassinato presidencial, a qual incluiria o atentado que sofreu na Pensilvânia durante um comício este ano.
A escolha de Kennedy Junior foi mal aceita por seus irmãos. Max Kennedy implorou ao público que ignorasse a decisão do irmão de apoiar Trump. A irmã Kerry Kennedy disse a um repórter do Washington Post que o apoio do irmão a Trump foi “obsceno”, e que “se ele estivesse vivo hoje, meu pai, detestaria quase tudo sobre Donald Trump”.
Em discussão sobre o papel que Kennedy assumiria em uma suposta vitória de Trump, o ex-presidente sugeriu que criaria um painel governamental de especialistas para trabalhar com Kennedy na investigação de problemas de saúde infantil nos EUA.
Porém, a sugestão gerou grande desconforto na sociedade devido ao histórico negacionista de Kennedy Jr. Durante anos, ele afirmou que as vacinas causavam autismo e, mais recentemente, fez uma série de outras alegações absurdas sobre saúde, incluindo que o wi-fi causa “perda de sangue no cérebro”.
Kennedy também afirmou que tiroteios em escolas podem estar relacionados a antidepressivos, e que produtos químicos na água estão tornando crianças transgênero.
A decisão de apoio a Trump foi ainda mais surpreendente, pois Kennedy Jr. já chamou o ex-presidente de “provavelmente um sociopata”, “quase humano” e “o pior presidente de todos os tempos”, em mensagens de texto obtidas pela revista New Yorker.
Em 2020, Kennedy chamou publicamente Trump de “valentão” e disse que ele havia “desacreditado o experimento americano com autogoverno”.
Trump também não poupou ataques contra Kennedy. Em uma publicação na Truth Social, chamou o recente apoiador de “um dos lunáticos mais liberais a concorrer a um cargo”.
Antes de declarar apoio a Trump, Kennedy tentou se encontrar com Kamala Harris para discutir um possível cargo, caso a democrata vencesse a eleição, em troca do apoio. Kamala nem se encontrou com ele.
Como resposta à negativa da campanha Harris-Walz, Kennedy postou em sua conta no X ataques aos democratas. “O Partido Democrata da vice-presidente Harris seria irreconhecível para meu pai [Robert F. Kennedy, senador de Nova York assassinado em 1968] e meu tio. Não consigo conciliar isso com meus valores. Não tenho planos de apoiar Kamala Harris para presidente. Tenho um plano para derrotá-la”.
Polêmicas de Kennedy Jr.
Desde que lançou candidatura independente à presidência, Kennedy Junior realizou diversas falas consideradas absurdas e se envolveu em múltiplas polêmicas.
Filhote de urso
No início de agosto, a revista New Yorker revelou um caso sobre a morte de um filhote de urso, há 10 anos. Diante da repercussão, Kennedy Junior adimitiu, em um vídeo postado no X, ter abandonado o cadáver do urso no Central Park, em Nova York.
Ele contou que encontrou um filhote de urso morto na beira da estrada, o colocou na parte de trás do carro e tirou uma foto com o cadáver. Depois, encenou a morte do urso em decomposição para parecer um acidente de bicicleta no parque.
Agressão sexual
A babá da família de Kennedy, Eliza Cooney, disse à Vanity Fair, em julho, que ele a agrediu sexualmente em 1998. Cooney alegou que Kennedy tocou em sua perna em uma reunião de negócios e depois apareceu sem camisa em seu quarto para pedir que ela passasse loção em suas costas.
Poucos meses depois, Kennedy “começou a apalpar” Cooney na cozinha. Como resposta, Kennedy chamou o artigo da Vanity Fair de “um monte de lixo” e afirmou não ser “um garoto de igreja”. Ele também comunicou que mandou uma mensagem de texto para Cooney se desculpando.
Verme cerebral
Em abril, o New York Times falou sobre um depoimento que Kennedy Junior deu para seu divórcio, em 2012. Na ocasião, ele disse ter problemas cognitivos. “Tenho perda de memória de curto prazo, e tenho perda de memória de longo prazo que me afeta.”
Após a afirmação, Kennedy contou que realizou exames cerebrais, que indicaram que o problema de saúde foi causado por um verme que “entrou em seu cérebro, comeu uma parte dele e depois morreu”.
Churrasco de cachorro
Em julho, a Vanity Fair descobriu uma foto de 2010 em que Kennedy Junior aparece em um churrasco simulando uma mordida em um animal assado. A publicação consultou um veterinário, que afirmou que o animal tratava-se de um cachorro.
Kennedy negou e disse que a carcaça na foto era de uma cabra.
Alegações duvidosas
Em 2023, enquanto ainda concorria como democrata, Kennedy Junir afirmou que a radiação wi-fi causava danos cerebrais que levariam a um câncer.
Ainda em junho de 2023, o político disse que produtos químicos na água potável estavam fazendo com que crianças se tornassem transgêneros.