Coronavírus: Rússia celebra 75 anos do fim da 2ª Guerra com desfile aéreo
Aeronaves vão desfilar nos céus de Moscou para comemorar a data que normalmente reúne 1 milhão de pessoas ao redor da Praça Vermelha
atualizado
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Moscou (Rússia) – O final da semana na Europa está sendo marcado por cerimônias em comemoração aos 75 anos do fim da Segunda Guerra Mundial. Devido à pandemia do novo coronavírus, as celebrações grandiosas se transformaram em eventos a portas fechadas com pouquíssimos convidados. Na Rússia, o tradicional desfile militar de 9 de maio, que chega a reunir 1 milhão de pessoas, não será realizado na Praça Vermelha. O espetáculo acontecerá nos céus da capital Moscou para evitar aglomerações.
Neste ano o governo anunciou que o Dia da Vitória, o feriado mais importante do país, terá apenas o desfile de 75 aeronaves. Militares vão sobrevoar o país com helicópteros de batalha (Mi-8s e Mi-26s), além de pilotar o maior veículo de transporte aéreo estratégico do mundo, o An-124 Ruslan. Para encerrar a apresentação, os principais caças de combate da Rússia (MiG-29, Su-30SM, Su-25 e Su-35S) vão desenhar a bandeira do país nos céus.
O desfile acontece às 10h (horário de Moscou), 4h no horário de Brasília, e será exibido em tempo real no canal do YouTube do Ministério da Defesa da Rússia. A única parte presencial da celebração será a cerimônia na qual o presidente Vladimir Putin depositará flores na Chama Eterna do Túmulo do Soldado Desconhecido. Em seguida, ele fará um pronunciamento à nação diretamente do local.
A guia turística Olga Komarova, de 31 anos, natural da região de Moscou, ressalta a importância da comemoração, ainda que limitada. “Qualquer movimento nesse dia levantará o ânimo das pessoas e lembrará: mesmo em confinamento e distância social, estamos juntos e sempre lembraremos dos nossos antepassados, que libertaram o mundo do fascismo”, declarou a russa.
Em 9 de maio de 1945, a Rússia derrotou a Alemanha nazista na Grande Guerra Patriótica – como eles chamam a Segunda Guerra Mundial. O país perdeu cerca de 27 milhões de soviéticos durante os seis anos de conflito, número superior ao dos outros países envolvidos. Praticamente todas as famílias russas têm algum parente que lutou pelo país naquela época.
A carioca Djaldéa Fernandes, de 58 anos, mora em Moscou há 18 meses e participou do evento na Praça Vermelha em 2019. Para a musicoterapeuta, os brasileiros sabem pouco da luta dos russos contra os nazistas. “O papel deles ainda é abordado de forma muito superficial na nossa educação. Durante esta grande celebração, aprendi que eles lutaram o fim dessa guerra quase sozinhos”, disse.
Quando Djaldeá viu o desfile em Moscou, ela entendeu a realidade da guerra na vida das pessoas. “Meu pai nos contava sobre a situação dos pracinhas brasileiros, que muitas vezes morriam até de frio e fome. O horror da guerra traz muitos outros horrores. Isso fica muito mais evidente ao ver no Dia a Vitória as pessoas carregando as fotos de seus entes queridos que perderam a vida para servir a pátria”, disse.
Como a celebração normalmente ocorre
Nos anos anteriores, a marcha começava às 10h. A Praça Vermelha, em Moscou, era reservada para os veteranos, autoridades e imprensa. A população acompanhava o comboio militar pelas principais avenidas do centro da cidade. Mais de 14 mil soldados e 300 itens de equipamentos de guerra desfilavam pela capital russa.
Na sequência, voluntários partiam para uma grande marcha popular, conhecida como Regimento Imortal. Logo após a guerra, somente quem lutou no conflito participava dessa etapa. Mas ao longo das décadas, conforme os veteranos foram morrendo, familiares passaram a representá-los no desfile segurando um cartaz com a foto do parente. O Dia da Vitória é celebrado em todas as cidades do território russo.
Brasileiros que participaram do Regimento Imortal
A brasileira Gabriele Guadagnin, de 39 anos, residente na Rússia há quase 20 anos, se emocionou ao participar do Regimento Imortal em 2019. A servidora pública perdeu o avô Lincoln Moreira da Costa naquele ano e como ele era pracinha da Força Expedicionária Brasileira (FEB), Gabriele levou uma foto dele.
“Meu avô lutou na Itália por um ano e 16 dias. Como ele tinha várias lembranças daquele período, palestrou sobre o tema até os 93 anos. Apesar de não ter seguido carreira militar, ele fazia questão de reforçar o aprendizado que ganhou. A nossa geração não tem ideia do que foi a guerra. Mas, na marcha, os sentimentos de emoção e companheirismo predominam”, conta.
Iniciativas digitais
Além do desfile aéreo, haverá diversas iniciativas virtuais para promover a data. “O Regimento Imortal este ano será on-line. As pessoas podem se cadastrar e participar. É uma demonstração de que ninguém será esquecido. Ninguém vai conseguir falsificar os fatos e diminuir o orgulho da nossa história e conquistas”, explica a guia turística Olga Komarova, de 31 anos, natural da região de Moscou. Até a noite desta sexta-feira (08/05), cerca de 600 mil pessoas enviaram fotos de seus familiares.
Para a dona de casa Andreia Leite, de 46 anos, mineira criada em Brasília e residente na Rússia há quase 10 anos, é fundamental um movimento que marque a data.
“As pessoas esperam por essa celebração o ano inteiro. As cidades mudam completamente, e não só Moscou. Morei em Ecaterimburgo e a expectativa da população é a mesma para comemorar a maior vitória militar da Rússia. É uma data em que todos ficam orgulhosos das suas conquistas. Um desfile aéreo fará toda a diferença para elevar o moral dos russos”, explica Andreia.