#general-especial #abre-especial .cabeca-abre { background-image: url(https://files.metropoles.com/eleicoes2018/especiais/Bolsonaro-Desktop.png);}@media screen and (max-width: 767px) { #general-especial #abre-especial .cabeca-abre { background-image: url(https://files.metropoles.com/eleicoes2018/especiais/Bolsonaro-Mobile.png); }}#general-especial p>strong { display: block;}

Quem é Jair Bolsonaro, o novo presidente do Brasil

Bolsonaro será o primeiro político egresso das fileiras militares a assumir o Planalto após a redemocratização. Cumpriu sete mandatos de deputado federal rumo à Presidência

Ian Ferraz
Renan Melo Xavier
Eumano Silva


Os brasileiros decidiram: Jair Messias Bolsonaro (PSL) será o 38º presidente da República. Neste domingo (28/10), a maioria do eleitorado do país elegeu um ex-capitão do Exército para comandar o Brasil. Bolsonaro é um político de perfil improvável, forjado no confronto com a redemocratização e com a liberação dos costumes.

Desde o fim da ditadura, em 1985, nenhum militar assumiu o Palácio do Planalto, tampouco um político como Jair Bolsonaro, que já está na reserva das Forças Armadas. Chegou ao comando do país depois de sete mandatos como deputado federal. No Congresso, integrou por 28 anos o baixo clero, ala numerosa e com líderes de pouca expressão na cúpula do parlamento brasileiro.

Embalada pelo antipetismo, a vitória nas urnas foi construída na esteira de escândalos políticos como Mensalão e Petrolão, e dos fatos que levaram ao impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016. Ao conseguir a maioria dos votos válidos neste domingo, o ex-capitão superou seu adversário no segundo turno, o petista Fernando Haddad, e siglas do campo da esquerda, como PSB e PDT, aliadas do ex-prefeito de São Paulo na tentativa de barrar a ascensão do militar reformado.

Natural de Glicério (SP), Bolsonaro sedimentou o próprio caminho rumo ao Palácio do Planalto com bandeiras de fortalecimento dos sistemas de segurança pública e de combate à corrupção, temas que nortearam seu discurso político. Pela força das manifestações a seu favor, ele terá amplo apoio popular, mas também será cobrado pelos seguidores em temas como educação, economia e saúde.

Igo Estrela/Metrópoles


O começo do sonho
Os primeiros passos de Jair Bolsonaro para chegar à Presidência da República foram dados em abril de 2014. Ele apresentou ao Partido Progressista (PP), sua legenda à época, a proposta de lançar-se ao Palácio do Planalto na eleição daquele ano. Mas a falta de interesse do comando da sigla em atender suas pretensões impediu a realização do projeto pessoal do deputado.

Após idas e vindas, o PP decidiu formalizar aliança com Dilma Rousseff, candidata à reeleição ao Planalto pelo PT. Bolsonaro avaliou a postura do partido como “antidemocrática”. Restou ao parlamentar concorrer, mais uma vez, à reeleição para a Câmara dos Deputados.

Em meus tempos de Academia Militar, aprendi que soldado que vai à guerra e tem medo de morrer é covarde. Meu sonho de mudar a realidade social e econômica do Brasil não acabou. Ao contrário, sinto-me ainda mais disposto a me entregar por meu país

Jair Bolsonaro, ao admitir a então derrota entre os próprios partidários

O resultado nas urnas naquele ano, no entanto, animou Bolsonaro. Com 464.572 votos, ele ficou em primeiro lugar na disputa pelas cadeiras destinadas ao Rio de Janeiro no Legislativo Federal e foi reconduzido para seu sétimo mandato na Câmara.

O início da campanha
Desde 2014, viagens para palestras e eventos por todo país e o uso intenso das redes sociais foram estratégias adotadas por Jair Bolsonaro para se cacifar como opção viável ao Planalto.

Apesar do apelo por sua candidatura, o deputado ainda tinha um dilema: por qual partido ele concorreria à Presidência da República? Após deixar o PP em abril de 2015, ele ingressou no Partido Social Cristão (PSC). Não deu certo. Bolsonaro entrou em atrito com a direção da nova legenda e perdeu espaço. Informalmente, o deputado deixou o PSC em agosto de 2017, já em meio a negociações com outras siglas.

A busca por uma legenda pela qual chegaria à Presidência foi marcada por uma traição. Por alguns meses, Jair Bolsonaro aproximou-se do Partido Ecológico Nacional (PEN). Fez e recebeu promessas. Entre as propostas defendidas pelo presidente da sigla, Adilson Barreto, estava a mudança de nome para Patriota, o que se concretizou. Isso era uma demanda reivindicada pelo pré-candidato a presidente. Mas o ingresso de Bolsonaro no partido não se tornou realidade.

