Candango Django

Procurador Jefferson e o Matador de Escravos (1982)

Fruto direto de sua experiência na Boca do Lixo, o primeiro filme de Afonso Brazza como diretor é também seu primeiro como produtor, roteirista e ator principal — além de ser responsável por todas as demandas técnicas, da fotografia à montagem. Porém, desta aventura no Cerrado de Luziânia, restam apenas o título e o cartaz de divulgação. Brazza contou que vendeu a fita para um distribuidor que a levaria para Argentina e Paraguai. Não houve mais notícias sobre o material.

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Os Navarros em Trevas de Pistoleiros entre Sexo e Violência (1985)

O segundo trabalho de Brazza também foi vendido para o mesmo negociante. O filme, no entanto, ressurgiu recentemente no YouTube. Fiel depositário do legado de Brazza, Pedro Lacerda não foi avisado, mas admite se tratar do produto legítimo. Em seus 48 minutos, já se encontram os tropos de seu autor. Os Navarros são meliantes que estupram mulheres e reivindicam à bala a posse de terras. A cambada é liderada por Anthonio Luiz, futuramente conhecido como Tony Bidu, ator querido de Brazza.

Santhion Nunca Morre (1991)

Embalada por uma versão orquestral de Paint it Black (dos Rolling Stones), a aventura começa com uma demonstração de artes marciais no meio do Cerrado. É o tipo de prólogo que, guardando pouca ou nenhuma conexão com a trama em si, tornou-se característico de Brazza. Aqui nosso herói vive Bolívia, estrangeiro que busca vingar a morte do irmão Santhion, porém aceita trabalhar para o mesmo grupo de pistoleiros que o matou. No elenco, já despontam rostos familiares aos fãs de Brazza: Maria Romeiro, José Mário, João dos Santos e, claro, Tony Bidu.

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Inferno no Gama (1993)

Claudette Joubert! A recém-chegada estrela da AFB Studio confere charme e carisma ao filme que marca uma inflexão ascendente na trajetória de Brazza. Acusado indevidamente de atrapalhar os negócios de uma organização criminosa, o pacato Régis (Brazza) é espancado e deixado para morrer. Então se torna um homicida em busca de vingança. Claudette empresta o eixo emocional para a redenção de Régis, ao viver a filha do bandidão que de imediato percebe a (relativa) inocência de nosso herói, apesar de ele ter matado o marido dela na porta de casa.

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Gringo Não Perdoa, Mata (1995)

Após um épico de violência urbana, Inferno no Gama, Afonso Brazza volta ao faroeste no Cerrado, como em seus primeiros filmes. O grande diferencial, desta vez, é que Brazza pegou no martelo e no serrote para ele mesmo montar a cidade cenográfica em que se passa boa parte da ação, o vilarejo de Santa Rita, numa fazenda do Gama. Sob uma trilha sonora afanada de Ennio Moriconi, temos aqui uma intriga de roubo a banco, seguida por alianças e traições não exatamente fáceis de se entender.

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No Eixo da Morte (1998)

No seu filme mais imediatamente associável ao imaginário de Sylvester Stallone, Afonso Brazza vive O Profissional, um sujeito de passado duvidoso, que se vê impelido a retomar antigos expedientes quando um milionário o contrata para resgatar a filha (Claudette Joubert), mantida refém por bandidos. Claro que a mocinha acaba por se afeiçoar a’O Profissional e — spoiler! — eles terminam o filme juntos, na antológica cena em que nosso exausto herói decide ir morar no mato, junto aos animais, porque “eles não têm maldade no coração”.

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Tortura Selvagem — A Grade (2001)

Esta é a primeira “superprodução” de Brazza, com helicópteros, comboio de viaturas policiais e cenas gravadas no coração de Brasília. Maicon (Brazza) é um catador de lixo que, numa tarde de trabalho em frente ao Conjunto Nacional, vê-se envolvido por traficantes numa expedição policial antidrogas. Após ser espancado, Maicon se revolta e passa fogo igualmente em bandidos e agentes da lei. A curta e inesquecível participação de José Mojica Marins como Zé do Caixão empurra todo o realismo de Brazza para uma chave fantástica ímpar em sua carreira.

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depoimento de Fábio Marreco compositor da trilha de Tortura Selvagem

Conheci Brazza do mesmo jeito que todo mundo conheceu: assistindo aos filmes. Era aquela coisa do bom ruim, né? A gente reconhecia o espírito dele, a paixão dele, e o resultado era divertido, a gente ria, era o prazer do trash.

Naquele tempo, eu tinha uma banda, a Rarabichuebas, e nós fizemos uma música para ele, chamada O Profissional (referência ao personagem de No Eixo da Morte). Chamei o Brazza lá no Zen Studio, mostrei a música para ele e… meio que ele não gostou muito, sabe? Era um som pesado demais pra ele. Não mostrou muito entusiasmo, não. Mas comentou que estava trabalhando num novo filme e, nessa hora, eu me convidei para fazer uma música.

Ele me contou mais ou menos a história, que ainda não estava totalmente pronta, não estava muito amarrada, porque ele meio que ia fazendo no improviso, né? Eu sugeri, então: vamos fazer um clima romântico, um clima de perseguição, um clima de suspense e uma música para ser o tema do personagem.

Você vai ver, a letra dessa música era meio genérica, só com o nome do personagem (Maicon) e muito em cima do título do filme — depois, quando vi o filme pronto, percebi que não tinha tortura e nem grade…

Eu e a Zane (a baixista da banda, Rosane Galvão) participamos também como atores do filme e eu me arrisco a dizer que minha morte é a morte mais perigosa de toda a filmografia de Afonso!

No dia da filmagem, eu já levei uma bronca, porque apareci com uma camisa do Metallica. Eu não sabia que, como bandido, tinha que vestir preto, terno preto, ninguém tinha me avisado. Então, eu sou aquela pessoa com uma camisa de banda no meio do filme. A gente decidiu as cenas ali na hora, eu morri tentando fugir do Brazza, escalando pela parede do Teatro Nacional. Ele me acertou o tiro e eu caí, deslizando lá de cima, mas me segurando com o pezinho na parede.

Fuga Sem Destino (2006)

Interrompido pela morte de Brazza, este filme reafirma a trajetória de seu autor ao explorar as possibilidades do Plano Piloto como cenário urbano e natural, do Setor Hoteleiro Sul às estações de tratamento da Caesb. Nesta fita de ação, o derradeiro personagem de Brazza, Trovão, resgata um bando de criminosos das mãos da polícia. Finalizado por Pedro Lacerda e agora digitalizado com o patrocínio do Metrópoles, o filme lança uma pergunta impossível de se responder: como teria sido a próxima missão de Brazza?

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