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Pelo menos 60 palestinos foram mortos e dezenas ficaram feridos, nesta terça-feira (29/10), em um ataque israelense contra um edifício residencial na cidade de Beit Lahiya, no norte da Faixa de Gaza, informou o ministério da Saúde palestino. Israel enfrenta reação internacional crescente após seu Parlamento aprovar uma lei que proíbe atuação da principal agência de ajuda da ONU para a devastada Faixa de Gaza.
Marwan Al Hams, uma autoridade do ministério controlado pelo Hamas, afirmou que 17 pessoas estão desaparecidas e devem ser contabilizadas como mortas. Além disso, 150 pessoas ficaram feridas, incluindo 20 crianças entre os mortos, de acordo com os médicos.
Em um vídeo analisado pela Reuters, vários corpos podem ser vistos protegidos por cobertores do lado de fora de um edifício de quatro andares. Sobreviventes e outros corpos foram retirados dos escombros, enquanto vizinhos corriam para prestar ajuda.
“Há dezenas de mártires, dezenas de pessoas deslocadas viviam nesta casa. A casa foi bombardeada sem aviso prévio. Como podem ver, há mártires por toda parte, com pedaços de corpos presos às paredes”, disse Ismaïl Ouaïda, uma testemunha que ajudou a resgatar corpos, no vídeo.
As autoridades israelenses ainda não comentaram o incidente.
Veto israelense à agência da ONU
Apesar das objeções dos Estados Unidos e de alertas do Conselho de Segurança da ONU, os legisladores israelenses aprovaram, na segunda-feira (28), o projeto que proíbe a agência de refugiados palestinos das Nações Unidas, UNRWA, de operar em Israel e na Jerusalém Oriental anexada.
O chefe da ONU, António Guterres, afirmou que a lei israelense pode ter “consequências devastadoras” se implementada e “provavelmente impediria a continuidade do trabalho essencial da UNRWA”. Philippe Lazzarini, chefe da UNRWA, alertou que a votação “estabelece um precedente perigoso”.
Israel controla rigorosamente todos os envios de ajuda humanitária para Gaza. Os legisladores também aprovaram uma medida que proíbe autoridades israelenses de trabalhar com a agência e seus funcionários. A UNRWA fornece ajuda essencial, educação e serviços de saúde nos territórios palestinos e a refugiados palestinos há mais de sete décadas.
Alguns aliados ocidentais de Israel expressaram preocupação, incluindo o primeiro-ministro britânico Keir Starmer, que declarou que o Reino Unido estava “muito preocupado”.
A Alemanha, uma firme defensora da segurança de Israel, alertou que a lei “torna impossível o trabalho da UNRWA em Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental, prejudicando a ajuda humanitária essencial para milhões de pessoas”.
“Existe uma conexão profunda entre a organização terrorista (Hamas) e a UNRWA, e Israel não pode tolerar isso”, afirmou o parlamentar Yuli Edelstein, um dos defensores da lei, ao apresentá-la.
O grupo militante palestino Hamas, em conflito com Israel em Gaza, chamou a lei de “agressão sionista”, enquanto seu aliado Jihad Islâmica descreveu a proibição como “uma escalada no genocídio”.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu se pronunciou nas redes sociais que Israel está “preparado” para continuar a fornecer ajuda a Gaza “de uma maneira que não ameace a segurança de Israel”.
Líbano: violência continua
A proibição ocorre em meio aos conflitos em Gaza e no Líbano, onde uma segunda frente de combates foi aberta no mês passado. Na segunda-feira, o chefe de inteligência do Mossad, David Barnea, encontrou-se com mediadores dos EUA e do Catar em Doha, onde concordaram em discutir com o Hamas sobre um possível acordo para libertar israelenses sequestrados em 7 de outubro de 2023.
Nos últimos dias, a possibilidade de um cessar-fogo tem sido discutida, enquanto a violência continua. No Líbano, ao menos 60 pessoas foram mortas em ataques israelenses no Vale do Bekaa, e o grupo Hezbollah, apoiado pelo Irã, disse ter emboscado e enfrentado tropas israelenses na fronteira sul.
Em Gaza, os ataques aéreos e terrestres de Israel continuam, com um cerco em andamento que, segundo autoridades de defesa civil, deixou 100 mil pessoas sem acesso à água e alimentos por 22 dias. Desde o ataque de 7 de outubro do ano passado, 1.206 pessoas foram mortas em Israel, e a ofensiva de retaliação de Israel matou pelo menos 43.020 palestinos em Gaza, a maioria civis, de acordo com dados do ministério da saúde administrado pelo Hamas, considerados confiáveis pela ONU.
Novo chefe do Hezbollah
O movimento xiita libanês Hezbollah anunciou nesta terça-feira a nomeação de seu número dois, Naim Qasem, para suceder Hassan Nasrallah, que foi assassinado em 27 de setembro em um ataque israelense na periferia de Beirute.
O sucessor mais provável de Nasrallah, Hachem Safieddine, foi abatido uma semana depois em uma série de ataques nos arredores da capital libanesa.
Segundo o comunicado, o movimento pró-iraniano informou que o conselho da Shura, seu órgão dirigente, elegeu Naïm Qassem, de 71 anos, como novo secretário-geral.
Naim Qassem foi nomeado vice-líder do Hezbollah em 1991 pelo então dirigente Abbas Moussaoui, que morreu no ano seguinte em um ataque de helicóptero israelense. Qassem manteve seu cargo quando Hassan Nasrallah assumiu como secretário-geral e, ao longo dos anos, se tornou um dos principais porta-vozes da milícia, dando entrevistas à mídia estrangeira, inclusive durante a intensificação das hostilidades com Israel após os ataques de 7 de outubro de 2023 realizados pelo Hamas.
Desde a morte de Hassan Nasrallah, Naïm Qassem fez três pronunciamentos na televisão, incluindo um discurso no último dia 8 de outubro, no qual afirmou que o grupo apoia os esforços em busca de um cessar-fogo no Líbano.
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