Chefe de resgate na Tailândia: “Não sabemos se foi milagre ou ciência”
Marinha tailandesa comemora operação que resgatou 12 meninos e um adulto presos há mais de duas semanas em caverna
atualizado
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Todos os 12 meninos de uma equipe de futebol juvenil e seu treinador, presos por mais de duas semanas nos confins de uma caverna inundada no norte da Tailândia, foram salvos numa arriscada operação de resgate que foi assistida por todo o mundo e custou a vida de um mergulhador. “Não temos certeza se foi um milagre, ciência ou o quê. Todos os 13 Wild Boars [nome do time] estão, agora, fora da caverna”, afirmou nesta terça-feira (10/7) a Marinha tailandesa, coordenadora da missão. “Todo mundo está seguro.”
Com a informação, gritos de comemoração irromperam num escritório do governo local onde dezenas de voluntários e jornalistas aguardavam notícias sobre a missão de resgate. “Fizemos algo que ninguém pensou ser possível. Foi inédito no mundo”, comemorou o chefe da operação, Narongsak Osottanakorn, ao final do resgate. “Foi uma ‘missão possível’ para a equipe Tailândia.”
O oficial lembrou: “Dessa vez, os heróis foram pessoas de todo o mundo”, referindo-se aos socorristas de várias nacionalidades que ajudaram no resgate. “Essa missão foi bem-sucedida porque tivemos o poder do amor. O mundo emanou isso aos 13 [presos].” “Quando há vontade, há um caminho”, acrescentou Churat Panngao, um comandante da polícia regional próximo à operação.
Pão com chocolate
Segundo médicos, os meninos estão, “de um modo geral”, com boa saúde e disposição. Em dois casos há suspeita de infecção pulmonar. Eles deverão ficar internados por no mínimo sete dias.
“Os garotos são jogadores de futebol, então têm bons sistemas imunológicos”, afirmou Jedsada Chokdumrongsuk, secretário do Ministério de Saúde Pública da Tailândia. “Eles estão de bom humor e felizes de terem saído. Mesmo assim, um psiquiatra ainda vai avaliá-los.”
Os pais não puderam se reunir às crianças até agora, dado o risco de infecção, mas alguns deles já viram seus filhos através da janela de vidro do quarto onde os rapazes estão hospitalizados. Se o resultado dos exames der negativo – sem infecção ou doença –, eles poderão visitá-los, mas terão que usar roupas médicas específicas, explicou Osottanakorn, chefe da operação.
Chokdumrongsuk acrescentou que os quatro primeiros garotos resgatados já comem normalmente, apesar de comidas mais apimentadas – algo típico da culinária tailandesa – estarem sendo evitadas. Segundo o secretário, os meninos pediram por pão com chocolate e tiveram seu desejo atendido pelos médicos. Eles estão usando óculos escuros como precaução enquanto seus olhos ainda se ajustam à luz, afirmou Chokdumrongsuk.
Surpreendidos por chuvas monçônicas, os meninos, com idade entre 11 e 16 anos, ficaram presos na caverna no último dia 23 de junho, durante uma excursão ao local guiada por seu técnico de futebol. Eles foram encontrados na segunda-feira da semana passada (2/7), após dias de intensas buscas, das quais participaram mais de 1.300 pessoas.
Oito dos 12 garotos foram resgatados nos primeiros dois dias, domingo (8) e segunda (9). Os quatro jovens restantes e o treinador, de 25 anos, deixaram a caverna com segurança nesta terça-feira (10). Um médico e três mergulhadores da Marinha que estavam ao lado do grupo, desde o início do resgate, saíram várias horas depois, dando fim à delicada operação.
Uma tia de Ekkapol Chantawong, o técnico dos garotos, disse estar feliz e animada. “Quando eu puder vê-lo, quero apenas abraçá-lo e dizer que senti muita saudade dele”, afirmou Amporn Sriwichai.
Para Payap Maiming, um tailandês que ajudou a fornecer alimentos e outros materiais à equipe de resgate e aos jornalistas, “um milagre aconteceu”. “Estou feliz em nome de tailandeses de todo o país – e também de pessoas em todo o mundo, porque todos os canais de notícias mostraram essa história, como nós esperávamos”, disse ele. “É realmente um milagre. A esperança e a fé nos possibilitaram esse sucesso.”
Elogios
As últimas ambulâncias transportando os meninos foram recebidas sob aplausos da população ao chegarem a um hospital na cidade de Chiang Rai, onde eles estão internados. “Quero dizer ao técnico: muito obrigada por ter ajudado os garotos a sobreviverem por tanto tempo”, afirmou uma moradora, trajando um vestido tradicional e com lágrimas nos olhos.
“Eu me lembro do rosto de todos eles, especialmente do mais novo. Ele é o menor deles e não tem tanta experiência quanto os outros. A sensação é de que ele era meu próprio filho, e eu queria a volta dele para casa”, acrescentou a mulher.
Dias antes de começar a retirada dos jovens ilhados, o mergulhador belga Ben Reymenants, membro da operação, havia atribuído ao treinador a boa condição em que os meninos se encontravam. “Eles estão mentalmente estáveis. Felizmente, o técnico teve a sanidade mental de mantê-los todos juntos, amontoados para conservar sua energia. Isso basicamente os salvou”, disse.
“Crianças incrivelmente fortes”
O grupo estava preso em uma gruta a quase 4km da entrada da caverna e, para deixar o local, precisou atravessar passagens parcialmente inundadas e fortes desníveis em condições de visibilidade nula. Dois mergulhadores profissionais auxiliaram cada um dos resgatados a fazer a travessia.
“Eles foram forçados a fazer algo que nenhuma criança jamais fez antes. Está longe de ser normal garotos de 11 anos mergulharem em cavernas”, afirmou à emissora BBC o mergulhador dinamarquês Ivan Karadzic, um dos integrantes da operação. “O ambiente é considerado extremamente perigoso, com visibilidade nula. A única luz lá dentro é a da lanterna levada por nós.”
Karadzic explicou que eram muitos os riscos enfrentados pela equipe, de um possível pânico por parte dos garotos à falha de equipamentos. “Não consigo entender quão incríveis são essas pequenas crianças. Elas ficaram presas durante duas semanas, sem ver suas mães. São crianças incrivelmente fortes. Quase inacreditável”, disse o mergulhador.
Questionado sobre o sentimento ao ver o primeiro garoto saindo da caverna, ele respondeu, emocionado: “Eu estava muito assustado porque, quando avistei o mergulhador e o menino, a cerca de 50 metros, não podia ver muito bem. Não sabia se a criança estava viva. Então, eu estava muito assustado. Não foi uma sensação boa. Mas, quando soube que estava tudo certo, foi ótimo”.