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COP27: semana gera expectativa com Lula presente e reuniões bilaterais

Compromisso com a floresta amazônica, avanço do agronegócio e cobranças sobre guerra na Ucrânia aguardam o presidente eleito na COP do Egito

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COP27 / divulgação Metrópoles
Painel com letreiro da COP27, egito 2022 / Metrópoles
1 de 1 Painel com letreiro da COP27, egito 2022 / Metrópoles - Foto: COP27 / divulgação Metrópoles

A primeira semana da 27ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas, a COP27,  confrontou lideranças com dados globais alarmantes. A expectativa para os próximos dias, do ponto de vista da diplomacia brasileira, é que a presença do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sinalize perspectivas da agenda climática e política externa pelos próximos quatro anos.

Lula desembarca no Egito na próxima segunda-feira (14/11), e deve se reunir com secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres antes das reuniões bilaterais – com Joe Biden (EUA), Emmanuel Macron (França). Em seguida, o petista deve ir a Portugal à convite do presidente Marcelo Rabelo Sousa.

De Amazônia a democracia: desafios e trunfos de Lula na política externa

Na ótica brasileira para a COP27, o protagonismo na questão da segurança alimentar; a quebra de barreiras na União Europeia ao agronegócio brasileiro – aliado à proteção da floresta amazônica; e a abertura para fontes energéticas sustentáveis, como o hidrogênio verde, devem pautar as discussões com a presença do próximo chefe do Planalto.

Os encontros bilaterais visam reconstruir pontes partidas durante o último governo e reposicionar o Brasil no cenário geopolítico. As perspectivas globais, por outro lado, conforme o que foi observado na primeira semana de conferência, estão mais contidas. O legado dos anos de pandemia e o abalo econômico da guerra na Ucrânia têm freado compromissos financeiros.

Crise climática

A COP27 começou no último domingo (6/11) e vai até o dia 18 de novembro, em Sharm el-Sheikh, no Egito. A cúpula tem a proposta de apresentar soluções para todas as nações envolvidas no esforço global de frear a crise climática, mas esbarrou nos altos níveis inflacionários da Europa e dos EUA, na crise energética e nos rombos fiscais deixados pela pandemia.

As negociações até o momento se formalizaram em torno da redução dos gases dos efeitos estufa e do controle sobre os impactos das mudanças climáticas – que já são uma realidade. Mas, o mapa na mesa este ano é bastante diferente do encontrado na COP26, na Escócia.

Para a próxima semana, a questão que deve ganhar protagonismo gira em torno de como os países industrializados, que mais contribuíram com problemas ambientais, deveriam arcar financeiramente com os reparos dos países que sofrem os impactos das mudanças climáticas diretamente: a esse fenômeno, foi dada a denominação de “perdas e danos”.

Pauta financeira

O mecanismo começou a avançar em Sharm el-Sheikh depois de entrar, pela primeira vez, na agenda oficial de uma COP. Ele se sustenta uma vez que o montante que os países mais pobres estão exigindo ultrapassam os 100 bilhões de dólares por ano que os países ricos já concordaram em transferir, e agora estão estimados em uma cifra de duas a cinco vezes maior.

Segundo o Leonardo Paz, pesquisador do núcleo de prospecção internacional da Fundação Getulio Vargas (FGV), o principal desafio dos dias de conferência a seguir gira em torno de como os países irão lidar com a maior demanda financeira para a crise climática, diante da instabilidade energética no inverno que se aproxima no hemisfério Norte.

“É difícil ter clareza sobre o quanto os países mais ricos aceitarão essas demandas. Até porque, o momento histórico não favorece que esses países cedam em prol da questão climática. Acho que, no caso dessa COP, é mais fácil ser pessimista, pelo menos até que a Guerra na Ucrânia se resolva”, avalia.

Descarbonização

Ainda que as finanças se mostrem um impasse, na quinta-feira (10/11), os chefes de Estado apresentaram um pacote com 25 medidas rumo à descarbonização global.

A iniciativa se dá partir de cinco temas focais: energia, transporte rodoviário, aço, hidrogênio e agricultura; e mira setores responsáveis ​​por mais de 50% das emissões globais de gases de efeito estufa. As metas foram projetadas para reduzir os custos de energia e aumentar a segurança alimentar, tema da conferência deste ano.

As questões prioritárias incluem:

  • Definições comuns para aço de baixa emissão e emissão próxima de zero, e bilhões de libras em investimentos em hidrogênio e baterias sustentáveis;
  • Implantação de projetos de infraestrutura, incluindo pelo menos 50 plantas industriais de emissão líquida zero em grande escala; e
  • Definição de uma data-alvo comum para a eliminação gradual de carros e veículos poluentes, de acordo com o Acordo de Paris.

Postura diplomática

A posição do presidente eleito no Brasil, bastante aguardada na cúpula da ONU, não deve ter grandes surpresas, segundo os especialistas consultados pelo Metrópoles. 

Ainda que tenha um histórico bastante diferente do atual governo de Jair Bolsonaro (PL) em termos de visão ambiental, o próximo mandatário brasileiro chegará ao Egito com missões não cumpridas — por fatores como a falta de recursos e a não execução de medidas concretas —, e diante do aumento de conflitos diplomáticos.

“O discurso de Lula deve representar um giro de 180 graus em relação ao que foi apresentado nos últimos quatro anos, o que gera certa expectativa. Ele deve falar da transição energética, que é algo mais fácil do que há 10 anos atrás, em função da tecnologia mais barata, assim como defender uma agricultura mais sustentável”, pontua Leonardo Paz.

Além das barreiras do meio ambiente, há espaço para outras pautas relevantes, como o andamento do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, a ser discutido com Macron, e um posicionamento mais firme contra a Rússia, que deve estar na lista de assuntos propostos por Joe Biden.

Com a esperada retomada da agenda do petista em fortalecer os Brics, trunfo da agenda brasileira durante o governo Lula (2003-2011), líderes acompanham com atenção qual será o nível de aproximação do governo brasileiro com Vladimir Putin, devido à guerra da Ucrânia.

Márcio Coimbra, cientista político da Fundação da Liberdade Econômica, avalia que “do ponto de vista internacional, a presença de Lula na COP será extremamente desgastante para Bolsonaro”.

Contudo, “aos poucos, o Brasil começa a retornar à liderança de um tema que é naturalmente líder e foi por muitos anos”, adicionou.

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