Chile cancela cúpula do clima e fórum do Pacífico após protestos
Final da Libertadores por enquanto está mantida, mas presidente do país deve se reunir ainda hoje com líderes da Conmebol
atualizado
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Pressionado por grandes protestos que têm terminado em confronto e depredações, o presidente do Chile, Sebastián Piñera, desistiu na manhã desta quarta-feira (30/10/2019) de receber duas importantes cúpulas internacionais que ocorreriam este ano no país. A reunião da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), nos dias 16 e 17 de novembro, e a Conferência do Clima da ONU, a COP25, inicialmente prevista para ocorrer no Brasil.
Depois da negativa do presidente Jair Bolsonaro (PSL) em abrigar o evento, ele havia sido remarcado para Santiago, onde ocorreria de 2 a 13 de dezembro.
A decisão de Piñera aumenta as dúvidas sobre a realização em Santiago da final da Libertadores, entre Flamengo e River Plate, marcada para o dia 23 de novembro, às 17h30.
A Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) e o governo mantêm a disposição de promover a disputa na capital chilena, mas o presidente da associação de futebol local, Sebastián Moreno, afirmou esta semana que “também é preciso estar atento à realidade nacional”. Nesta manhã, em La Moneda, assessores do presidente reafirmaram a realização do jogo. Piñera conversaria com representantes da Conmebol ainda nesta quarta-feira.
Ao justificar as desistências de receber a Apec e a COP25, Piñera atribuiu a medida “às difíceis circunstâncias que nosso país tem vivido e considerando que nossa primeira preocupação e prioridade como governo é se concentrar absolutamente em, primeiro, restabelecer plenamente a ordem pública, a segurança cidadã e a paz social”. Ele acrescentou ainda que a decisão havia causado “muita dor”.
Piñera enfrenta uma série de manifestações que começaram como uma reação ao aumento da tarifa no metrô e ampliaram suas reivindicações. Nesta quarta-feira, uma nova marcha ocupará o centro de Santiago. Desta vez, o foco principal é o preço dos pedágios na região metropolitana.
Na reunião da Apec, a Casa Branca esperava que o presidente Donald Trump assinasse com o chinês Xi Jinping o primeiro protocolo para um acordo comercial que colocaria fim à disputa entre os dois países.
Brasil retirou candidatura para sediar COP
Em novembro do ano passado, o Brasil retirou candidatura para sediar o evento, que foi, na sequência, abraçado pelo governo chileno. O governo alegou como motivo “dificuldades orçamentárias” e o processo de transição presidencial. Após ser eleito, o presidente Jair Bolsonaro defendeu a decisão do Brasil de não sediar a conferência. “Abrimos mão de sediar a Conferência Climática Mundial da ONU, pois custaria mais de R$ 500 milhões ao Brasil”, escreveu no Twitter em dezembro.
É a maior crise social do país desde o retorno da democracia no Chile, em 1990. Piñera afirmou que deveria se dedicar totalmente à restauração completa da ordem pública, promovendo a agenda social para responder às demandas das ruas e sustentar um amplo diálogo com a sociedade e o mundo político. “Foi uma decisão muito difícil. Uma decisão que nos causa muita dor, porque entendemos completamente a importância da Apec e da COP para o Chile e para o mundo”, disse.
Segundo ele, foi uma decisão baseada em um “sábio princípio de bom senso”. E explicou: “Quando um pai tem problemas, ele sempre precisa privilegiar sua família em detrimento de outras opções. Como um presidente, você sempre deve colocar seus próprios compatriotas à frente de qualquer outra consideração”, disse.
Essa terça, 12º dia de protestos, foi marcada pela bipolaridade entre manifestações pacíficas e distúrbios, que foram dispersados com gás lacrimogêneo e balas de borracha, algo que está se tornando rotina nos protestos que acontecem no país contra a desigualdade social.
Enquanto na Praça Itália, milhares de pessoas protestavam em um ambiente festivo, com bandeiras e palavras de ordem contra o governo de Piñera, a poucos metros, grupo de encapuzados entrou em conflito com os carabineiros (polícia militarizada).
A mobilização pretendia chegar pacificamente ao Palácio de La Moneda (sede do governo), mas os policiais trabalharam para impedir que chegassem ao local. Quando os manifestantes tentaram avançar, os carabineiros lançaram bombas de gás lacrimogêneo e jatos d’água.