Apelidado de “cocaína do mar”, peixe tatoaba corre risco de extinção
Peixe tatoaba é item de luxo em tráfico internacional, por causa de supostos efeitos curativos. Quilo do peixe chega a US$ 4 mil
atualizado
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O mito sobre os efeitos curativos da bexiga de um peixe pode ser responsável pela extinção de mais uma espécie no mundo. Conhecido como “cocaína do mar”, o peixe tatoaba é alvo de traficantes e esquemas internacionais para a venda ilegal de pesca, com foco especial em clientes chineses, e preocupa ativistas e cientistas.
O apelido do animal surgiu depois que ele passou a ser cotado no mercado clandestino com preços acima dos observador no mercado da cocaína. Em 1975, a pesca do tatoaba foi totalmente proibida, mas a demanda pelo peixe não cessou, o que levou ao surgimento de um “Cartel do Mar”, como constatou o jornalista belga Hugo Von Offel, no documentário O Poderoso Chefão dos Oceanos.
Nesse esquema, os traficantes vendem a espécie por US$ 3 mil ou US$ 4 mil o quilo. Para traçar uma linha comparativa, um quilo de camarão custa entre US$ 15 e 10. O valor exorbitante de lucro faz com que criminosos cruzem o Oceano Pacífico, no México, até os fregueses na China, que demandam pelos efeitos curativos do animal.
Em entrevista à Rádio França Internacional (RFI), o ativista Alejandro Olivera, da ONG norte-americana Center for Biological Diversity, explica que a tatoaba é um peixe encontrado apenas no Golfo da Califórnia, no México. O animal é capturado pela qualidade da carne, mas os interesses não param aí.
Bexiga que vale US$ 50 mil
“Eles possuem um órgão que se chama ‘bexiga natatória’, que garante a sua habilidade de flutuar na superfície, ou de manter o equilíbrio nas profundezas. Esse órgão é agora intensamente procurado por traficantes, porque é comercializado depois de seco e é consumido como produto de luxo pelos países asiáticos. Por isso é tão desejado”, detalha Olivera.
De acordo com o atiivista, ao chegar na China, a bexiga da totoaba vale até US$ 50 mil por quilo.
Apesar dos riscos identificados por organizações que trabalham pela proteção da biodiversidade, grupos responsáveis pelo contrabando animal seguem impunes. Segundo dados obtidos por um consórcio de mídia, o sistema judiciário mexicano julgou 42 casos de tráfico de totoaba entre 2012 e 2021. Desses, apenas dois casos resultaram em condenações.
Em 2021, a União Internacional para a Conservação da Natureza registrou 117 barcos de pesca em um único dia na área de proteção marinha do Mar de Cortez, no México, principal habitat do peixe. No mesmo ano, a organização declarou a espécie como criticamente ameaçada de extinção.