No início deste ano, o deputado de sete mandatos firmou compromisso com Luciano Bivar e filiou-se ao Partido Social Liberal (PSL). A chegada do parlamentar incomodou membros do Livres, movimento de renovação interna da legenda.

Uma debandada de integrantes do PSL ocorreu em reação ao ingresso do militar da reserva e seus aliados na sigla. O PEN/Patriota, por sua vez, deu o palanque de presidenciável negado a Bolsonaro para outro recém-chegado na legenda: o igualmente polêmico deputado federal Cabo Daciolo (RJ), expulso dos quadros do PSol, pelo qual foi eleito para a Câmara dos Deputados em 2014.

Igo Estrela/Metrópoles

Em 22 de julho deste ano, Jair Bolsonaro foi anunciado como pré-candidato à Presidência da República pelo PSL durante convenção no Rio de Janeiro. Cercado por apoiadores e figuras importantes do partido, mas sem aliados de outras siglas, o presidenciável levantou as bandeiras que o fizeram vencedor do pleito de 2018: amor à pátria, antipetismo, promessas de combate à corrupção e linha dura para enfrentar a criminalidade.

Isso tudo sem enfrentar os debates entre candidatos. No primeiro turno, Bolsonaro participou apenas de dois confrontos com concorrentes: o primeiro foi na TV Bandeirantes, em 9 de agosto; o segundo, organizado pela Rede TV, no dia 17 do mesmo mês. Em ambos, ele se transformou em alvo dos adversários. Outros encontros foram cancelados. As críticas a Jair Bolsonaro levaram o presidente do PSL, Gustavo Bebianno, a dizer que o presidenciável não participaria mais de debates eleitorais.

Na madrugada de 1º de setembro, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rejeitou o registro de candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), até então líder das pesquisas, com base na Lei da Ficha Limpa. A decisão abriu o caminho para Bolsonaro, que, desde outubro de 2017, aparecia como líder nas sondagens de intenção de votos nos cenários sem Lula. Quando o líder petista foi oficialmente posto pela Justiça Eleitoral para fora da disputa, o militar assumiu a liderança isolada da corrida presidencial.

O PT optou por anunciar Fernando Haddad, até então vice na chapa, para substituir Lula somente em 11 de setembro. A estratégia era associar o máximo possível o nome do novo presidenciável ao do principal líder do partido.

Apelo familiar
Com apenas 8 segundos em tempo de rádio e TV no primeiro turno, Jair Bolsonaro adotou o discurso direto na campanha, com os mais variados temas. A equipe do militar foi norteada por apelos populares, do sentimento de insegurança à valorização do formato tradicional de família. O perfil conservador provocou simpatia no eleitorado e criou condições para a defesa incondicional por parte de militantes que inundaram as redes sociais com propagandas e mentiras a fim de ajudar a inflar a candidatura ao Planalto.

A participação de familiares foi um dos pontos fortes na campanha de Bolsonaro. Políticos de profissão, os filhos Flávio, Eduardo e Carlos (na foto abaixo, com Jair Bolsonaro) montaram palanques para o pai e, também, cativaram os eleitores. O primeiro foi eleito senador pelo Rio de Janeiro. O segundo conquistou a reeleição por São Paulo, com votação recorde para deputado federal. Carlos não se candidatou neste ano.

ARQUIVO PESSOAL

Da esquerda para a direita, o clã Bolsonaro: Carlos, Flávio, Jair e Eduardo

Na jornada rumo ao Palácio do Planalto, Bolsonaro teve a companhia de uma cidadã do Distrito Federal: Michelle de Paula Firmino Reinaldo, a futura primeira-dama do Brasil. Natural de Ceilândia, ela é a terceira esposa do presidente eleito. Eles se casaram em 2007 (foto abaixo) e tiveram a filha Laura, a caçula de Bolsonaro, hoje com 8 anos.

Michele e Laura, contudo, mantiveram-se afastadas dos holofotes da campanha, assim como o penúltimo filho de Bolsonaro, Jair Renan, de 20 anos.

REPRODUÇÃO/FACEBOOK

A facada
Em 6 de setembro, Jair Bolsonaro viveu o momento mais conturbado e traumático das eleições de 2018. Durante agenda de campanha em Juiz de Fora (MG), ele foi vítima de um atentado: o garçom Adélio Bispo de Oliveira, 40 anos, desferiu uma facada no ventre do presidenciável (foto abaixo).

