BBC Índia é revistada após documentário criticar primeiro-ministro
Documentário abordou a participação do atual primeiro-ministro da Índia em um episódio de conflito religioso, que matou mais de mil, em 2002
atualizado
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Na manhã desta terça-feira (14/1), os escritórios da BBC em Nova Delhi e Mumbai foram alvo de buscas por autoridades fiscais, cerca de um mês após o lançamento de um documentário que aborda o papel do atual primeiro-ministro Narendra Modi em um episódio de violência religiosa que matou mais de mil pessoas em 2002 na Índia.
Segundo a assessoria de imprensa da BBC, a emissora estava cooperando “totalmente” com as autoridades indianas, e disse esperar “resolver essa situação o mais rápido possível”.
The Income Tax Authorities are currently at the BBC offices in New Delhi and Mumbai and we are fully cooperating.
We hope to have this situation resolved as soon as possible.
— BBC News Press Team (@BBCNewsPR) February 14, 2023
Lançado no Reino Unido em janeiro deste ano, o documentário India: The Modi Question despertou a ira do atual primeiro-ministro do país, Narendra Modi, após trazer conclusões de uma investigação inédita sobre os tumultos que tomaram conta do estado de Gujarat, em 2002, entre hindus e muçulmanos. Na época, o político nacionalista atuava como ministro-chefe da região, e foi acusado pelo governo britânico de ser conivente com o conflito que teve “todas as marcas de limpeza étnica”, segundo o relatório.
Os tumultos tiveram início em fevereiro de 2002, após um incêndio de um trem matar 58 hindus. Depois do episódio, Gujarat foi tomada por uma onda de violência civil. Dados do governo indiano mostram que os muçulmanos foram as maiores vítimas do episódio, com 790 mortes.
A investigação do governo britânico acusa Narendra Modi de ser “diretamente responsável por um clima de impunidade”, e afirmou que o então ministro-chefe do estado não agiu para impedir a violência. Na época, um relatório da Human Right Watch apontou que a polícia local não havia interferido e impedido os ataques, principalmente contra mulçumanos, por “ordens de cima”.
O atual primeiro-ministro da Índia sempre negou as acusações e, em 2013, foi julgado inocente após a Justiça afirmar que não existiam provas suficientes contra o político.
Após o lançamento do documentário da BBC, em 17 de janeiro, o Ministério das Relações Exteriores da Índia chamou a produção de “propaganda” com o objetivo de promover uma “narrativa desacreditada” contra o governo do país.
Apesar de não ter sido disponibilizado na Índia, a produção rapidamente foi compartilhada nas redes sociais, despertando a atenção de Narendra Modi, que bloqueou a exibição do documentário no YouTube e Twitter.