Há 324 anos, no dia 20 de novembro, morria um grande símbolo da luta pela liberdade do povo negro: Zumbi dos Palmares. Em reverência ao personagem, em 2003 a data em prol da igualdade racial entrou para o calendário de comemorações como o Dia Nacional da Consciência Negra. Assim como o líder quilombola, e apesar de esquecidas nos livros de história, muitas mulheres foram cruciais para as vitórias da resistência ao escravismo no Brasil.

Em League of Black Legends, o Metrópoles reúne um time de lendárias personagens femininas: Aqualtune, Maria Felipa, Carolina de Jesus, Marielle Franco e Elza Soares, entre outras. Todas protagonistas de lutas em diversos campos de batalha brasileiros. Da mesma forma que o jogo on-line, as poderosas da vida real combinaram habilidades (raciocínio estratégico, força física, reflexos rápidos e liderança) para esmagar inimigos (racismo e machismo), e se livrarem do estereótipo opressor que tentam mantê-las à margem da sociedade.

Aqualtune

Habilidade especial

Liderança

Aqualtune Ezgondidu Mahamud foi uma figura importante para a resistência afro-brasileira no período colonial. Princesa-guerreira no Congo, seu rastro histórico tem início no século 16. Filha do rei Mani-Kongo, ainda jovem liderou tropa de 10 mil congoleses em uma disputa por território, contra portugueses e angolanos, conhecida como A Batalha de Mbwila. A ação não teve êxito. O pai de Aqualtune foi decapitado e ela, vendida para comerciantes de escravos.

No Brasil, a beleza de Aqualtune chamou atenção e ela foi mantida como escrava reprodutora. A princesa era estuprada para dar origem a novos cativos, de acordo com os interesses dos senhores de escravos. Ao ouvir falar da resistência negra, Aqualtune fugiu e se uniu aos quilombolas de Palmares. Por seu passado e realeza, logo assumiu posição de liderança e começou a ser chamada de “A Luz de Palmares”. No refúgio, teve três filhos, igualmente lutadores: Ganga Zumba, Ganga Zona e Sabina – esta última mãe de um dos mais lendários líderes negros do país, Zumbi dos Palmares. A data e as circunstâncias da morte de Aqualtune são incertas.

Antonieta de Barros

Habilidade especial

Política

Primeira mulher negra eleita deputada no Brasil, Antonieta de Barros abriu caminhos para todas as personagens políticas que a sucederam. Filha de uma lavadeira e um jardineiro, Antonieta nasceu em Florianópolis, Santa Catarina, em 11 de julho de 1901, apenas 13 anos após o fim da escravidão no país. Venceu a eleição em 1934, foi precursora na luta por igualdade racial e contribuiu para as discussões sobre a emancipação feminina em um ambiente majoritariamente masculino. Ficou no cargo até 1937, com o início do Estado Novo, também conhecido como a ditadura da Era Vargas (1937-1945).

Com o fim do regime ditatorial, Antonieta se candidatou pelo Partido Social Democrático e foi reeleita em 1947. Professora de português e literatura – um dos poucos cursos que permitiam o ingresso feminino —, Antonieta dedicou o segundo mandato à luta pela valorização do magistério: exigiu concurso para o provimento dos cargos, sugeriu formas de escolher diretores e defendeu a concessão de bolsas para cursos superiores a alunos carentes. Entre os seus principais legados, está o rompimento estereótipos ligados a gênero, etnia e classe social.

Maria Felipa de Oliveira

Habilidade especial

guerreira

Maria Felipa de Oliveira, a heroína da Independência, nasceu na Ilha de Itaparica, na Bahia. Mulher, negra e marisqueira, a baiana não recebeu as mesmas honrarias que a compatriota Maria Quitéria – primeira soldado do Exército Brasileiro. No início, sua função se resumia a observar a movimentação das caravelas e repassar as informações para o Comando do Movimento de Libertação. Cansada do papel de vigia, entrou para o combate e liderou um grupo de cerca de 200 pessoas, entre negras e indígenas.

Citada pelo historiador Ubaldo Osório, em A Ilha de Itaparica, Maria Felipa foi responsável por queimar 42 navios inimigos, ação decisiva para a vitória sobre os portugueses em Salvador. Em sua biografia, há também episódios lendários. Segundo relatos, ela e suas companheiras seduziam olheiros rivais e, quando eles estavam completamente envolvidos e sem roupas, sacavam galhos de cansanção (planta que provoca urtiga e sensação de queimadura na pele) e davam uma surra nos homens.

Carolina de Jesus

Habilidade especial

escrita

A vida difícil de Carolina Maria de Jesus a fez uma escritora improvável. Nasceu livre, em 14 de março de 1914, em Sacramento, Minas Gerais, mas com os ruídos da escravidão ainda latentes na memória do país. Começou a frequentar a escola aos 7 anos, quando aprendeu a ler e tomou gosto pelos livros. Aos 33, mudou-se para a favela do Canindé, zona norte de São Paulo. Trabalhava como catadora de papel e, nas horas vagas, registrava o cotidiano da comunidade em cadernos que encontrava entre o material que recolhia.

