Reescravo: a história se repete no Brasil que ainda espera abolição
HISTÓRIAS
Sangue negro derramado no passado corre nas veias de quem recebeu a escravidão como herança. Após 130 anos da abolição da escravatura no Brasil, ainda há 161 mil pessoas submetidas a trabalho forçado, não remunerado ou em condições degradantes no país, conforme relatório da organização de direitos humanos Walk Free Foundation.
Em todo o território brasileiro, há apenas quatro equipes de fiscalização para resgatar trabalhadores. Porém, após o cativeiro ser rompido, as vítimas retornam à miséria e podem ser reescravizadas. De 2010 até 2018, pelo menos 613 pessoas foram salvas mais de uma vez em supervisões de trabalho análogo à escravidão, segundo levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
O Metrópoles reuniu depoimentos de quem viveu a reescravidão. São palavras sobre resistência e lutas seculares por direitos. Ao não oferecer condições para que o liberto se reintegre à sociedade e reescreva seu destino, 2019 revive 1888, ano da promulgação da Lei Áurea, fazendo da escravidão uma atrocidade que perpassa gerações.
“Porcos são tratados melhor que escravos”
Raimundo Nonato da Silva, 50 anos
“Eu era escravo e nem sabia”
Marinaldo Santos, 48 anos
“O pior é ver fIlho com fome e não ter dinheiro nem pra farinha”
Sebastião de Oliveira Cunha, 51 anos
“Sofri abuso sexual enquanto era escravo”
Ademir Barros Furtado, 39 anos
“Trabalhei 90 dias para receber R$ 40”
Sebastião Gonçalves Furtado, 50 anos
“As mulheres não são salvas do trabalho escravo”
Ivanete da Silva Souza, 43 anos