Oceanos retêm 93% do calor global
O relatório diz que o aquecimento dos primeiros 700 metros de profundidade dos oceanos é equivalente a 240 vezes o consumo global de energia humano em 2013
atualizado
Compartilhar notícia
Mais de 93% do aquecimento da temperatura do planeta desde 1970 por causa do aumento da emissão de gases de efeito estufa foi absorvido pelos oceanos. Se a mesma quantidade de calor que foi absorvida ao longo de 2 mil metros de profundidade entre 1955 e 2010 tivesse ido para os 10 quilômetros mais baixos da atmosfera, então a Terra teria passado por um aquecimento de 36°C.
Com essa imagem bastante simbólica que mostra como os oceanos têm funcionado como um escudo do planeta contra o aquecimento global, cientistas alertaram na segunda-feira (5/9), que essa capacidade tem limites e que consequências danosas já são sentidas em todos os níveis de vida nesses ecossistemas. O alerta foi divulgado no Congresso Internacional de Conservação, da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), com o relatório Explicando o Aquecimento dos Oceanos.
Além do conhecido efeito de acidificação das águas provocado pela absorção massiva de gás carbônico, que tem levado a um avanço sem precedentes do branqueamento de corais, o trabalho, que traz a mais abrangente revisão dos estudos publicados sobre o aquecimento dos oceanos, mostra os impactos sobre os mais variados ecossistemas e também sobre os serviços prestados pelos oceanos.
“Todos nós sabemos que os oceanos têm sustentado esse planeta. Como resultado do aquecimento global, eles estão sofrendo de modo agudo. E até 2100 é provável que ele aqueça ainda mais, de 1°C a 4°C. Numa escala ecológica do tempo, isso significa amanhã”, disse Inger Andersen, diretora-geral da IUCN. Ao absorver CO2 e a maior parte do aquecimento, ressaltou Inger, os oceanos funcionam como “nossos aliados”, mas a questão é saber quanto mais são capazes disso.
O relatório diz que o aquecimento dos primeiros 700 metros de profundidade dos oceanos é equivalente a 240 vezes o consumo global de energia humano em 2013. “O calor e o CO2 acumulados no oceano não estão permanentemente presos, mas podem ser lançados de volta à atmosfera quando a superfície do oceano estiver anormalmente quente, dando um rápido e positivo retorno ao aquecimento.”
Furacões
Acredita-se que a situação já tenha colaborado para um aumento da severidade de furacões, apesar de a frequência global deles não ter mudado significativamente. O cálculo é que a intensidade deles aumente de 25% a 30% a cada grau a mais de aquecimento.
Dan Laffoley, vice-presidente do setor marinho da comissão da IUCN sobre áreas protegidas, que coordenou o relatório, resumiu algumas das consequências observadas: “Vemos espécies mudando em direção aos polos em 10° de latitude. Isso é de 1,5 a 5 vezes mais rápido do que qualquer outra coisa que temos visto em terra Temos visto perda de áreas para reprodução, impacto no sucesso reprodutivo, mudanças nas estratégias de forrageamento.”