Reinaugurando o ciclo de grandes exposições internacionais na cidade, Caixa Cultural oferece ao público a rara chance de ver de perto 130 obras da pintora mexicana e de outras 14 artistas influenciadas pelo surrealismo na América Latina
13/04 5:25, atualizado em 08/07 17:57
Brasília parecia enfim ter entrado no eixo das exposições internacionais quando, em 2015, o aumento do dólar e uma série de dificuldades administrativas tiraram a cidade da rota dessas mostras. Mas foi só um intervalo. Nesta quarta (13/4), a Caixa Cultural Brasília vai reiniciar o ciclo com a inauguração de “Frida Kahlo: Conexões Entre Mulheres Surrealistas no México”.
Ao todo, desembarcam na capital 130 obras de 15 artistas mulheres que perpassaram pelo surrealismo, um dos estilos artísticos mais populares da vanguarda europeia. Dessas obras, ao menos 30 são de Frida Kahlo. As outras 70 foram produzidas por outras três artistas mexicanas e 11 estrangeiras que se exilaram no México por algum tempo ou até a data de morte.
São elas: María Izquierdo, Remedios Varo, Leonora Carrington, Rosa Rolanda, Lola Álvarez Bravo, Lucienne Bloch, Alice Rahon, Kati Horna, Bridget Tichenor, Jacqueline Lamba, Bona de Mandiargues, Cordélia Urueta, Olga Costa e Sylvia Fein.
A mostra traz aos olhos do público todo o imaginário em torno de Frida Kahlo, figura marcante no mundo da arte que também é reconhecida como símbolo de luta e ousadia. Além de pinturas, esculturas e fotografias, a mostra traz vestimentas, acessórios, documentos, registros fotográficos e catálogos que situam o visitante no universo da artista mexicana.
Feita em parceria com o Instituto Tomie Ohtake, sediado em São Paulo, a exposição conta com curadoria da pesquisadora mexicana Teresa Arcq. Para ela, Frida teria transgredido as convenções da arte ao usar a pintura para expor sua própria história. Ao trazer outras mulheres para a mostra, Teresa acredita que o público terá a chance de perceber o olhar feminino na arte de vanguarda e verificar de perto as artistas, as obras e os pensamentos que estiveram à volta de Frida enquanto ela produzia suas obras.
A exposição já passou por São Paulo e Rio de Janeiro. Na capital paulista, foi apresentada no Instituto Tomie Ohtake e quebrou recorde no número de visitantes da instituição: ao menos 600 mil pessoas passaram pelo local durante os três meses em que a exposição se manteve em cartaz.
Para a montagem, nove museus e instituições públicas, além de 18 coleções particulares, cederam temporariamente parte de seus acervos. Entre eles, o Chazen Museum of Art, na Universidade de Wisconsin (EUA), o Museu Frida Kahlo e o Museu Nacional de Artes, ambos localizados na Cidade do México.
programe-se
De 13/4 a 5/6
Terça a domingo, das 9h às 21h
Na Caixa Cultural Brasília (Setor Bancário Sul, Quadra 4, Lotes 3/4)
Entrada franca. É possível agendar dia e horário da visita pelo site Ingresse
Classificação indicativa livre
OLHARES FEMININOS SOBRE O SURREAL
A mostra apresenta um diálogo de Frida Kahlo com outras mulheres artistas de seu tempo. Nela, a artista mexicana é apresentada como a responsável por uma série de influências e pequenos movimentos que ocorreram no México, nos Estados Unidos e em diversos países da Europa. Dessa forma, a curadora Teresa Arcq decidiu apresentar o acervo da exposição em blocos temáticos, ao invés de separar por artistas. Logicamente, um tema conversa com outro, mas em cada um deles determinado detalhe da obra é realçado de forma a defender um ponto de vista específico. Conheça cada dos temas destacados na exposição:
Identidade e autorrepresentação
Frida Kahlo é conhecida por seus autorretratos. Ao menos um terço de toda sua produção consiste em pintar a si mesma nas telas. Outras artistas da mostra também passaram por essa experiência, todas com o objetivo de reconstruir suas identidades pela autorrepresentação. Há uma busca pelo passado pré-hispânico e a recuperação das culturas indígenas do México. Por isso, vê-se o uso de vestimentas associadas a mulheres poderosas como rainhas tehuanas. Além disso, algumas artistas se valeram do ocultismo, em que se utiliza máscaras ou disfarces como poder transformador de identificação.
