Brasileiros buscam filha de barriga de aluguel e ficam presos em Kiev
Kelly Muller e Fabio Wilkes chegaram a Kiev ainda em janeiro, mas ficaram presos na capital em razão da invasão russa à Ucrânia
atualizado
Compartilhar notícia
O casal de brasileiros Kelly Lisiane Muller e Fabio Wilkes chegou a Kiev, capital da Ucrânia, antes das tropas russas invadirem o país. Eles foram ao Leste Europeu, ainda no início de janeiro, para buscar a filha, Mikaela, gerada em uma barrida de aluguel, mas não conseguem retornar ao Brasil desde a invasão russa.
Em entrevista ao portal G1, a família conta que está presa no que se tornou um abrigo improvisado. Cerca de 40 pessoas, entre adultos, crianças e recém nascidos também estão em uma sala de 40 m², que antes era um refeitório que atendida estrangeiros que vão ao país para buscar as crianças geradas em barriga de aluguel.
“Escutamos explosões, olhamos pela janela e tem filas de carros parados. É cenário de filme. Quando a minha filha sorri e esqueço que tem uma guerra lá fora. Estamos de mãos atadas, não tem o que fazer com uma bebê recém nascida nos braços”, relatou Kelly.
No local estão estrangeiros da Itália, Alemanha, Noruega, Turquia e outros do Brasil. Todos que estão no abrigo foram para Ucrânia para buscar os filhos que foram gerados por reprodução assistida.
“Enquanto tem criança que brinca, criança que dorme e adultos ligados o tempo todo ao celular tentando falar com as embaixadas. É uma mistura de sensações. Como vou explicar? Enquanto as crianças são ingênuas, os adultos estão preocupados”, contou, preocupada.
Há quase dois meses em Kiev, Kelly disse que não esperava que o conflito pudesse realmente ocorrer.
“Por aqui todos estavam calmos e tentando levar a vida, até que na madrugada de quarta-feira, acordei para ver minha bebê de madrugada e depois vieram as explosões”, afirmou.
“Não tem como eu pegar um ônibus e ir embora”
A ideia inicial do casal era deixar a Ucrânia logo após o nascimento da filha, que ocorreu em 27 de janeiro, mas os dois foram diagnosticados com Covid e precisaram fazer uma quarentena, o que atrasou a burocracia relacionada à documentação da recém-nascida e fez com que a família estivesse no país durante a guerra.
A brasileira relatou que, para ela, a melhor opção no momento é permanecer no abrigo. “A Rússia está invadindo o país, não tem como pegar um ônibus ir embora. Em horas, tudo mudou. A gente tenta passar tranquilidade, mas é muito assustador”, contou.
“Tenho medo de acontecer no trajeto, esse é o motivo para não sairmos. Essa é nossa preocupação: nossa segurança. Agora não é hora de se expor, sair na rua, ficar preso num carro, correr o risco de ficar em um fogo cruzado ou correr o risco de ficar de frente com um grupo. Esse é o motivo que faz a gente permanecer”, prosseguiu Kelly.
Conflito entre Rússia e Ucrânia
A Rússia, com autorização do presidente, Vladimir Putin, iniciou na madrugada de quinta-feira (24) uma ampla operação militar para invadir a Ucrânia. Em pronunciamento, ele fez ameaças e disse que quem tentar interferir no conflito sofrerá consequências nunca vistas na história.
Veja um resumo de como foi a última madrugada:
- Rússia diz ter tomado Melitopol, cidade no sul da Ucrânia
- Vídeos: míssil atinge prédio residencial em Kiev, capital da Ucrânia
- “Não abaixaremos as armas”, diz Zelensky; Kiev resiste ao ataque russo
- Sob ataque, parte da Ucrânia fica sem sinal de internet
- Número de refugiados após invasão da Ucrânia chega a 100 mil, diz ONU
- Zelensky recusa resgate pelos EUA: “Preciso de armas, não de carona”
- Ucrânia afirma que 2,8 mil soldados russos já foram mortos
Na sexta (25/2), em pronunciamento gravado, o presidente do país, Volodymyr Zelensky, alertou que a capital Kiev estava sob perigo de tomada pelos russos e fez um apelo: “Não podemos perder a capital”. O presidente ucraniano ainda afirmou que acredita que os conflitos irão se acentuar.
“O destino do país será decidido agora. Esta noite será mais difícil do que o dia. Muitas cidades do nosso estado estão sob ataque. Chernihiv, Sumy, Kharkiv, nossos meninos e meninas em Donbass, as cidades do sul, atenção especial a Kiev”, ponderou.
Ele repetiu: “Esta noite será a mais difícil. O inimigo vai com tudo. Devemos resistir. A noite será muito difícil, mas o pôr do sol virá”.