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Após novo aceno de Zelensky, negociação de paz recomeça nesta segunda

Na Turquia, russos e ucranianos voltam a negociar cessar-fogo. Preocupado, mundo assiste à escalada da guerra

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militar ucraniano é e visto proximo ao shopping Retroville após um ataque de bombardeio russo que matou oito pessoas em Kiev, Ucrânia
1 de 1 militar ucraniano é e visto proximo ao shopping Retroville após um ataque de bombardeio russo que matou oito pessoas em Kiev, Ucrânia - Foto: Andriy Dubchak / dia images via Getty Images

Cercados de pressão por todos os lados, representantes da Rússia e da Ucrânia tentarão, mais uma vez, selar um acordo de cessar-fogo para pôr fim aos bombardeios ao país liderado pelo presidente Volodymyr Zelensky. A retomada ocorre após dias de estagnação, com direito a queixas públicas dos dois lados. Paralelamente à negociação empacada, mísseis cada vez mais potentes foram usados pelos russos em focos pontuais.

Novamente a Turquia será anfitriã para a conversa, que ocorrerá em Istambul, entre os representantes dos governos russo e ucraniano. É a segunda vez que o país abriga esse tipo de reunião diplomática, desde o início do conflito, em 24 de fevereiro.

O primeiro, e considerado até então o encontro mais emblemático, reuniu pela única vez os chefes da diplomacia russa, Sergey Lavrov, e ucraniana, Dmytro Kuleba. Terminou sem acordo e com um severa troca de acusações.

Nesta segunda-feira (28/3), o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, será o anfitrião da reunião político-diplomática. A primeira ocorreu quando a guerra completa 15 dias. Agora, já são 32.

O encontro ocorrerá com mais um sinal de Zelensky de que pode ceder a uma das principais reivindicações da Rússia. Em entrevista dada a jornalistas independentes russos e revelada no domingo (27/3), ele declarou que a Ucrânia está aberta a discutir a adoção de uma política de neutralidade como parte do acordo de paz, e que considera fazer concessões sobre o domínio da região de Donbass – situada no leste do país e considerada separatista pró-Rússia.

Ele, porém, impõe condições: desde que obtenha garantias de segurança de outros países e que o acordo passe por um referendo entre os ucranianos.

O governo turco, em comunicado, confirmou que Erdogan conversou com Putin por telefone e que ressaltou a necessidade de um cessar-fogo. Além disso, pediu melhorias nas condições humanitárias na Ucrânia.

O país comandado por Recep Tayyip Erdogan tem defendido uma solução pacífica para o conflito e se oferecido para mediar a construção de uma alternativa à guerra. Os turcos tentam se equilibrar entre seus compromissos com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), da qual fazem parte, e a amizade com o presidente Vladimir Putin.

A possibilidade de entrada da Ucrânia na Otan foi justamente o que desagradou a Rússia e desencadeou a invasão. Na prática, Moscou vê essa possível adesão como uma ameaça à sua segurança.

A quinta rodada de negociação — outras tiveram mais de uma reunião, por causa de “pausas técnicas”— foi confirmada por David Arakhamia, um dos coordenadores da delegação ucraniana que negocia o possível acordo. A previsão é que as negociações ocorram até quarta-feira (30/3).

Dmytro Kuleba pressionou os russos e afirmou, na sexta-feira (25/3), que as conversas estão “muito difíceis”. O negociador russo, Vladimir Medinsky, admitiu que o diálogo não está fluindo.

“Divisão da Ucrânia”

Reparar os laços ou pelo menos atenuar a tensão no Leste Europeu tem sido uma tarefa delicada. Apesar de a Rússia ter perdido espaço no território ucraniano, a violência dos ataques está centrada em áreas nas quais os russos querem impedir retomada ucraniana, sobretudo no leste.

No fim de semana, autoridades ucranianas acusaram a Rússia de tentar dividir a Ucrânia, como ocorreu com a separação das duas Coreias, no fim da Segunda Guerra Mundial.

“De fato, é uma tentativa de criar a Coreia do Sul e do Norte na Ucrânia”, denunciou, no domingo (27/3), o chefe da inteligência militar da Ucrânia, Kyrylo Budanov.

A acusação ocorre após militares russos confirmarem que o Exército reorganizou a estratégia militar de ataques na Ucrânia para concentrar esforços na região de Donbass – situada no leste do país e considerada separatista pró-Rússia.

Nesta sexta-feira, em pronunciamento em Moscou, Sergei Rudskoy, um oficial de alto escalão do Exército russo, disse que a intenção da nova fase da ofensiva é “libertar” totalmente o leste. O Ministério da Defesa russo confirmou que planeja “duas opções” para a investida militar em Donbass.

Supermísseis

A Rússia confirmou o uso de armas superpotentes nos ataques contra a Ucrânia. No arsenal, estão mísseis de cruzeiro, de longa distância e foguetes Kalibr. Cidades como Kiev (a capital), Lviv e Mykolayv foram alvo desse tipo de artefato.

Os mísseis de cruzeiro, por exemplo, carregam uma grande carga explosiva e são projetados por motores a jato. Esse tipo de armamento causa uma grande explosão e atinge longas distâncias com alta precisão.