A natureza-morta simbólica
Se em um primeiro momento a arte reconhece os quadros de natureza-morta como pinturas de ateliê, aqui o objetivo é outro. As artistas constroem uma forma de trabalhar temas até então tabus para a sociedade, como o sexo e a traição. A rica variedade de frutas mexicanas, nesse caso, ganha uma forte carga simbólica.
O corpo feminino
Mais do que colocar o corpo feminino no centro da arte, as artistas presentes na mostra fizeram da carne da mulher um lugar de resistência e de energia criativa. Por terem uma estética surrealista, algumas obras mostram corpos fragmentados ou focalizados em rostos e olhos. Sexualidade e reprodução também são temas trabalhados nesse recorte.
Romance,
maternidade
e família
O tema não poderia ficar de fora. Relações amorosas, maternidade e famílias são vistas, aqui, sob a ótica da mulher. Costumes sociais pré-estabelecidos e os papéis de gênero são ricamente contestados pelas obras apresentadas.
Territórios de criação
Para as mulheres, o espaço doméstico muitas vezes se torna em lugar de confinamento. Para as artistas, esse mesmo local se transforma em verdadeiro território de criação. Alimentos e rituais culinários ganham espaço dentro dessa temática, fazendo com que a cozinha se transforme no local em que mulheres se tornam poderosas.
Reinos mágicos
Magias e conhecimentos esotéricos como tarô, astrologia, cabala e alquimia ganham espaço no universo surrealista. Era comum acreditarem que mulheres tinham poderes mágicos e as artistas aproveitam desse pensamento para se retratarem como deusas, feiticeiras e figuras míticas. Nesse momento, tradições antigas e crenças mexicanas atuais se misturam.
Fascinação com a cultura mexicana
Frida Kahlo foi responsável por divulgar o tesouro das culturas mexicanas, tanto pré-hispânicas como atuais. Festas e ambientes são apresentados em cores vivas – tornando-se verdadeiras inspirações artísticas.
O surrealismo e o inconsciente
O México recebeu forte influência surrealista. Diversas artistas presentes na exposição participaram ativamente do grupo surrealista de Paris antes de se exilarem no México. Além disso, grandes nomes da vanguarda europeia visitaram o país, como os franceses André Breton, poeta, e Antonin Artaud, dramaturgo. Assim, as artistas exploraram, em algum momento, diversas técnicas do estilo artístico e se destacaram pela criatividade. Uso de desenho automático, superposição de objetos, fotomontagens, colagens e discurso freudiano foram algumas das formas de expressão utilizadas por elas.
A identidade encenada
Moda e artes cênicas são áreas diretamente ligadas às artes plásticas produzidas pelas artistas da exposição. Desenho de vestuário, peças teatrais e marionetes trazem um novo olhar sobre suas identidades.
Mulheres para mulheres. Mecenas e promotoras
O sucesso das artistas está estritamente ligado à existência de mulheres que trabalhavam na divulgação de seus trabalhos. Natasha Gelman foi a grande mecenas de Frida Kahlo. Inés Amor, María Asúnsolo e Lola Álvarez Bravo inauguram galerias de arte no México que permitiram a apresentação de exposições individuais de diversas artistas presentes na exposição. Além disso, María Izquierdo e Kati Horna trabalharam elaborando artigos para a imprensa, o que permitiu que as pessoas tivessem contato especializado com as obras de artes produzidas por elas. Nesta seção, as mulheres que atuaram nos bastidores ganham espaço e se tornam objetos de representação dessas artistas.
O universo de Frida Kahlo
A exposição conta com uma área preparada para apresentar o mundo da artista mexicana para além de seus quadros. Vestimentas, documentos, fotografias de seu ateliê e reportagens feitas durante sua vida são apresentadas nesse momento, com o objetivo de aproximar o visitante dos bastidores de Frida Kahlo.
FRIDA, A MULHER
“Espero alegre a minha partida –
e espero não retornar nunca mais”
Com essa frase, Frida Kahlo encerra o diário que estava em sua casa, próximo a seu corpo. Aos 43 anos, a mais celebrada artista mexicana havia morrido por causa de uma embolia pulmonar, diz o atestado de óbito. Porém, há uma suspeita que ela teria ingerido remédios em excesso, provocando uma overdose. Mais do que isso, muitos estudiosos corroboram a tese de que ela havia se suicidado. A frase final do diário – e todo o sofrimento de sua vida – alimentam essa hipótese.