Socorrido pela emergência da Santa Casa da cidade, o militar reformado precisou ser operado após apresentar lesões nos intestinos grosso e delgado. No dia seguinte, viajou em avião particular para São Paulo, onde ficou internado por 22 dias no Hospital Albert Einstein.

REPRODUÇÃO

Nas primeiras semanas de recuperação, o candidato não teve paz. Bolsonaro precisou mediar crises provocadas por membros da campanha, como o general da reserva do Exército Hamilton Mourão, candidato a vice, e o economista Paulo Guedes, possível futuro ministro da Fazenda e Planejamento, além de guru do novo presidente nessa área. Declarações polêmicas dos principais aliados levaram o capitão da reserva a usar as redes sociais, a partir do quarto hospitalar, para contornar a situação.

Poucos dias depois do atentado, o presidenciável conquistou uma vitória na Justiça. Em 11 de setembro, a 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) recusou o recebimento de uma denúncia contra ele. Jair Bolsonaro era acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) de racismo e manifestação discriminatória contra quilombolas, indígenas, refugiados, mulheres e LGBTs (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros). A acusação teve como base uma palestra do então deputado, feita em abril de 2017, no Clube Hebraica, no Rio de Janeiro.

“Eu fui em um quilombola [sic] em Eldorado Paulista. Olha, o afrodescendente mais leve lá pesava 7 arrobas. Não fazem nada! Eu acho que nem para procriador eles servem mais. Mais de R$ 1 bilhão por ano gastado com eles”, disse, na ocasião”

Em geral, ao longo da campanha, Bolsonaro conseguiu contornar situações que poderiam tirar, massivamente, seus votos. A ausência em debates e manifestações contra ele realizadas em todo país, como o movimento #EleNão, foram episódios minimizados pela estratégia de comunicação do capitão da reserva e de seu exército de apoiadores.

No primeiro turno, o candidato do PSL arrebatou 49.275.358 milhões de votos válidos. Embora expressivo, o apoio do eleitor não foi suficiente para torná-lo presidente sem segundo turno. Fernando Haddad (PT), seu adversário, obteve 31.342.005 milhões de sufrágios, o equivalente a 29,28% do resultado total, levando a disputa para mais uma rodada.

Polêmicas
A campanha do peesselista sofreu um golpe em 19 de outubro. Reportagem do jornal Folha de S.Paulo mostrou que empresas pagaram R$ 12 milhões para envio em massa de conteúdos pelo WhatsApp contra o petista Fernando Haddad. A prática é considerada caixa 2, visto que empresas estão proibidas de doar para campanhas políticas. O TSE investiga o caso. Segundo o PT e siglas aliadas, isso beneficiou Bolsonaro com a proliferação de notícias falsas. O militar negou todas as acusações.

Outra denúncia, da revista Época, mostrou que uma produtora de vídeo existente apenas no papel e registrada em Petrolina (PE) recebeu R$ 240 mil da campanha de Jair Bolsonaro para produzir vídeos para televisão e redes sociais.

A denúncia diz se tratar de uma empresa fantasma, uma vez que o endereço da “Mosqueteiros Filmes Ltda.” é uma casa vazia e com anúncio de venda. Os donos do imóvel disseram à reportagem da Época que a produtora alugou um escritório no local há muitos anos.

Apoiador do candidato do PSL, o dono da loja de departamentos Havan, Luciano Hang, é suspeito de usar sua influência para induzir funcionários a votar em Bolsonaro. O Tribunal Superior Eleitoral interveio, ordenou que o empresário interrompesse a conduta e o obrigou a gravar um vídeo declarando aos trabalhadores serem livres para decidir o voto.

A revista Veja também levantou fatos que poderiam atrapalhar a corrida pela Presidência. De acordo com reportagem publicada no fim de setembro, a segunda ex-mulher de Bolsonaro, Ana Cristina Valle, havia declarado à Justiça, durante processo de separação litigioso, que uma das razões para o término do casamento foi a “desmedida agressividade” e o comportamento “explosivo” do parlamentar.

A ex-esposa disse também que o militar da reserva ocultou patrimônio em declarações. Após a revelação do caso, ela minimizou as informações dadas à Justiça na época da separação.

Jair Bolsonaro ainda enfrentou resistência na mídia estrangeira, que produziu diversos artigos condenando suas opiniões e pensamentos. Durante turnê no Brasil, o cantor Roger Waters, um dos fundadores da banda Pink Floyd, também se manifestou contra o parlamentar. Mensagens com a hashtag #EleNão e a inclusão de Bolsonaro na lista divulgada durante o show do músico, com o nome de neofascistas no poder ao redor do mundo, dividiram o público, que se manifestou com aplausos e vaias.

