Bombardeios miram lavouras e põem em risco oferta global de alimentos
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirma que, se nada for feito para frear a guerra, a fome afetará diferentes partes do mundo
atualizado
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As tropas russas, segundo o governo da Ucrânia, intensificaram os bombardeios em áreas rurais e estão atacando lavouras. A tática impactará diretamente na oferta global de alimentos, sobretudo de grãos, como o trigo. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirma que, se nada for feito pra frear a guerra, a fome afetará diferentes partes do mundo.
Zelensky usou seu discurso no Parlamento italiano, nessa terça-feira (22/3), para reforçar o alerta. “Os ataques russos estão minando a agricultura ucraniana”, frisou.
O Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (Fida), agência da Organização das Nações Unidas (ONU), tem feito alertas para o risco de faltar comida. E isso não somente os cereais, mas toda a cadeia de derivados.
“Um quarto das exportações mundiais de trigo é proveniente da Rússia e da Ucrânia, e 40% do trigo e do milho ucranianos são destinados ao Oriente Médio e à África, que já se debatem com problemas de fome, e onde a escassez de alimentos, ou o aumento dos preços, corre o risco de empurrar milhões de pessoas para a pobreza”, frisa relatório do Fida.
A guerra, segundo informações de agências internacionais de notícias, já faz os preços do cereal dispararem no mundo, subindo 50% no último mês.
Efeito trigo
A Rússia é o principal exportador de trigo do mundo, e a Ucrânia está na lista entre os 10 maiores. Juntos, eles representam 30% do comércio mundial de cereais.
Nações como Líbano, Egito e Iêmen passaram a depender do trigo ucraniano nos últimos anos. Armênia, Mongólia, Cazaquistão e Eritreia importaram praticamente todo o seu produto dos países em conflito.
Com uma possível crise no mercado de trigo, produtos como o pão francês podem encarecer, mesmo em países distantes geograficamente do conflito ou que não estão envolvidos na crise político-diplomática.
Alertas
O G7, grupo que reúne os países mais ricos do mundo, estima que o número de famintos vai aumentar e que a comida pode ficar até 20% mais cara no mundo todo.
Na França, o presidente Emmanuel Macron trabalha com a “desestabilização” da oferta de alimentos na Europa e na África. O problema, para ele, pode se prolongar pelos próximos 18 meses.
Brasil
Em supermercados e padarias, o brasileiro pode esperar o encarecimento de produtos devido à guerra. Como parte significativa do trigo brasileiro é importada, por exemplo, o recrudescimento do conflito e a falta de um cessar-fogo afetam diretamente o preço do pão.
Apesar de o Brasil estar à frente da Ucrânia no ranking de produção, o país europeu ainda tem papel relevante, e os efeitos da quebra da safra afetam o mundo todo.
O milho também sofrerá reajuste. A Rússia vende 17% do milho do mundo inteiro. As sanções econômicas contra o país farão aumentar o preço de carne bovina, suína e frango. Todos esses animais se alimentam de ração que contém soja e milho.
A dependência brasileira do fertilizante russo é outro problema que pode afetar o agronegócio brasileiro. Em 2021, o Brasil foi o sexto maior destino das exportações russas.
Os fertilizantes e adubos foram os produtos mais importados. Com os bloqueios econômicos, a compra desses itens se tornará mais difícil no país.