Frida nasceu em Coyoacán, um dos distritos da Cidade do México, com o nome de Magdalena Carmen Frieda Kahlo y Calderón. Os primeiros sinais de que a vida de Frida não seria nada fácil surgiram quando ela tinha ainda 4 anos. Nessa idade, contraiu poliomielite, doença mais conhecida como paralisia infantil. A recuperação veio, porém, por causa da mazela, que deixou sequelas em seu pé direito, passou a mancar e ganhou o apelido de “Frida pata de palo” (Frida perna de pau).
Completando 18 anos de vida, a jovem – que ainda estudava na Escola Nacional Preparatória do Distrito Federal do México – sofreu um terrível acidente que marcaria sua vida e sua arte para sempre. Na volta para casa, depois das aulas, o bonde em que estava chocou-se com um trem, fazendo com que uma barra de ferro entrasse por suas costas até sair pela vagina.
Por conta da tragédia, a mexicana teve que passar por 35 cirurgias e foi obrigada a se manter presa à cama por meses a fio. Mas isso não a impediu de pintar: seu pai adaptou um cavalete para ser posto sobre seu corpo deitado e, no teto, colocou um espelho para que ela pudesse fazer seus autorretratos. Dessa época saiu cerca de 55 quadros, alguns considerados verdadeiras obras-primas da autora, como o “A Coluna Partida”.
Mesmo com a mobilidade prejudicada pelo acidente, Frida Kahlo se preocupava com as questões sociais do seu país e resolveu filiar-se no Partido Comunista. Lá conheceu o famoso muralista Diego Rivera, que se tornou seu marido logo no ano seguinte.
Dores e amores
Frida e Diego não formavam nem de longe um casal tradicional. Rebeldes, a dupla realizava reuniões com outros intelectuais do país para questionar o governo vigente à época. Além disso, Diego era famoso por sair com diversas mulheres ao mesmo tempo e não fazia questão de esconder esse fato da esposa. Frida, embora sofresse pelas traições, também passou a experimentar sexos e conhecer novas paixões fora do casamento. Ela se relacionou com pessoas famosas em seu tempo, como o fotógrafo Nickolas Muray e o político russo Leon Trótski, além de ir à cama com diversas mulheres – muitas delas envolvidas no mundo da arte.
A maternidade sempre foi um desejo para Frida Kahlo. Desejo nunca realizado. Por conta do acidente de bonde, ela não conseguia terminar qualquer gestação, sofrendo três abortos ao longo de quatro anos. O primeiro ocorreu em 1930 enquanto ela acompanhava os trabalhos do marido em Detroit, nos EUA.
A passagem pelo país norte-americano causou sentimentos dúbios à artista. Enquanto ela sofria pela perda do bebê, sua arte começava ganhar espaço no cenário mundial. Enquanto Diego Rivera pintava as paredes de prédios públicos sediados em Nova York e Detroit, Frida chamava a atenção pelas ruas. Saias longas, adereços coloridos, motivos indígenas e penteados diferentes causaram frisson em uma sociedade que caminhava para o preto básico imortalizado pela estilista Coco Chanel. Foi nessa mesma época que Nickolas Muray fez o famoso retrato que só em 2012 iria estampar na capa da revista de moda Vogue.
Após três anos, ao voltar para o México definitivamente, surgem novas decepções. A amputação dos dedos de seu pé direito, a volta das dores na coluna e a descoberta de um caso extraconjugal entre Diego e sua irmã mais nova, Cristina, fizeram Frida afundar com força na depressão e no alcoolismo.
Em 1935, ela pede o divórcio e, em quatro anos, faz sua primeira exposição individual em capitais como Nova York e Paris. Após conhecer seus quadros, André Breton, celebrado poeta surrealista francês, faz um ensaio em que afirma Frida como um dos maiores nomes do Surrealismo. Em resposta, a artista diz que não faz parte do grupo, pois não pinta sonhos, mas sim sua própria realidade. Em 1940, ela reata com Diego e com ele permanece até de sua prematura morte.
