Brasil diz que se absteve na ONU para evitar “polarização” na guerra
País decidiu abster-se na votação por entender que a medida provocaria “polarização e politização das discussões do conselho”
atualizado
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O Ministério das Relações Exteriores defendeu a abstenção do Brasil na votação que suspendeu a Rússia do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU).
Segundo o Itamaraty, o Brasil “decidiu abster-se na votação por entender que a iniciativa implicará polarização e politização das discussões do conselho. Poderá, ademais, resultar no desengajamento dos atores relevantes e dificultar o diálogo para a paz”.
O comunicado divulgado nesta quinta-feira (7/4) afirma que a diplomacia brasileira preza pela “universalidade e imparcialidade” para resolução das violações de direitos humanos em todos os países.
“O Brasil considera importante preservar os espaços de diálogo, por meio de respostas que favoreçam o engajamento das partes em defesa da proteção dos direitos humanos e da paz”, destaca o documento.
O texto manifesta apoio às medidas aplicadas contra o país de Vladimir Putin no âmbito da ONU, defende investigações sobre possíveis casos de violações e declara solidariedade aos ucranianos.
“O governo brasileiro segue a situação na Ucrânia com grave preocupação, sobretudo os relatos de mortes violentas, torturas e maus-tratos”, finaliza.
Votação e pedido de saída
A Rússia pediu formalmente para deixar o Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU). A reação ocorre após Assembleia-Geral aprovar a suspensão do país como represália ao massacre em Bucha, na Ucrânia.
O embaixador russo na ONU, Vassily Nebenzia, anunciou a saída após a votação acachapante contra o país.
Nesta quinta-feira (7/4), a proposta apresentada pelos Estados Unidos, sob o argumento de “violações e abusos flagrantes e sistemáticos dos direitos humanos”, foi chancelada pelos embaixadores.
Ao todo, 93 países votaram pela suspensão da Rússia. O Brasil se absteve da votação, assim como outros 57 países.
No total, 24 nações se manifestaram contra – inclusive a Rússia e os países parceiros, como Belarus.
O projeto de resolução menciona “graves preocupações sobre a crise humanitária e os direitos humanos na Ucrânia”, depois de relatórios sobre violações cometidas pela Rússia. Moscou desmente ter civis como alvo e de ter cometido execuções.
O Conselho de Direitos Humanos foi criado em 2006, e é composto por 47 Estados-Membros, eleitos pela Assembleia-Geral das Nações Unidas. Na história da ONU, só a Líbia foi suspensa do Conselho de Direitos Humanos, em 2011.
Tanto a Ucrânia quanto a Rússia atualmente são membros do conselho. O mandato russo expira em 2023.
Desde o início da invasão, em 24 de fevereiro, a ONU condena a investida militar contra a Ucrânia, e defende a retirada das tropas de Vladimir Putin.
O massacre
A decisão ocorre após o mundo ficar assombrado com vídeos divulgados no domingo (3/4). Nas gravações, é possível ver cenas chocantes da tragédia na cidade de Bucha.
As imagens mostram ao menos 20 cadáveres no chão e em valas comuns. O governo ucraniano diz que mais de 400 corpos de civis foram encontrados na cidade. A guerra completa, nesta quinta-feira (7/4), 41 dias.
A situação foi tratada como massacre por órgãos de direitos humanos, e como “genocídio” pelo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.