Avanço russo força milhares de pessoas a deixarem cidade ucraniana
Com aproximação das tropas russas a Pokrovsk, 1 mil moradores deixam a cidade diariamente. Refugiados não encontram abrigo
atualizado
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A cidade de Pokrovsk, na Ucrânia, tem papel fundamental como centro de logística das forças do país, por ter uma estação ferroviária importante e estar localizada ao centro de várias estradas que a conecta com outros centros militares. Apesar da tentativa de dominar a cidade há meses, acredita-se que o avanço russo finalmente chegará a Pokrovsk, após grande avanço das tropas de Vladimir Putin no último mês.
A evacuação obrigatória para famílias com crianças ocorre esta semana, segundo Serhiy Dobryak, chefe da administração militar-civil de Pokrovsk. Cerca de 1 mil pessoas deixam a cidade todos os dias. Apesar disso, refugiados têm tido dificuldades para encontrar abrigo.
Arina, de 31 anos, tenta, desesperadamente, deixar Pokrovsk. Ela e o marido costumavam trabalhar como dentistas em Selydove, que agora é muito perigoso para ir. Sem encontrar um lugar para morar, o grande “problema” parece ser David, filho do casal, de quase 3 anos.
“Começamos a fazer as malas uma semana antes de eles declararem a evacuação obrigatória, e estamos procurando um apartamento, mas ninguém quer alugar um apartamento para pessoas com crianças, para refugiados”, lamentou Arina à CNN.
David nasceu alguns meses antes do início da guerra entre Ucrânia e Rússia. “Ele só começou a reagir às explosões há dois meses. Eu digo a ele que são fogos de artifício, não quero contar o que está acontecendo. Mas eu escrevi ‘Há uma guerra’ em seu álbum de bebê”, contou a mãe.
“Você se acostuma (a fugir), e é horrível que você possa se acostumar com uma coisa dessas. Primeiro, você cai em depressão e pânico. Tenta começar uma vida em um novo lugar. Você vive e vive e, então, acorda às 5h com mísseis e foguetes voando sobre sua cabeça”, contou Arina.
Estação de trem lotada
Entre as centenas de pessoas que lotavam a estação de trem da cidade ucraniana com ansiedade e aflição, estava Oskana, o marido, as filhas e a mãe. Em meio a eles, muitos choravam e acenavam o último adeus aos entes queridos que ficavam para trás.
O marido de Oksana, Oleh, 34 anos, viajaria com a família no trem que deixou Pokrovsk, na tarde de sábado (24/8), para garantir que estivessem seguras durante o caminho. Mas, depois que elas estivesses seguras, ele voltaria para casa. Mineiro, ele precisa continuar trabalhando, já que o dinheiro está curto, e ele não pode se dar ao luxo de deixar o emprego.
“Eu irei se a mina fechar, e eles nos disserem para ir (embora)”, contou.
Resistência em deixar a cidade
“A maioria das pessoas sai voluntariamente, algumas temos de persuadir”, explicou o chefe da administração militar-civil de Pokrovsk. Para o policial Pavlo Dyachenko, o principal problema é que, para muitas pessoas, a situação ainda não parece tão ruim. “As pessoas aqui têm uma rotina. Elas saem e andam de manhã, pegando suprimentos”, contou à CNN.
“Nós explicamos às pessoas que a situação pode mudar muito rapidamente. Em Selydove, parecia absolutamente bom um dia e, então, as bombas planadoras começaram a chegar”, descreveu. “Está ficando cada vez mais perigoso.”
Apesar disso, experiências anteriores na região sugerem que cerca de 10% das pessoas tendem a ficar (na localidade), não importa o que aconteça; por isso, a cidade continuará fornecendo serviços essenciais enquanto possível. A maioria dos grandes supermercados e lojas fechou, mas algumas empresas menores seguem abertas.
“É claro que as autoridades estão nos pedindo para sair, mas para onde podemos ir? Não temos amigos ou familiares com quem possamos ficar, e ninguém quer alugar um apartamento para pessoas com animais”, lamenta uma lojista. Tenho dois cachorros, e estou alimentando todos os animais por aqui, tenho meu trabalho, minha mãe que tem mais de 80 anos, e mal consegue andar, não posso sair”, disse à CNN.