Ao passo que sua vida artística brilhava, sua saúde ia definhando. Para o mundo, Frida era a mulher que pintava obras-primas, ganhava prêmios e dava aula de arte. Porém, na intimidade, ela sofria com a volta das operações cirúrgicas pelo corpo, que causavam dores responsáveis por tirar sua paz. Até que, em 1954, seu corpo não aguentou mais.
Linha do Tempo
FRIDA, A ARTISTA
“A beleza e a feiura são uma miragem, pois os outros sempre acabam vendo nosso interior”
Dos 143 quadros que pintou durante toda a sua vida, mais de 50 são autorretratos. Deles, denota-se uma busca por representar a realidade – ainda que de maneira bastante pessoal. “Sua produção mais evidente baseia-se em sua vida particular, sobretudo em sua própria personalidade feminista, sexual e política, o que pode ser exemplificada nos pelas obras em que ela denunciava a violência contra a mulher”, explica Sissa Aneleh, professora do Instituto de Artes da Universidade de Brasília (UnB).
Junto a essa vontade de se autorrepresentar veio a maior inovação de Frida Kahlo: quebrar as convenções da arte para unir o âmbito público ao que é estritamente particular de forma que é impossível perceber quando acaba um e começa o outro.
Para isso, a artista utilizou símbolos da cultura pré-hispânica e mesclou-os com problemas encontrados em seu próprio tempo. Religião, folclore, desejos amorosos e dores físicas são retratadas em pinceladas que rememoram a arte primitiva, modo de se expressar presente em povos que habitavam a América Latina antes da presença europeia.
Surrealismo
Em 1939, o poeta surrealista francês André Breton visita uma exposição individual da pintora em Nova York e fica encantado pela sua técnica. Daí, o poeta elaborou um artigo em que a afirmava como uma das melhores artistas do surrealismo, estilo de arte vanguarda proeminente na Europa. Graças a seus escritos, Frida viu seus quadros ganharem ampla divulgação no cenário mundial. Não demorou muito para que o Museu do Louvre, um dos mais importantes centros de arte do mundo, comprasse uma de suas telas.
Porém, mesmo que o artigo tenha dado divulgação seu trabalho, Frida negou veementemente a participação no movimento surrealista. Para a artista, o surrealismo falava de sonhos, enquanto ela falava de sua própria realidade. “Frida é uma artista independente de movimentos. Isto resultou em seu estilo próprio que influenciou as artistas mulheres mexicanas até em nosso século”, afirma a professora da UnB.
Conheça as particularidades de Frida na obra “El abrazo de amor del Universo, la Tierra, Diego, yo y el señor Xólotl”, feita em 1949
OUTRAS MULHERES, OUTRAS ARTISTAS
Alice Rahon
(1904-1987)Bona Tibertelli
(1926-2000)Bridget Tichenor
(1917-1990)Cordelia Urueta
(1908-1995)Jacqueline Lamba
(1910-1993)Kati Horna
(1912-2000)Leonora Carrington
(1917-2011)Lola Álvarez Bravo
(1903-1993)Lucienne Bloch
(1909-1999)María Izquierdo
(1902-1955)Olga Costa
(1913-1993)Remedios Varo
(1908-1963)Rosa Rolanda
(1895-1970)Sylvia Fein
(1919-atualmente)
Alice Rahon
Bona Tibertelli
Bridget Tichenor
Cordelia Urueta
Jacqueline Lamba
Kati Horna
Leonora Carrington
Lola Álvarez Bravo
Lucienne Bloch
María Izquierdo
Olga Costa
Remedios Varo
Rosa Rolanda
Sylvia Fein
NOS BASTIDORES DA MOSTRA
A curadora da exposição Teresa Arcq é uma referência no conhecimento sobre arte mexicana. Formada em história da arte, foi curadora do Museu de Arte Moderna do México e atualmente trabalha como diretora de um fundo internacional de apoio à arte. Também ministra aulas de cinema, elabora diversos livros da área e é responsável por catálogos de diversas exposições. Em entrevista exclusiva ao Metrópoles, Teresa conta detalhes sobre a exposição e comenta suas expectativas. Confira:
Como surgiu a ideia de fazer uma exposição sobre Frida Kahlo e outras artistas mulheres?
