A partir de entrevistas e vasta pesquisa de arquivo, esta série de reportagens revisita e esclarece casos que fazem parte da memória política brasileira e influenciaram disputas eleitorais, como o debate entre Lula e Collor, em 1989; o vazamento de uma conversa de bastidores entre um jornalista da Globo e o então ministro Rubens Ricupero, em 1994; a confusão envolvendo uma suposta bolinha de papel e o então presidenciável José Serra, em 2010; e o atentado à faca contra Jair Bolsonaro, em Juiz de Fora (MG), em 2018.
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O debate entre Collor e Lula antes do segundo turno, em 1989, entrou para a História após edição exibida pelo Jornal Nacional no dia seguinte, que favoreceu Collor, candidato preferido da família Marinho.
Os bastidores do encontro — organizado em pool e transmitido ao vivo diretamente da Band — são fundamentais para entender o poder da TV naquela eleição presidencial, a primeira pós-redemocratização.
Contamos essa história a partir de entrevistas com Fernando Mitre, diretor da Band que organizou o debate; Ricardo Kotscho, então assessor de imprensa de Lula; e Sônia Carneiro, que cobriu a campanha.
Na política, o que é bom “a gente fatura” e o que é ruim “a gente esconde”. Em 1994, os eleitores foram surpreendidos ao assistirem a uma conversa de bastidores em que o então ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, dispara essas palavras ao jornalista Carlos Monforte, da Globo.
O trecho de 19 minutos, que incluía outras verdades, foi ao ar por um erro técnico. “Ele vinha dando entrevistas o dia todo, a mesma entrevista”, recorda Monforte neste episódio.
Enquanto o repórter se preparava para iniciar o diálogo, Ricupero desandou a falar sobre o presidenciável do governo, o tucano Fernando Henrique Cardoso, que havia sido antecessor dele na Fazenda e responsável pelo Plano Real. “Se todos os ‘offs’ fossem publicados, a história seria outra”, sentencia Monforte.
A 10 dias do segundo turno, em 2010, José Serra (PSDB) participava de uma passeata em Campo Grande, no Rio de Janeiro, quando apoiadores dele e da adversária do tucano, Dilma Rousseff (PT), começaram a se agredir.
À noite, o SBT veiculou reportagem dizendo que Serra havia sido atingido por uma bolinha de papel e, depois, ido ao hospital fazer exames.
A versão colou, mas omitia que o confronto durou cerca de 15 minutos e que outros objetos foram arremessados. Um vídeo feito em um Nokia E71, por um repórter da Folha de S.Paulo, mudou tudo, ao mostrar outro momento em que Serra fora alvejado.
“O fato é que durante uma campanha presidencial jogaram pedras e paus sobre um candidato”, relembra neste episódio Ítalo Nogueira, autor do vídeo.
“De fato, foi uma campanha em que a desinformação acabou orientando o voto das pessoas.” É assim que Marina Silva, candidata à Presidência em 2014, relembra a reta final daquela eleição.
Após a morte de Eduardo Campos, Marina assumiu a chapa e, a poucos dias do primeiro turno, as pesquisas indicavam tendência de crescimento, com chances de ela desbancar Aécio Neves e ir ao segundo turno contra Dilma Rousseff.
A campanha petista, contando que seria mais fácil derrotar Aécio do que Marina, veiculou anúncios dizendo que a ex-senadora iria tirar comida do prato dos brasileiros.
Era uma interpretação enviesada da proposta de tornar lei a independência do Banco Central, que constava no programa de Marina.
“Naquele momento, eu e o Eduardo tivemos a coragem de apresentar o programa e fomos criticados pelo programa”, disse Marina Silva.
Quatro anos após o atentado de Adélio Bispo contra o então candidato ao Planalto Jair Bolsonaro, o repórter Evandro Éboli vai a Juiz de Fora (MG) e entrevista testemunhas e personagens do caso, revelando como o fato que mudou a eleição de 2018 alterou, também, a vida dessas pessoas.
Uma mulher vítima de notícias falsas até hoje tenta conviver com a perseguição e o trauma — ela reviveu o episódio neste ano, quando Bolsonaro voltou à cidade.
O coronel da PM que interrompeu o espancamento de Adélio. Um influenciador que viu tudo e agora tenta, ele próprio, se eleger para um cargo em Brasília.
A história recente toma forma a partir das perspectivas únicas de quem participou dela.
Se antes a capacidade de resumir em poucos segundos a plataforma de campanha era uma necessidade restrita a candidatos nanicos, hoje é uma qualidade que todos os políticos buscam nas redes sociais.
Um exemplo é o deputado André Janones, que tem 2 milhões de seguidores no Instagram e desistiu da candidatura à Presidência para apoiar Lula. Ele é alvo de críticas por usar as mesmas táticas de bolsonaristas, como fazer lives e produzir vídeos curtos — conteúdos sintéticos dignos do pioneiro da arte, Enéas Carneiro, que chegou a ser terceiro colocado em uma eleição presidencial, mesmo com poucos segundos na televisão.
Neste episódio, contamos uma breve história da breve política brasileira e o impacto que ela tem na qualidade do debate.