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Um mês após a morte de seu líder, Hassan Nasrallah, assassinado em 27 de setembro em um ataque aéreo israelense no Líbano, o Hezbollah escolheu um novo secretário-geral, o Sheikh Naim Qassem, secretário-geral adjunto do movimento islâmico radical xiita libanês desde 1991. Com grande experiência política, o ex-professor universitário é conhecido como o “historiador do Hezbollah”.
Os sobreviventes do mais alto órgão de governo do Hezbollah, o Conselho Shura, que tinha sete membros antes do início da guerra que começou em 23 de setembro, escolheram um novo secretário-geral, o Sheikh Naim Qassem. Aos 71 anos, o ex-professor de química da Universidade Libanesa nasceu na localidade de Kfarfila, no sul do Líbano. Ele faz parte do círculo próximo dos fundadores do Hezbollah em 1982.
Qassem, conhecido por ser amável e cortês, assume as rédeas do partido radical num momento crucial na história do Líbano, marcado por uma guerra com Israel que já deixou mais de 2,6 mil mortos, 12 mil feridos e 1,4 milhão de deslocados e causou uma destruição considerável no sul do país, nos subúrbios ao sul da capital Beirute e na planície oriental de Bekaa.
Como secretário-geral adjunto, ele ficou durante muito tempo à sombra de Nasrallah, um homem carismático, que fez do Hezbollah o principal partido político do Líbano, com o apoio do Irã, e o transformou num dos principais atores políticos regionais.
Experiência política
Naim Qassem possui uma sólida formação religiosa, adquirida de um dos mais eminentes ímãs libaneses xiitas, Mohammad Hussein Fadlallah, já falecido.
Ele também pode se orgulhar de uma vasta experiência política construída durante os 33 anos que passou como vice-secretário-geral, ao lado de Hassan Nasrallah, que delegou a ele a gestão de numerosos dossiês de política interna e de certos aspectos das relações externas do partido.
Qassem foi responsável, entre outras coisas, por questões relacionadas com o Parlamento e o governo, onde o Hezbollah é representado por deputados e ministros.
A função desenvolvida pelo xeique ganhou importância a partir de 2006, devido a restrições de segurança que forçaram Hassan Nasrallah a reduzir suas aparições públicas e viagens.
Autor de cerca de 20 obras políticas e religiosas, Naim Qassem é considerado como o historiador e o ideólogo do Hezbollah. O seu livro, “Hezbollah: o caminho, a experiência e o futuro”, de 2008, foi traduzido para o francês. A obra, de 360 páginas, traça as origens do movimento xiita e explica a sua ideologia e objetivos. O livro é o único escrito por um dos fundadores do partido. Suas opiniões religiosas e políticas, por vezes consideradas radicais, provocaram repetidamente controvérsias no Líbano.
Sua experiência política e a proximidade com Hassan Nasrallah, durante mais de três décadas, são alguns trunfos que podem ajudá-lo durante negociações.
Desvantagens de Qassem
No entanto, o perfil de Naim Qassem também tem desvantagens. Ele não está particularmente envolvido em assuntos militares, principalmente geridos pelo próprio Hassan Nasrallah e pelo seu sucessor, o ex-presidente do Conselho Executivo, Hachem Safieddine, morto num ataque israelense em 4 de outubro.
Ainda é cedo para ver se o novo líder vai conseguir compensar seu distanciamento do aparelho militar, que constitui a espinha dorsal do Hezbollah, com a sua legitimidade histórica e política.
Outra desvantagem de Qassem é que o novo líder do Hezbollah usa o turbante branco, e não o preto – como o de Hassan Nasrallah –, reservado aos descendentes do profeta Maomé através da linhagem do seu primo e genro, Imam Ali. Aos olhos dos xiitas, ser um “sayyed” – descendente do profeta – inspira respeito e lealdade.
Durante os três discursos que proferiu desde a morte de Hassan Nasrallah, Naim Qassem parecia cansado, com olheiras e barba desalinhada. As suas aparições pré-gravadas na TV, no entanto, mostraram uma complementaridade entre o discurso político e as ações militares no terreno, marcadas por uma escalada que se manifestou num maior poder de fogo.
Analistas deduziram que o partido conseguiu reconstruir a cadeia de comando e controle, fortemente afetada pelo assassinato de líderes políticos e militares do Hezbollah.
Ao tomar as rédeas do movimento, Naim Qassem assume uma difícil responsabilidade em um momento de virada histórica. O resultado da guerra atual determinará o destino do Hezbollah, mas também o papel e o peso da comunidade xiita no sistema político-confessional libanês.
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