Arábia Saudita quer relação oficial com Israel após o fim da guerra
O governo da Arábia Saudita, no entanto, coloca a criação de um estado independente da Palestina como condição para a aproximação
atualizado
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A Arábia Saudita mostrou interesse em estabelecer relações com Israel após o fim da guerra entre o país governado por Benjamin Netanyahu e o grupo extremista Hamas. A normalização de laços, no entanto, depende da criação de um estado independente da Palestina, segundo o governo saudita.
“A Arábia Saudita ainda acredita no estabelecimento de relações com Israel, apesar dos infelizes números de mortos em Gaza”, disse o embaixador saudita em Londres, príncipe Khalid bin Bandar, à BBC nessa terça-feira (9/1).
Durante a entrevista, o diplomata da Arábia Saudita – que não reconhece o estado de Israel desde a sua criação – relembrou que um acordo entre Riade e Tel Aviv estava próximo de acontecer no fim do último ano. Contudo, a incursão terrorista do Hamas e o início da guerra na Faixa de Gaza frustraram as negociações.
A fala do funcionário saudita coincide com uma declaração do secretário de estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, após uma visita a Arábia Saudita.
Na última segunda-feira (8/1), o chefe da diplomacia estadunidense se encontrou com Mohammed bin Salman na capital saudita, e afirmou que o reino possuí interesse em seguir com as negociações com Israel.
“Há um interesse claro aqui [na Arábia Saudita] em buscar isso”, disse Blinken. “Mas exigirá que o conflito em Gaza termine e exigirá também, claramente, que haja um caminho prático para um estado Palestino”.
Apesar de ser um dos principais representantes do mundo muçulmano, a intenção de aproximação entre Arábia Saudita e Israel – vista por outros países como traição com a causa Palestina – pode ser explicada por alguns pontos.
Para Paulo Cesar Rebello, analista político e doutorando em Ciência Política pela Universidade de Salamanca, o projeto de prosperidade defendido pelo governo saudita é um dos principais pontos que explicam a tentativa de aproximação com Israel, uma grande potência regional.
“A Arábia Saudita busca, hoje, no meu entendimento, uma política externa e econômica pautada prioritariamente no desenvolvimento do próprio país – tendo em vista o projeto visão 2030 e a diversificação econômica planejada por Mohammed bin Salman (MBS)”, afirma.
Já uma aliança com o reino saudita beneficiaria economicamente Israel, principalmente no que diz respeito aos problemas financeiros provocados pela guerra contra o Hamas.
“O governo Netanyahu enxerga as monarquias do Golfo, especialmente os Emirados Árabes Unidos e os Sauditas, como potenciais financiadores da reconstrução de Gaza. O primeiro-ministro, em uma fala no Parlamento, já declarou que o objetivo fundamental da guerra era derrotar o Hamas e, após isso, ele acredita que os dois países poderiam financiar a reconstrução da região”, explica. “Além disso, os custos do conflito para Israel vão custar, até 2025, US$ 53 bilhões, indicando ainda um problema financeiro que o governo israelense pode enfrentar no futuro”.