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As mudanças no discurso do Papa Francisco sobre o tema LGBTQI+

“Eu diria a quem quiser criminalizar a homossexualidade que ele está errado”, afirmou o Papa Francisco

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1 de 1 Papa Francisco, Sexta-Feira Santa - Metrópoles - Foto: SOPA Images / Colaborador

Historicamente, a religião católica revela uma postura intolerante diante das pessoas LGBTQI+. Elas não podem se casar na igreja e muitas vezes têm sua mera existência considerada um “pecado” aos olhos de Deus. Porém, desde que o Papa Francisco iniciou seu papado em 2013, ele tem tomado atitudes que se aproximam da comunidade, sem romper com os princípios religiosos.

Entretanto, em meio as tentativas de modernizar o cristianismo e respeitar o Vaticano, os discursos de Francisco entram em contradição.

Em 2013, ano em que assumiu o papado, em seu livro “Sobre o Céu e a Terra”, o Papa afirmou que equiparar casamentos homossexuais e heterossexuais era “uma regressão antropológica” e que a permissão de adoção a casais do mesmo gênero poderia afetar as crianças, pois “cada pessoa precisa de um pai homem e de uma mãe mulher que possam ajudá-los a moldar sua identidade”.

Ainda em 2013, Francisco disse que atos homossexuais são pecados, porém a homossexualidade em si, não. “Se uma pessoa é gay, busca a Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgar?”

Em 2018, o Papa disse que tinha preocupações com a homossexualidade dentro do clero e que este era “um assunto sério”.

Em 2020, em uma mudança mais efetiva no discurso, o chefe supremo da Igreja católica defendeu que pessoas LGBTQI+ deveriam ter os mesmos direitos que os casais heterossexuais: “Homossexuais têm o direito de estar em uma família. Eles são filhos de Deus e têm direito a uma família”.

Em 2022, o pontífice fez um apelo para que os pais de filhos de casais formados por LGBTQI+ não os condenem pela orientação sexual.

Em 2023, em entrevista à agência de notícias Associated Press (AP), o papa afirmou que “ser homossexual não é crime, mas é pecado. Tudo bem, mas primeiro vamos distinguir entre um pecado e um crime”. Após a repercussão da fala, ele publicou uma carta em que dizia ter sido mal interpretado por ter utilizado uma linguagem coloquial para a televisão.

“Quando eu disse que é pecado, estava simplesmente me referindo ao ensinamento moral católico, que diz que todo ato sexual fora do casamento é pecado. Claro, deve-se também considerar as circunstâncias, que podem diminuir ou eliminar a culpa. Como você pode ver, eu estava repetindo algo em geral. Eu deveria ter dito ‘É pecado, assim como qualquer ato sexual fora do casamento’. Isso é falar da ‘essência’ do pecado, mas sabemos bem que a moral católica não só leva em consideração a essência, mas também avalia a liberdade e a intenção. E, isso, para todo tipo de pecado. E eu diria a quem quiser criminalizar a homossexualidade que ele está errado”, escreveu.

Ainda em 2023, durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), o Papa disse que pessoas LGBTQI+ devem ser aceitas no catolicismo, pois busca tornar a igreja um lugar mais acessível e menos condenatório.

“A igreja é aberta a todos, então existem regras que regulam a vida dentro dela. Cada um encontra Deus a seu modo. E a igreja é mãe, e guia cada um a seu modo.”

No mesmo ano, o Papa afirmou que mulheres trans também “são filhas de Deus” e criticou países que criminalizam a homossexualidade, pois, segundo ele, “não é crime”.

Em 2024, Francisco disse que a Igreja Católica deveria abençoar casais LGBTQI+ que desejavam casar sob a bênção divina, por um documento do Vaticano chamado Fiducia Supplicans. A declaração de Francisco gerou muita polêmica entre os praticantes da religião.

Aos questionamentos, ele respondeu: “Ninguém se escandaliza se eu der minhas bênçãos a um empresário que talvez explore pessoas, e isso é um pecado muito grave. Mas eles se escandalizam, se eu as dou a um homossexual. Isso é hipocrisia”.

Porém, no dia 8 de abril, o Papa assinou um documento chamado de Dignitas infinita, o qual afirma que “qualquer intervenção de mudança de sexo, como regra, corre o risco de ameaçar a dignidade única que a pessoa recebeu desde o momento da concepção”.

Posição do Vaticano

Após polêmicas em relação à bênção para casais homoafetivos, o Vaticano afirmou que “não é lícito dar uma bênção a relacionamentos, ou parcerias, mesmo estáveis, que envolvam atividade sexual fora do casamento (ou seja, fora da união indissolúvel de um homem e uma mulher aberta em si mesma à transmissão da vida), como é o caso das uniões entre pessoas do mesmo sexo” e que a proibição “não se destina a ser uma forma de injusta discriminação”.

Em nota, o Vaticano afirmou que a Igreja não deve aceitar relacionamentos que não estão de acordo com o ideal católico e que a exceção se dá para “pessoas com inclinações homossexuais, que manifestem a vontade de viver em fidelidade aos desígnios revelados por Deus”.

O prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, cardeal Víctor Manuel Fernández, disse que a bênção para o casamento entre pessoas do mesmo gênero “implica um verdadeiro desenvolvimento do que foi dito até agora sobre as bênçãos, chegando a compreender a possibilidade de abençoar casais em situação irregular e casais do mesmo sexo, sem validar oficialmente o seu estatuto, ou alterar de alguma forma o ensinamento perene da Igreja sobre o casamento”. Ele também afirmou que se trata de “uma ampliação e enriquecimento da compreensão clássica”, por meio de uma reflexão teológica “baseada na visão pastoral do Papa Francisco”.

Diversidade cristã

O grupo brasileiro de jovens LGBTQI+ denominado Diversidade Cristã, da Igreja Católica, afirmou que a declaração Dignitas infinita, “ao categorizar levianamente a inclusão LGBTQI+ como um fenômeno ocidental imposto de forma colonialista a outras culturas, ignora o fato antropológico, documentado por muitos estudiosos mesmo antes dos dias atuais, de que culturas ao redor do mundo e ao longo da história reconheceram e celebraram identidades de gênero, além das reivindicações da igreja de binarismo de gênero masculino/feminino”.

“Felizmente, são muitos os cristãos leigos e leigas, padres, bispos, diáconos, religiosos e religiosas que já acolhem e celebram as pessoas LGBTQI+ como dons de Deus, demonstrando que o amor divino é infinito e sem barreiras. Vale ressaltar a importante resposta do mesmo Dicastério, em novembro passado, acerca da participação aos sacramentos do Batismo e do Matrimônio por parte de pessoas transexuais e de pessoas homoafetivas. Este reconhecimento e a missão do acolhimento são fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa e compassiva”, concluíram.

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