Na última delas, os médicos tentaram reanimá-la por 40 minutos, porém, sem sucesso. Ela faleceu à 0h10 de domingo (18/4).
Em algum momento, o filho acreditou que a mãe se recuperava da doença, como aconteceu com outros familiares. Ele sonhava com o dia em que gravaria um vídeo dela saindo pela porta da frente do hospital com uma placa “Eu venci a Covid” em mãos.
Segundo os médicos, o quadro clínico dela era estável, o que era reforçado com sua disposição para se alimentar, ir ao banheiro sozinha e conversar.
Eles falavam sobre trivialidades, às vezes o papo virava um monólogo, para evitar que Vera forçasse os pulmões comprometidos pelo vírus. Até mesmo a partida de Agnaldo Timóteo, vítima da Covid-19 em 3 de abril, era assunto para quebrar o silêncio.
“Eu dei um tchau normal no último dia que falei com ela, era domingo de Páscoa. Eu não tinha dimensão das coisas, nunca achei que isso [a morte dela] fosse acontecer”, disse.
Na vida pré-Covid, Vera Lúcia era a típica mãe coruja com o caçula. Em meio à rotina de trabalho remoto, Oliveira era notificado por emojis no WhatsApp para informar que era hora de tomar café. Era a deixa que ele precisava para fazer uma pausa e papear por alguns minutos.
A discrição com que se comunicava em aplicativos de mensagem era idêntica ao seu modo de viver. Ela não gostava de tirar muitas fotos, fazia o tipo mãezona caseira, e terceirizava o protagonismo de datas como o Dia das Mães, em que preferia celebrar o aniversário da filha mais velha, no início de maio.
Talvez os momentos em que ela mais se fazia ser vista eram nos corais da igreja que frequentava, quando cantava aos domingos. A fé, aliás, a acompanhou até os últimos momentos de sua vida. Vera pedia ao filho que ligasse a TV para assistir à missa matutina no leito hospitalar – e dava bronca em quem insistisse em rezar pessoalmente nos templos.
É inevitável pensar que a mãe poderia estar viva, caso a vacinação avançasse para públicos além dos prioritários. Atualmente, os sentimentos de Oliveira se confundem entre tristeza e revolta, mas ele tem preferido descarregar sua energia de outras formas.
As sessões de terapia são apenas uma das alternativas, que vieram acompanhadas por meditação, refúgio em uma chácara e menos uso de redes sociais para encarar a perda.
Oliveira não pensa duas vezes para responder o que falaria para Vera Lúcia hoje, se estivesse viva. “Eu diria que a amo muito. Parece bobo, mas a gente não era de dizer muito isso. Ela demonstrava o amor nas pequenas ações do dia a dia”, reflete.
Daqui em diante, Gustavo Soares de Oliveira pretende dar um novo significado para sua vida buscando uma nova casa. Ele sente a dor das memórias visuais de sua mãe em cada canto do lar, e soluça ao dizer que nunca mais poderá vê-la ali. Se tem uma lembrança que jamais esquecerá é a risada que animava quem estivesse por perto.