Como ataque ucraniano contra cidade da Rússia pode mexer com a guerra
Ucrânia lançou invasão inédita contra a cidade de Kursk, na Rússia, mas já declarou que o objetivo não é ocupar o território do país
atualizado
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Em um movimento surpreendente e, até então, inédito, a Ucrânia lançou um ataque contra o território da Rússia no último dia 6 de agosto, em uma incursão que pode mudar as peças no tabuleiro da guerra no Leste Europeu.
Mais de mil militares participaram da invasão contra a cidade russa de Kursk, no último dia 6 de agosto e, em alguns dias, conquistaram posições importantes. De acordo com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, cerca de 74 localidades da região agora estão nas mãos ucranianas.
Inicialmente, o governo de Vladimir Putin tentou passar uma imagem de tranquilidade e informou que as forças de defesa da Rússia estavam controlando a ofensiva. Contudo, o ataque já obrigou mais de 200 mil pessoas a evacuarem Kursk, onde um estado de emergência também foi decretado por autoridades.
A ofensiva ucraniana contra o território russo se estendeu para Belgorod, que passou a ser alvo de bombardeios. Moradores da cidade russa, localizada na fronteira com a Ucrânia, também foram forçados a deixar a região.
Ucrânia quer ocupar o território russo?
Apesar dos ataques contra a Rússia, Kiev já deixou claro que a ofensiva não tem como objetivo ocupar o território do país liderado por Putin, tampouco transferir o front de batalha para o lado russo.
Segundo o conselheiro presidencial de Zelensky, a ofensiva busca pressionar Moscou a negociar um acordo que possa resolver a guerra, que se estende por mais de dois anos apesar de esforços diplomáticos por um cessar-fogo.
“Na região de Kursk, vemos claramente como a ferramenta militar é usada com o objetivo de convencer a Federação Russa a entrar em um processo de negociação justo”, escreveu o conselheiro de Zelensky, Mykhailo Podolyak, em comunicado divulgado no Telegram, nessa sexta-feira (16/8).
Essa é uma visão compartilhada por analistas consultados pelo Metrópoles, mas que também apontam fatores como necessidade política e planos futuros de Zelensky como explicação para o ataque.
“Nós vemos o Zelensky pressionado há muito tempo, com a Ucrânia já sendo vista pela comunidade internacional como perdedora da guerra”, explica o analista de política internacional Vito Villar.
Apesar do objetivo de Kiev, Putin reagiu ao ataque dando a entender que a operação militar ucraniana minou qualquer intenção de Moscou negociar uma solução pacífica para a guerra.
No atual contexto, a ofensiva o território da Rússia, além de uma forma de pressionar Moscou por negociações, também pode ser visto como um recado do governo Zelensky para aliados, em especial os Estados Unidos.
Com a ação, Kiev tenta passar a mensagem de que ainda possui sobrevida na guerra e que, por isso, merece continuar recebendo apoio para lutar contra a potência mundial liderada por Putin.
“Além dessa guerra de imagem que o Zelensky tenta promover, também existe a questão de não sabermos como vai se sustentar esse apoio à Ucrânia, principalmente dos EUA, onde as eleições já se aproximam e tudo pode mudar dependendo de quem seja eleito como o novo presidente do país”, afirma Villar.