Famílias destruídas pela Covid: “Saudade é uma doença que não tem cura”
Na semana em que completou um ano do primeiro caso de Covid-19, o Brasil vive o pior momento da pandemia. Na quinta-feira (25/2), o país bateu recorde ao registrar 1.541 mortes pelo novo coronavírus, totalizando 251.498 vidas perdidas. Com o resultado, a média móvel de óbitos chegou a 1.148, o nível mais alto em quase 12 meses.
Diante desse cenário, a Covid-19 segue fazendo vítimas no país. Histórias são perdidas a cada minuto. Brasileiros encaram de frente o luto sem poderem se despedir de quem amam. O Metrópoles ouviu famílias que foram devastadas pelo novo coronavírus e mostra quem são algumas das mais de 251 mil vidas perdidas.
O publicitário Fabrício Gomes, 43 anos, morador de Santo André, na Grande São Paulo, está enlutado desde dezembro de 2020. Em um intervalo de duas semanas, ele perdeu a mãe, Marilei Gomes, e a avó, Carolina Perez, para a Covid-19. O que começou como uma suspeita de infecção de Caroline se tornou uma tragédia que ceifou a vida das mulheres que ele tinha como referência. “É difícil ver fotos, dá uma saudade grande”, resumiu.
Em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, a assistente social Thamires da Silva Netto, 29 anos, perdeu seis familiares em 2020. Em abril, o coronavírus levou a sua avó; a partir de outubro, veio outro baque: mãe, irmã e três tios faleceram em decorrência da Covid-19. Ela morava no mesmo quintal dos parentes que partiram. “Saudade é uma doença que não tem cura”, afirmou.
O juiz aposentado Francisco Rodrigues Balieiro, 62 anos, é um retrato do colapso do sistema de saúde causado pelo coronavírus no estado do Amazonas. Morador da capital, Manaus, ele perdeu uma filha, de apenas 27 anos, dois irmãos e dois cunhados para a doença. “Nossa família foi ceifada por essa doença traiçoeira, aliada ao descaso da saúde pública”, lamentou. Balieiro foi infectado em abril, contudo, sobreviveu. Só não esperava ver o que aconteceria meses depois com sua família.
O vereador de Goiânia Cabo Senna (Patriota), 48 anos, sofre com as mortes da mãe, do pai e do irmão mais velho, em um período de 10 dias. Além deles, outros seis familiares testaram positivo para Covid-19, mas todos sobreviveram. “Se essas tragédias familiares não conseguirem mexer com as pessoas, eu não sei o que será capaz de sensibilizá-las”, disse.
Em Planaltina (GO), o pastor Natanailton Ferreira Xavier, 46 anos, viu seus pais, irmã e avô perderem a batalha contra o coronavírus. O pai e a mãe contraíram o vírus após sofrerem de dengue e buscarem ajuda em um hospital da região. A irmã, que apresentava quadro de doenças crônicas, faleceu aos 43 anos. Já seu avô comemorava o centenário de vida quando entrou para as estatísticas da Covid-19 no Brasil. “Perdemos tudo, mas ainda temos a estrutura que é Jesus. Esse foi o único remédio que fez a gente viver.”