Tensão internacional

A reunião entre russos e ucranianos ocorre em meio à elevação da tensão internacional. Críticas severas do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, a Vladimir Putin tensionaram ainda mais a situação. Em viagem à Polônia, o chefe da Casa Branca chamou o líder russo de “carniceiro” e defendeu que ele não permaneça no poder; no domingo, recuou, e afirmou que não estava defendendo uma mudança de regime na Rússia e a deposição de Putin.

O presidente da França, Emmanuel Macron, demonstrou contrariedade com a declaração de Biden. “Eu não usaria esse termo, porque ainda estou conversando com o presidente Putin. Nosso objetivo é parar a guerra que a Rússia lançou na Ucrânia, evitando a guerra e uma escalada”, pontuou o francês, em entrevista ao canal France 3.

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A confusão, no entanto, não vem de hoje. Além da disputa por influência econômica e geopolítica, contexto histórico que se relaciona ao século 19 pode explicar o conflito
A localização estratégica da Ucrânia, entre a Rússia e a parte oriental da Europa, tem servido como uma zona de segurança para a antiga URSS por anos. Por isso, os russos consideram fundamental manter influência sobre o país vizinho, para evitar avanços de possíveis adversários nesse local
Isso porque o grande território ucraniano impede que investidas militares sejam bem-sucedidas contra a capital russa. Uma Ucrânia aliada à Rússia deixa possíveis inimigos vindos da Europa a mais de 1,5 mil km de Moscou. Uma Ucrânia adversária, contudo, diminui a distância para pouco mais de 600 km
Percebendo o interesse da Ucrânia em integrar a Otan, que é liderada pelos Estados Unidos, e fazer parte da União Europeia, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ameaçou atacar o país, caso os ucranianos não desistissem da ideia
Uma das exigências de Putin, portanto, é que o Ocidente garanta que a Ucrânia não se junte à organização liderada pelos Estados Unidos. Para os russos, a presença e o apoio da Otan aos ucranianos constituem ameaças à segurança do país
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A relação conturbada entre Rússia e Ucrânia, que desencadeou conflito armado, tem deixado o mundo em alerta para uma possível grande guerra

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A confusão, no entanto, não vem de hoje. Além da disputa por influência econômica e geopolítica, contexto histórico que se relaciona ao século 19 pode explicar o conflito

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A localização estratégica da Ucrânia, entre a Rússia e a parte oriental da Europa, tem servido como uma zona de segurança para a antiga URSS por anos. Por isso, os russos consideram fundamental manter influência sobre o país vizinho, para evitar avanços de possíveis adversários nesse local

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Isso porque o grande território ucraniano impede que investidas militares sejam bem-sucedidas contra a capital russa. Uma Ucrânia aliada à Rússia deixa possíveis inimigos vindos da Europa a mais de 1,5 mil km de Moscou. Uma Ucrânia adversária, contudo, diminui a distância para pouco mais de 600 km

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Percebendo o interesse da Ucrânia em integrar a Otan, que é liderada pelos Estados Unidos, e fazer parte da União Europeia, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ameaçou atacar o país, caso os ucranianos não desistissem da ideia

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Uma das exigências de Putin, portanto, é que o Ocidente garanta que a Ucrânia não se junte à organização liderada pelos Estados Unidos. Para os russos, a presença e o apoio da Otan aos ucranianos constituem ameaças à segurança do país

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A Rússia iniciou um treinamento militar junto à aliada Belarus, que faz fronteira com a Ucrânia, e invadiu o território ucraniano em 24 de fevereiro

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Por outro lado, a Otan, composta por 30 países, reforçou a presença no Leste Europeu e colocou instalações militares em alerta

OTAN/Divulgação
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Apesar de ter ganhado os holofotes nas últimas semanas, o novo capítulo do impasse entre as duas nações foi reiniciado no fim de 2021, quando Putin posicionou 100 mil militares na fronteira com a Ucrânia. Os dois países, que no passado fizeram parte da União Soviética, têm velha disputa por território

AFP
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Além disso, para o governo ucraniano, o conflito é uma espécie de continuação da invasão russa à península da Crimeia, que ocorreu em 2014 e causou mais de 10 mil mortes. Na época, Moscou aproveitou uma crise política no país vizinho e a forte presença de russos na região para incorporá-la a seu território

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Desde então, os ucranianos acusam os russos de usar táticas de guerra híbrida para desestabilizar constantemente o país e financiar grupos separatistas que atentam contra a soberania do Estado

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O conflito, iniciado em 24 de fevereiro, já impacta economicamente o mundo inteiro. Na Europa Ocidental, por exemplo, países temem a interrupção do fornecimento de gás natural, que é fundamental para vários deles

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Embora o Brasil não tenha laços econômicos tão relevantes com as duas nações, pode ser afetado pela provável disparada no preço do petróleo

Vinícius Schmidt/Metrópoles

O papa Francisco, após a oração do Ângelus na praça São Pedro do Vaticano, no domingo, criticou o recrudescimento da guerra e chamou o conflito de “martírio da Ucrânia”.

“Passou-se mais de um mês desde o início da invasão da Ucrânia, desde o começo desta guerra cruel e sem sentido, que, como toda a guerra, representa um fracasso para todos, para todos nós”, reclamou.

A última semana foi marcada por intensa agenda internacional: houve reunião da cúpula da Otan, do conselho da União Europeia e do G7 — grupo dos países mais ricos. Novas sanções contra a Rússia foram anunciadas, além do fortalecimento da pressão pela possível exclusão da nação liderada por Putin do G20 — bloco das maiores economias mundiais.

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