Brasil defende na ONU “solução negociada” entre Rússia e Ucrânia
Após Putin ter reconhecido como independentes regiões da Ucrânia, a maioria dos países-membros do órgão da ONU condenou atos da Rússia
atualizado
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O representante brasileiro no Conselho de Segurança das Nações Unidas, embaixador Ronaldo Costa Filho, defendeu que Rússia e Ucrânia busquem “uma solução negociada” e evitem “uma escalada de violência” na região.
A declaração (leia a íntegra abaixo) ocorreu durante reunião de emergência do órgão, realizada na noite dessa segunda-feira (21/2).
“Diante da situação criada em torno do status das autoproclamadas entidades estatais do Donetsk e do Luhansk, o Brasil reafirma a necessidade de buscar uma solução negociada, com base nos Acordos de Minsk, e que leve em consideração os legítimos interesses de segurança da Rússia e da Ucrânia e a necessidade de respeitar os princípios da Carta das Nações Unidas”, disse o Itamaraty em nota distribuída nesta terça-feira (22/2).
“Apela a todas as partes envolvidas para que evitem uma escalada de violência e que estabeleçam, no mais breve prazo, canais de diálogo capazes de encaminhar de forma pacífica a situação no terreno”, prossegue o texto.
Na ONU, países condenam atos da Rússia, que fala em diplomacia
A reunião do Conselho de Segurança da ONU foi convocada após o presidente russo, Vladimir Putin, ter reconhecido como independentes regiões da Ucrânia onde há lutas separatistas. Em resposta, a maioria dos países-membros do órgão condenou o ato.
Em uma cerimônia televisionada pelo governo russo, Putin reconheceu a independência de Donetsk e Luhansk. Depois do anúncio, o mandatário russo ainda decidiu enviar tropas às regiões para, segundo ele, assegurar a “manutenção da paz”.
Na declaração feita na segunda, o representante brasileiro lembra que a situação no Leste Europeu tornou-se crítica e diz que o Brasil vem acompanhando os acontecimentos recentes “com extrema preocupação”.
Sanções
Países ocidentais estudam medidas coordenadas contra a Rússia. O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, anunciou a parlamentares, nesta terça, sanções a cinco bancos russos e três executivos de alto escalão do país.
A União Europeia também deve decidir sobre a aplicação de sanções em uma reunião de ministros das Relações Exteriores europeus, prevista para ocorrer na tarde desta terça.
O Japão também afirmou que “está pronto” para se unir aos Estados Unidos e outras nações do G7 na aplicação dos bloqueios.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo, Maria Zakharova, disse nesta terça que o país está disposto a discutir a crise com o secretário de Estado americano, Antony Blinken.
“Mesmo nesses momentos tão difíceis, nós dizemos: estamos prontos para negociações”, revelou. “Sempre estamos a favor da diplomacia”.
De acordo com Zakharova, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, vai para Genebra, na Suíça, conversar sobre o conflito com Blinken nesta quinta-feira (24/2).
Leia a íntegra da declaração do embaixador brasileiro:
“Senhor Presidente,
Quando esta organização foi criada, em 1945, confiou ao Conselho de Segurança a responsabilidade primária pela manutenção da paz e segurança internacionais. A tensão dentro e ao redor da Ucrânia está se agravando diariamente – na verdade, a cada hora –, tornando esta citação habitual da carta de extraordinária importância e relevância.
Todos sabemos como a situação tornou-se crítica. O Brasil vem acompanhando os últimos acontecimentos com extrema preocupação. Nas atuais circunstâncias, nós, neste conselho, em representação da comunidade internacional, devemos reiterar os apelos à imediata desescalada e nosso firme compromisso de apoiar os esforços políticos e diplomáticos para criar as condições para uma solução pacífica para esta crise.
O sistema de segurança coletiva das Nações Unidas baseia-se, em última análise, no pilar do direito internacional. Este, por sua vez, está assentado em princípios fundamentais consagrados na Carta: a igualdade soberana e a integridade territorial dos Estados-Membros; a restrição no uso ou na ameaça de uso da força; e a solução pacífica de controvérsias. No entanto, nosso pilar e nossos princípios não produzirão resultados a menos que as preocupações legítimas de todas as partes sejam levadas em consideração, e a menos que haja pleno respeito pela Carta e pelos compromissos existentes, como os Acordos de Minsk.
Nesse sentido, renovamos nosso apelo a todas as partes interessadas para que mantenham o diálogo com espírito de abertura, compreensão, flexibilidade e senso de urgência para encontrar caminhos para uma paz duradoura na Ucrânia e em toda a região. Um primeiro objetivo inescapável é obter um cessar-fogo imediato, com a retirada abrangente de tropas e equipamentos militares no terreno. Tal desengajamento militar será um passo importante para construir confiança entre as partes, fortalecer a diplomacia e buscar uma solução sustentável para a crise. Acreditamos firmemente que este conselho deve cumprir sua responsabilidade central de ajudar as partes a se engajarem em um diálogo significativo e eficaz para alcançar uma solução que aborde efetivamente as preocupações de segurança na região. Não nos enganemos: no final das contas, estamos falando sobre a vida de homens, mulheres e crianças inocentes no terreno.
Muito obrigado.”