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Brasil lidera deslocamentos internos por desastres nas Américas

Relatório revela que o país teve mais de um terço dos casos de deslocamentos por desastres na região, com 745 mil pessoas afetadas em 2023

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1 de 1 Imagem colorida de homem atravessando enchente em Porto Alegre - Metrópoles - Foto: Acnur/Eduardo Aigner

Brasil é o país com o maior número de deslocamentos internos causado por desastres nas Américas. De acordo com o relatório do Centro de Monitoramento de Deslocamento Interno, lançado na terça-feira (14/5), o país foi responsável por mais de um terço dos deslocamentos por desastres na região, com 745 mil pessoas afetadas.

Segundo o estudo, este é o maior número registrado pelo Brasil desde o início dos registros em 2008. As condições de La Niña no primeiro trimestre do ano causaram uma estação chuvosa intensa em março nos estados do Norte, como Acre, Amazonas e Pará, e no estado nordestino do Maranhão, resultando em um total combinado de 116 mil deslocamentos.

Fenômenos climáticos

Atrás do Brasil, a Colômbia também viu os números aumentaram em comparação com os anos anteriores. Peru e Chile também registraram números excepcionalmente altos de deslocamentos devido a enchentes.

Segundo dados do relatório, a transição do fenômeno La Niña para El Niño teve impactos distintos em diferentes países. Enquanto o La Niña trouxe chuvas intensas em áreas próximas ao equador, o início do El Niño trouxe condições mais secas na segunda metade do ano. As chuvas se deslocaram para o sul em direção à Argentina, Chile e Uruguai.

Recentemente, outro levantamento da Organização Internacional para Migrações, OIM, identificou que enchentes foram a principal causa do deslocamento de mais de 700 mil brasileiros ao longo do ano de 2022. O país sofreu com número recorde de eventos climáticos extremos em 2023, segundo a Organização Meteorológica Mundial, OMM.

Outros 16 mil brasileiros foram deslocados por conflitos em 2023. No entanto, esses dados só estão disponíveis desde 2021, o que limita a análise mais aprofundada das tendências. O relatório aponta que os casos registrados no país no último ano quase triplicam a cifra de 2022, que foi provavelmente uma subestimativa baseada apenas em expulsões e destruição de moradias associadas a conflitos por terras.

Tendência global

Globalmente, um número sem precedentes de 75,9 milhões de pessoas estavam vivendo em situação de deslocamento interno no final de 2023. Quase 47 milhões de novos deslocamentos internos, ou movimentos, foram registrados.

O diretor-geral adjunto da Organização Internacional para as Migrações (OIM), Ugochi Daniels, afirma que o relatório é um lembrete da “necessidade urgente de expandir a redução do risco de desastres, apoiar a construção da paz, garantir a proteção dos direitos humanos e, sempre que possível, evitar o deslocamento antes que ele aconteça.”

O estudo mostra que o conflito e a violência provocaram 20,5 milhões de deslocamentos. Desses, o Sudão foi responsável por quase 30%, enquanto a Faixa de Gaza foi responsável por 17% nos últimos três meses do ano.

Os desastres continuam deslocando milhões de pessoas todos os anos. Em 2023, desastres como o ciclone Freddy no sudeste da África, terremotos na Turquia e na Síria e o ciclone Mocha no Oceano Índico causaram 26,4 milhões de deslocamentos, representando 56% do total de novos deslocamentos internos.

Países de alta renda

O texto ainda aponta que houve um aumento nos deslocamentos induzidos por desastres em nações de alta renda, exemplificado pelo Canadá, onde uma temporada de incêndios florestais sem precedentes levou a 185 mil deslocamentos internos.

Nos próximos anos, espera-se que o número de pessoas deslocadas por desastres aumente à medida que a frequência, a duração e a intensidade dos perigos naturais piorarem no contexto das mudanças climáticas.

Apesar desses desafios, o OIM aponta que ainda existem lacunas de conhecimento e avalia que a comunidade internacional precisa de dados melhores para entender, prevenir, gerenciar e abordar o deslocamento interno em contextos de conflitos e desastres.

Para a OIM, esse estudo é uma ferramenta importante para parceiros humanitários e de desenvolvimento, governos e uma série de grupos de partes interessadas diversas, que trabalham para resolver os deslocamentos existentes e se preparar para deslocamentos futuros.

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