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Chanceler russo defende Brasil no Conselho de Segurança da ONU

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, falou sobre a passagem da presidência dos Brics para o Brasil em 2025

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1 de 1 Imagem colorida mostra Sergey Lavrov, chanceler da Rússia - Metrópoles - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, concedeu entrevista à editora-chefe da rede TV BRICS, Ksenia Komissarova e falou sobre os avanços do bloco sob a presidência russa e sobre a necessidade de mudanças na governança global. Veja os principais pontos da entrevista:

Quais são os principais resultados da cúpula dos Brics em Kazan e do período da presidência russa em geral?

A cúpula demonstrou a crescente influência do Brics e o interesse de um número cada vez maior de países em participar de suas atividades. Diversos países solicitaram oficialmente adesão como membros plenos. Outros manifestaram interesse em se tornarem países parceiros. Essa é uma nova categoria, que foi aprovada pela cúpula em Kazan. Em 2023, aumentamos o número de membros de cinco para dez. No momento, decidimos limitar-nos à criação da categoria de países parceiros e formar esse grupo para que os “novos” e “antigos” membros plenos do Brics possam trabalhar juntos nesta nova composição.

Nesse sentido, a presidência russa avançou consideravelmente. Trabalhamos de forma harmoniosa. Houve consenso em praticamente todas as questões principais. Sempre há nuances. A Declaração [de Kazan] aprovada foi acertada com base em um equilíbrio de interesses. Ninguém, como costuma ocorrer em fóruns ocidentais, tentou pressionar. Procuramos formulações mutuamente aceitáveis e as encontramos em todos os temas.

O principal “tom” dessa declaração é a necessidade de aumentar substancialmente a representatividade do Sul Global e do Leste Global nos mecanismos de governança global, incluindo o Conselho de Segurança da ONU, o FMI, o Banco Mundial e a OMC.

No que diz respeito ao sistema monetário e financeiro internacional, há duas conclusões principais. A primeira é a reivindicação para que os países em desenvolvimento, especialmente os países do Brics, como as economias de crescimento mais acelerado, obtenham a quantidade de votos nos conselhos do FMI e do Banco Mundial que corresponda ao seu peso real na economia global e à sua participação no PIB mundial. Atualmente, essa quantidade de votos é significativamente subestimada, pois os EUA se recusam categoricamente a redistribuir quotas e a ceder seus votos. No momento, os EUA possuem um “pacote” de votos no FMI que os permite vetar qualquer decisão. Isso é incorreto.

O mesmo ocorre na OMC. Há muitos anos, no mínimo dez anos, os EUA bloqueiam o órgão de solução de disputas, que é essencial para o funcionamento da OMC. Questões como acusações de dumping, preços excessivos e tarifas desproporcionais deveriam ser resolvidas por esse órgão, mas ele está inativo devido à falta de quórum. Os EUA não demonstram intenção de resolver essa situação.

Proteger-se disso, criar sistemas de compensação e plataformas de pagamento que não estejam expostas a esses riscos, é agora uma tarefa comum. Esse tema estava na agenda da cúpula em Kazan e das reuniões realizadas ao longo do ano entre ministros das finanças e chefes de bancos centrais. Já foram elaboradas recomendações. Elas ainda não são definitivas, mas já permitem iniciar a criação de sistemas confiáveis, sustentáveis e de longo prazo. Estou confiante de que o Brasil, como próximo presidente [do Brics], continuará esse trabalho.

O senhor mencionou a expansão do Brics. Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos aderiram ao grupo. Que mudanças positivas ocorreram no Brics com a adesão deles?

O “novo” Brics, ou como nossos colegas chineses o chamam, o “grande Brics”, já representa 35% do PIB mundial, se considerado em paridade de poder de compra. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, citou essa estatística, destacando que ela supera em alguns pontos percentuais a participação dos países do G7 no PIB global. Com 42% da população mundial, essa é uma proporção expressiva, além de mais de 30% das terras e, em média, um quarto das exportações globais. Esse percentual só aumentará ao passo que cresce, rapidamente, a produção industrial nos países-membros do Brics e nos Estados que buscam [fazer parte da] associação.

Quanto aos países recém-admitidos, o Egito é líder, tendo a maior economia e representando a nação mais influente do Norte da África e da Liga Árabe, cuja sede está no Cairo. A sede da União Africana está na Etiópia, o que lhe confere um duplo papel: o de parceiro nacional e o de representante de toda a União Africana. A República Islâmica do Irã é um Estado com potencial econômico significativo, ocupando o terceiro lugar mundial em reservas de petróleo. Os Emirados Árabes Unidos são um dos principais centros logísticos, comerciais e de reexportação da economia global moderna, o que é amplamente reconhecido.

A Arábia Saudita é líder do mundo muçulmano e abriga os dois santuários sagrados do Islã. Cada um desses membros tem uma reputação merecida, [cada um] é respeitado globalmente e fortalece a autoridade do próprio Brics.

A Rússia está transferindo a presidência do Brics para o Brasil. Além da plataforma de pagamentos, que outros tópicos e resultados o senhor espera das atividades do grupo em 2025?

Acredito que a plataforma de pagamentos, os mecanismos de compensação e os mecanismos de seguro estarão entre as prioridades da presidência brasileira. O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, foi o iniciador, na Cúpula do Brics em Joanesburgo, em 2023, da discussão sobre sistemas de pagamento alternativos, um dos temas da presidência russa. Em resposta a essa iniciativa, que foi formalizada na Declaração de Joanesburgo, ministros das finanças e chefes de bancos centrais trabalharam na questão. Houve progresso, mas é necessário concluir esse trabalho para que já existam mecanismos prontos para uso.

Não tenho dúvidas de que nossos colegas brasileiros trabalharão com grande empenho, considerando que essa é uma iniciativa do presidente deles. Acredito que o próprio presidente Lula da Silva fará questão de que esse tema seja uma das prioridades.

Esperamos, e tenho certeza de que assim será, a continuidade das iniciativas russas. Entre elas estão a bolsa de grãos, a plataforma de investimentos, o grupo de trabalho sobre transporte e sobre medicina nuclear. Esses são todos projetos práticos, de interesse para todos os membros do Brics. Não tenho dúvidas quanto a isso. Iremos apoiar ativamente os brasileiros.

Sem dúvida, essa base filosófica para as atividades da associação será mantida. Refiro-me ao movimento em prol da democratização das relações internacionais; ao aumento do papel dos países em desenvolvimento, da maioria mundial nos mecanismos de governança global. Mencionei o FMI, o Banco Mundial e a OMC. Esse trabalho continuará em paralelo com a criação de nosso próprio sistema, independente de riscos externos.

Uma representação mais justa dos países do Sul e do Leste Globais nos mecanismos de governança global exige a reforma da ONU e de seu Conselho de Segurança.

Confirmamos claramente nossa posição: apoiamos exclusivamente o aumento da representatividade dos países da Ásia, África e América Latina. O Ocidente já está representado de maneira desproporcional: dos 15 membros do Conselho de Segurança, seis representam o Ocidente. Isso não é condizente com nenhuma estatística relativa à população, à produção industrial e ao tamanho dos respectivos países. Especificamente, apoiamos a Índia, o Brasil e a iniciativa coletiva promovida pela União Africana no sentido de reformar o Conselho de Segurança.

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