As 10 crises mais negligenciadas do mundo estão na África, diz estudo
Pesquisa expõe “ciclo vicioso de negligência política, cobertura limitada da mídia e cansaço dos doadores”
atualizado
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Dez nações africanas encabeçam uma lista de países onde o sofrimento humano devido a deslocamentos e conflitos é negligenciado internacionalmente, de acordo com relatório anual do Conselho Norueguês para Refugiados divulgado nessa quarta-feira (1°/6).
A República Democrática do Congo (RDC) é o país mais negligenciado da lista pelo segundo ano consecutivo, seguido por Burkina Faso, Camarões e Sudão do Sul.
“A RDC se tornou um exemplo de negligência”, afirmou o secretário-geral da organização assistencial, Jan Egeland, no lançamento do relatório. “É uma das piores crises humanitárias deste século, mas aqueles, dentro e fora da África, com poder para efetuar mudanças estão fechando os olhos para as ondas de ataques brutais e direcionados a civis.”
Cerca de 5,5 milhões foram deslocados internamente na RDC em 2021 devido a tensões e conflitos regionais. Mais de 1 milhão fugiu para países vizinhos. Ter que abandonar suas casas deixa as pessoas em risco de fome e pode prolongar os conflitos e a violência que costumam ser os maiores responsáveis pela necessidade de buscar refúgio.
Cerca de 27 milhões, ou um terço da população, passaram fome no país em 2021.
“Não posso planejar o futuro de meus filhos, não há nada além de buscar comida, a cada dia”, disse uma mãe da RDC ao Conselho de Refugiados. Cinco de seus familiares foram mortos num massacre, e sua casa foi completamente queimada. “O mundo não sabe como sofremos aqui”, queixou-se.
Críticas à imprensa
O ranking anual visa destacar a situação de quem não recebe assistência, ou apenas inadequada, e cujo sofrimento raramente faz manchetes internacionais.
O relatório critica os meios de comunicação internacionais por raramente cobrirem os países da lista, “a não ser reportagens concretas sobre novos surtos importantes de violência ou doenças”.
Além de integrar a lista dos 10 países mais negligenciados, o Sudão e a Nigéria, por exemplo, estão no fundo do ranking da liberdade de imprensa internacional.
Apesar de Burkina Faso ocupar uma posição relativamente alta em termos de liberdade de imprensa, os jornalistas foram praticamente proibidos de acessar locais de deslocamento no país, conforme o relatório.
“Essa proibição contribuiu significativamente para uma cobertura insuficiente da mídia sobre questões humanitárias e uma falta de informações confiáveis e independentes sobre ataques e eventos relacionados à segurança”, constata o documento.
Guerra na Ucrânia
A análise também cita a guerra na Ucrânia para destacar ser possível governos, empresas privadas e mídia internacional reagirem rapidamente a uma crise humanitária.
A invasão pela Rússia “demonstrou a imensa distância entre o que é possível quando a comunidade internacional se une contra uma crise e a realidade diária de milhões que sofrem em silêncio, dentro dessas crises no continente africano que o mundo escolheu ignorar”, disse Egeland.
“Isso aponta para um ciclo vicioso de negligência política internacional, cobertura limitada da mídia, cansaço dos doadores e necessidades humanitárias cada vez mais profundas”, concluiu o secretário-geral do Conselho Norueguês para Refugiados.
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