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Como o lockdown, medida para evitar o coronavírus, afeta as crianças

Com creches e escolas fechadas, sem ver os amigos ou fazer esportes, crianças vêm sofrendo impactos da pandemia na Alemanha

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1 de 1 Coronavírus - Foto: Pixabay

Foi no fim de dezembro que Axel Gerschlauer percebeu que algo estranho pairava no ar. Nas últimas três semanas antes do Natal, o pediatra de Bonn, na Alemanha, recebeu em seu consultório três jovens com graves automutilações no antebraço. Três adolescentes em três semanas – normalmente, algo assim só acontece a cada três ou seis meses. “Percebi que havia algo de muito errado”, conta.

Isso porque, atualmente, Geschlauer nem recebe todos os seus pacientes adolescentes, crianças e bebês pessoalmente no consultório. Alguns evitam a consulta presencial por medo de uma infecção pelo coronavírus. O telefone da clínica, por outro lado, não para de tocar: trata-se de pais desesperados e estressados ​​pedindo ajuda.

“Os temas mudaram completamente em direção ao estresse psicológico. Sejam distúrbios de ansiedade, de concentração ou do sono – nos últimos meses, tais reclamações aumentaram enormemente”, conta o médico.

Na Alemanha, escolas e jardins de infância estão fechados em muitos estados desde meados de dezembro, quando as medidas de contenção da pandemia foram reforçadas em todo o país. Atividades de lazer, como esportes coletivos, tampouco são permitidas.

Pediatras relatam atrasos no desenvolvimento infantil

Gerschlauer também é porta-voz da Associação Federal de Pediatras da região da Renânia do Norte, o que faz com que ele tenha acesso a informações sobre como os 13,5 milhões de menores na Alemanha estão se saindo na crise da Covid-19.

Os relatos que ele ouve de seus colegas de profissão em suas rotinas de trabalho soam cada vez mais dramáticos: “Problemas de comportamento, atraso no desenvolvimento da linguagem, ganho de peso entre muitas crianças, imenso consumo de mídia. E pais que não levam seus filhos para exames de rotina.” Tais relatos também são corroborados por uma pesquisa com 347 psicoterapeutas.

Na opinião de Gerschlauer, porém, o impacto total do lockdown sobre as crianças e adolescentes atualmente só pode ser estimado, já que há também muitos casos de maus-tratos infantis, dos quais os pediatras só tomam conhecimento de uma pequena parcela.

Ninguém tem dúvidas de que a Alemanha precisará investir muito tempo e dinheiro para colocar centenas de milhares de meninas e meninos de volta nos trilhos. “Será uma tarefa gigantesca”, avalia Gerschlauer.

“Nos próximos dois anos, precisaremos de um plano e teremos que expandir maciçamente nosso quadro de funcionários. Precisamos de 50% mais pessoal, sobretudo psicoterapeutas”, calcula.

Aumenta procura por ajuda pelo telefone

Na Alemanha, crianças e jovens capazes de identificar por si próprios que precisam de ajuda têm, há 40 anos, um número de telefone à sua disposição: 116111. Antigamente, as chamadas eram motivadas sobretudo por uma primeira desilusão no amor, uma nota ruim na escola ou mesmo brigas com os pais.

Agora, os voluntários viraram também os principais confidentes quando o assunto são as consequências do lockdown, chegando a escutar desabafos de crianças de apenas 8 anos de idade do outro lado da linha.

“Questões de saúde mental e solidão aumentaram muito nos últimos meses. E também temos recebido mais ligações de crianças relatando episódios de violência”, diz Anna Zacharias, especialista em relações públicas do serviço de ajuda.

O telefone da mesa de Zacharias também não para de tocar, pois a organização ganhou destaque na mídia de repente, mais especificamente depois que uma apresentadora de TV alemã, em um apelo emocional contra as medidas de contenção da covid-19, mencionou as 461 mil crianças e adolescentes que ligaram para o 116111 no ano passado.

Talvez esse seja um dos poucos aspectos positivos da crise do coronavírus: que o serviço telefônico de ajuda tenha ficado ainda mais conhecido do que já era por meio de campanhas, folhetos e visitas escolares.

Cresce procura também por serviço online

Além dos 3 mil voluntários treinados para atender as chamadas por telefone, o serviço conta com 80 funcionários que atuam por meio de um chat online. Durante a crise do coronavírus, eles têm sido mais procurados do que nunca, exigindo novos recrutamentos de funcionários nos últimos meses.

“Em 2020, houve um aumento de um terço nas consultas online em relação a 2019”, afirma Zacharias. “As crianças escrevem que todos estão em casa no momento e por isso não podem falar com ninguém ao telefone”, conta.

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