Um desses diários deu origem a seu primeiro livro, Quarto de Despejo — Diário de Uma Favelada, publicado em 1960. O trabalho virou best-seller, foi vendido em 40 países e traduzido para 16 idiomas. Três anos depois, publicou Provérbios e o romance Pedaços de Fome. A escritora nunca quis casar e teve três filhos de relacionamentos diferentes. Morreu em fevereiro de 1977, aos 62 anos, de insuficiência respiratória. Outras seis obras póstumas foram compiladas a partir dos cadernos e materiais deixados pela autora.

Ruth de Souza

Habilidade especial

atuação

Nascida em 12 de maio de 1921, Ruth de Souza foi a primeira atriz negra a subir ao palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e a primeira brasileira a ser indicada a um prêmio internacional de cinema, o Leão de Ouro, no Festival de Veneza. Mineira da cidade de Porto do Marinho, iniciou os mais de 70 anos de vida artística no grupo de atores liderados por Abdias do Nascimento, o Teatro Experimental do Negro, em 1945. O talento lhe rendeu uma bolsa de estudo da Fundação Rockefeller e a intérprete passou um ano nos Estados Unidos: na Universidade Harvard, em Washington, e na Academia Nacional do Teatro Americano, em Nova York. Desde então, não parou de atuar.

Ruth consolidou a carreira com centenas de atuações no cinema, na televisão e também nos tablados. Trabalhou até seus últimos meses de vida. Na TV Globo, participou da minissérie Se Eu Fechar os Olhos Agora, exibida no início de 2019. Ela morreu em julho deste ano, aos 98 anos, em decorrência de complicações de uma pneumonia.

Elza Soares

Habilidade especial

canto

Sobrevivente da fome, do racismo e do machismo. Forçada a casar aos 13 anos, mãe de sete filhos ainda na adolescência, Elza Soares conheceu de perto a violência física e psicológica das quais mulheres negras são vítimas até hoje. Nascida em 1937, saiu da favela Maria Bonita, no Rio de Janeiro, e chegou ao maior posto que uma artista brasileira já alcançou. Eleita a melhor cantora do milênio pela londrina BBC, em 1999, e descrita como uma mistura de Tina Turner e Celia Cruz pela Time Out, Elza assina discos que marcaram a história da música nacional e sucessos como Tenha Pena de Mim, Beija-me, A Carne, entre muitos outros.

Em 2015, aos 78 anos, a sambista se reinventou. Lançou seu primeiro repertório inédito em A Mulher do Fim do Mundo, com o qual ganhou o Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Música Popular Brasileira. Em 2018, com o sucessor Deus é Mulher, fincou seu compromisso com a militância feminista. Agora, aos 82 anos, Elza segue rodando o país com a turnê do 34º disco de carreira, no qual discorre sobre questões sociais. O título da produção relembra a resposta dada por ela a Ary Barroso, nos bastidores da Rádio Tupi, pouco antes de sua primeira apresentação, em 1953: “De que planeta você veio, menina?”, perguntou o apresentador. “Do Planeta Fome”, decretou.

Marielle Franco

Habilidade especial

política

Nascida no Complexo da Maré, zona norte carioca, em 27 de julho de 1979, Marielle Francisco da Silva gostava de se identificar como “cria da favela”. Mãe aos 19 anos, dividia os cuidados da filha com trabalho e estudo. Com bolsa integral, formou-se em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Depois, tornou-se mestre em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF). O despertar para a militância aconteceu após a morte de uma amiga, vítima de bala perdida durante um tiroteio entre policiais e traficantes de drogas.

Com o discurso voltado aos mais necessitados, participou de sua primeira disputa eleitoral em 2016 e foi eleita vereadora com mais de 46 mil votos. Crítica à intervenção federal na segurança pública do Rio, em 2018, assumiu a função de relatora da comissão criada para acompanhar a atuação das tropas nas comunidades. Duas semanas depois, no dia 14 de março, Marielle Franco, aos 38 anos, recebeu pelo menos quatro tiros na cabeça. Seu motorista, Anderson Pedro M. Gomes, 39, também morreu. Passado mais de um ano e oito meses, os mandantes do crime ainda não foram identificados.

Iza

Habilidade especial

canto

Isabela Cristina Correia de Lima e Lima. Esse é o verdadeiro nome de uma das artistas pops brasileiras mais badaladas da atualidade: Iza. Nascida em 3 de setembro de 1990, no bairro de Olaria, subúrbio do Rio de Janeiro, a carioca cultiva desde criança o sonho de ser cantora. Ainda assim, a filha de um militar da Marinha e de uma professora de música demorou para investir na carreira musical. Em 2014, largou a profissão de publicitária e passou a publicar vídeos amadores cantando covers de divas nacionais e internacionais. As performances chamaram atenção da gravadora Warner Music.

Na estreia no mercado fonográfico, em 2016, emplacou seu primeiro hit, Quem Sabe Sou Eu, que virou trilha da novela Rock Story (2017), da TV Globo. Em 2018, lançou o álbum de maior repercussão até o momento, Dona de Mim. O disco, que respira influências da música negra mundial, como R&B, o blues e o reggae, além do funk, conta com participações de artistas conhecidos pela forte presença no ativismo negro brasileiro: Rincon Sapiência, Carlinhos Brown e Marcelo Falcão. Um dos pontos fortes de Iza é o discurso contundente sobre empoderamento e por mais representatividade negra em todos os setores sociais.

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