90% das crianças na Faixa de Gaza sofrem com pobreza alimentar grave
Especialistas alertam sobre a fragilidade na alimentação das crianças e os problemas de logística na entrega dos alimentos na Faixa de Gaza
atualizado
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Relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apontou que 90% das crianças na Faixa de Gaza sofrem de pobreza alimentar grave. Especialistas explicam que os problemas de logística e a falta de alimentos adequados agravam a situação na região. O estudo, publicado na quinta-feira (5/6), mostra também que mais de um quarto das crianças no mundo vivem em situação de pobreza alimentar.
Após meses de conflito e restrições de ajuda humanitária, a Faixa de Gaza entrou em colapso nos sistemas alimentares e de saúde. Cinco rondas de dados recolhidos entre dezembro de 2023 e abril de 2024 pela Unicef revelaram que nove em cada 10 crianças sofrem de pobreza alimentar grave, sobrevivendo com dois ou menos grupos de alimentos por dia.
Meninos e meninas de até 5 anos têm necessidades energéticas elevadas em relação ao tamanho e precisam de alimentação frequente para sustentar o crescimento. A nutricionista materno-infantil Danielle Mendes destaca que existem suplementos e alimentos específicos formulados para fornecer energia e nutrientes essenciais de forma prática e eficiente para os menores de 18 anos em períodos de guerra.
“Em zonas de conflito, como em Gaza, poderiam ser usados os suplementos de micronutrientes em pó, alimentos terapêuticos, misturas de alimentos fortificados, complementos vitamínicos, minerais específicos, além da oferta de água potável”, sugere.
Segundo definição da Unicef e da Organização Mundial da Saúde (OMS), se crianças consumirem de zero a dois grupos de alimentos por dia, quer dizer que vivem em situação de pobreza alimentar infantil grave. De três a quatro, estão em situação de pobreza alimentar infantil moderada. A partir de cinco ou mais grupos de alimentos, não vivem em situação de pobreza alimentar infantil.
Para Danielle, a desnutrição infantil é uma condição grave e pode causar uma série de prejuízos para o desenvolvimento infantil a curto e a longo prazos. No primeiro momento, as crianças podem apresentar perda de peso, baixa estatura e atrasos no desenvolvimento cognitivo e motor. “A longo prazo, as sequelas podem incluir: diminuição da capacidade intelectual, doenças crônicas, baixo desempenho escolar, menor fertilidade na vida adulta e, em alguns casos, óbito”, alerta a nutricionista.
Logística
Para o especialista em relações internacionais Ricardo Caichiolo, a escassez de caminhões e combustíveis e as estradas destruídas atrapalham a logística para fazer o transporte de alimentos em Gaza. “Há ainda problemas no fornecimento de energia elétrica que interferem na comunicação e coordenação entre as equipes que tentam auxiliar a população com a entrega dos alimentos”, revela.
“O cessar-fogo entre Israel e Hamas é fundamental. Sem ele, outras medidas políticas e econômicas terão êxito bastante limitado”, ressalta Ricardo.
O professor de relações internacionais também reforça a necessidade de ampliar o número de passagens de ingresso em Gaza, além de acelerar os processos de aprovação e inspeção de carga. “O trabalho acaba sendo dificultado pelo fato de que não há nenhum lugar na Faixa de Gaza que seja seguro”, declara.
Atualmente, as rotas de passagem que têm propiciado as travessias de caminhões são as de Kerem Shalom, no sul de Gaza, e Rez West, no norte.