Teresa: A ideia partiu do Instituto Tomie Ohtake, que me buscou para que eu montasse uma exposição sobre Frida Kahlo e outras artistas mexicanas. Com esse convite na mão resolvi conversar com os responsáveis pelo Instituto de Belas Artes do México para pensar numa mostra interessante. Durante o encontro, eles me sugeriram que usasse minha o conceito da minha última exposição, “No País das Maravilhas. As Aventuras de Mulheres Artistas no México e nos Estados Unidos”, que ficou em cartaz no México, nos EUA e no Canadá. Junto, acrescentei o resultado de uma pesquisa que elaborei recente. Nela, apresento arquivos secretos de Frida que trazem novas informações sobre a influência da artista em outras obras produzidas no México nesse mesmo período. A nova exposição veio na hora certa.
Por que uma exposição feita só com artistas mulheres?
Há um aspecto muito interessante em separar a produção das mulheres dos artistas de sexo masculino: seus trabalhos tendem a trazer uma carga mais pessoal. É impressionante o número de autorretratos produzidos por essas artistas, coisa que homens não costumam fazer. Elas exploram seu interior e seu próprio corpo de diversas formas, buscam retratar o desespero, o aprisionamento e a dor. Além disso, vale lembrar que as artistas são suas próprias musas, enquanto os homens se espelham em outras pessoas – no geral, em suas parceiras.
O surrealismo foi bastante representativo para o México?
Sim. O movimento surrealista surgiu oficialmente em Paris, em 1924. Porém, com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, muitos artistas tiveram que fugir da Europa e se exilarem em cidades como Nova York, nos EUA, e Cidade do México. Frida Kahlo já era conhecida no país e se tornou em um farol para esses exilados. Juntos, elaboraram exposições que permitiram que a população local conhecesse seus trabalhos. Além disso, México serviu bastante ao movimento por conta das culturas pré-hispânicas e das artes populares, que faziam uso extensivo de magias e rituais de morte – verdadeiros objetos de admiração dos surrealistas.
De que maneira a vida pessoal de Frida Kahlo influenciou em sua produção artística?
A arte de Frida pode ser descrita como uma narrativa autobiográfica. É muito difícil separar a pessoa de sua produção. Muitos artistas, sendo a maioria mulheres, mas não exclusivamente elas, refletem a história de sua vida. E esse toque pessoal se dá porque são seres humanos que sofreram imensamente, mas que também tinham uma enorme vontade de viver. Frida é um grande exemplo disso. Sua arte busca uma identidade própria, fala sobre suas paixões e representa uma vontade de ser independente – sem se importar com o que a sociedade pensava a seu respeito. Ela simboliza a liberdade de ser única.
Onde a técnica de Frida Kahlo se destaca?
Uma das principais contribuições de Frida Kahlo para a história da arte é a maneira como ela se rebelou contra as convenções da pintura ao misturar a esfera pública e privada da vida em seus quadros. Ela era muito culta e suas pinturas são muito mais do que meras ilustrações de episódios de sua vida. Nas diversas viagens que fez pelos EUA e pela Europa, conheceu trabalhos de artistas como El Greco, Modigliani, Henri Rousseau e Marcel Duchamp, que influenciaram diretamente no seu fazer artístico.
Qual o papel das outras artistas nessa exposição?
A seleção de artistas e obras foi elaborada de forma a tecer ligações entre Frida Kahlo e outras artistas mulheres que passaram pelo movimento surrealista e tiveram algum contato com a obra da artista mexicana. Ela se tornou uma referência no que se diz respeito a autorrepresentação e também conhecia como poucos as culturas mexicanas. Dessa forma, compreendemos que Frida influenciou e foi influenciada pelas artistas presentes na mostra. Vale ressaltar que a exposição tem uma grande variedade de estilos e técnicas (pintura, fotografia, escultura, desenhos, colagem, fotomontagem), mostrando o quão longe foi a influência de Frida Kahlo.
As mulheres são menos compreendidas pelo público geral?
Com certeza. E aproveitei isso para preparar uma série de surpresas dentro da exposição. Nossa intenção é comprovar o valor artístico delas, a criatividade e as inovações que seus trabalhos trouxeram para o mundo da arte.
O que se espera do público brasiliense?
Minha expectativa é que as pessoas apreciem a rara chance de ver de perto as obras de Frida Kahlo e descubram as maravilhas feitas por mulheres tão pouco conhecidas no cenário mundial.