Mourão: o general enquadrado pelo capitão

EXÉRCITO BRASILEIRO/DIVULGAÇÃO

Em 1º de janeiro de 2019, o Palácio do Jaburu receberá um novo morador. Será o gaúcho de Porto Alegre Antônio Hamilton Martins Mourão, ou simplesmente general Mourão, oficial da reserva do Exército. Aos 65 anos, ele assumirá a residência oficial da Vice-Presidência da República tão logo o presidente Michel Temer (MDB) deixe o local.

Pelos próximos quatro anos, segundo o ritual do poder, o oficial vai figurar em um cenário inimaginável para o universo militar: será subalterno a um capitão. Acima de Mourão estará Bolsonaro. Ao longo da campanha, a relação da dupla viveu altos e baixos. Depois de declarações polêmicas, o general acabou ficando à sombra do oficial de patente inferior e, por muitas vezes, foi escanteado pela equipe de campanha de Jair Bolsonaro.

Mourão tem estirpe amazonense. Com traços indígenas, é filho do general de divisão Antônio Hamilton Mourão e de Wanda Coronel Martins Mourão. Há poucos dados públicos sobre o histórico de Mourão.

Ele esteve na ativa no Exército ao longo de 45 anos. Em 1972, meses depois de alcançar a maioridade e envolvido pelo universo fardado do seu pai, Mourão ingressou na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), instituição que anos mais tarde também abrigou Bolsonaro. Três anos depois, foi declarado aspirante a oficial da Arma de Artilharia.

Ao longo de sua passagem pelo Exército, o futuro vice-presidente passou por cursos de aperfeiçoamento, como paraquedismo, salto e guerra em selva. Em 1980, Mourão voltou à Aman para ser instrutor dos cadetes. Participou da Missão de Paz em Angola (Uvanem III) e foi adido militar na Embaixada do Brasil na Venezuela.

Depois de passagens por grupos de artilharia e brigadas de infantaria país afora, ele regressou a Porto Alegre para chefiar, em 2014, o Comando Militar do Sul (CMS), onde ficou até 2016. De lá, seguiu para a chefia da Secretaria de Economia e Finanças do Exército, seu último posto na instituição antes de entrar para a reserva.

Oficialmente, Mourão deixou o Exército em fevereiro de 2018. Dois meses depois, anunciou sua filiação ao Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), legenda controlada pelo ex-candidato a presidente Levy Fidelix.

Na ativa, pensamentos controversos
Nos últimos anos em que esteve no Exército, Hamilton Mourão envolveu-se em situações controversas. Em 2015, durante palestra no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR) de Porto Alegre, defendeu “o despertar de uma luta patriótica”. A declaração ocorreu três meses antes da abertura do processo de impeachment contra a então presidente da República, Dilma Rousseff.

Na ocasião, disse ainda que a eventual substituição da petista não alteraria o “status quo” e a mudança seria “o descarte da incompetência, má gestão e corrupção”.

As declarações de Mourão não foram bem recebidas em Brasília. Ele foi exonerado do CMS. Bolsonaro acompanhou a cerimônia de despedida do general no órgão. Mourão foi, então, designado para a Secretaria de Economia e Finanças do Exército.

Ainda no Rio Grande do Sul, Mourão permitiu a realização de uma homenagem póstuma ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-comandante do DOI-Codi de São Paulo, um dos principais centros de repressão da ditadura militar. O evento ocorreu no pátio da 6ª Brigada de Infantaria Blindada, em Santa Maria (RS).

Mourão ganhou popularidade. Nos protestos a favor do impeachment de Dilma, um boneco inflável do general era usualmente utilizado por manifestantes. Quem circulava pela Esplanada dos Ministérios conseguia ver de longe “a réplica” de 12 metros de altura. No desenho, o militar trajava a faixa presidencial.

Em setembro de 2017, durante palestra promovida pela maçonaria em Brasília, o general afirmou: seus “companheiros do Alto Comando do Exército” entendiam que uma intervenção militar poderia ser adotada caso o Judiciário não solucionasse o “problema político” do país.

“Até chegar o momento em que as instituições solucionem o problema político, pela ação do Judiciário, retirando da vida pública esses elementos envolvidos em todos os ilícitos, ou então nós teremos que impor isso. […] Se tiver que haver, haverá [ação militar]. Hoje, nós consideramos que as aproximações sucessivas terão que ser feitas”

Hamilton Mourão

Em dezembro de 2017, Mourão foi destituído da secretaria após afirmar que o presidente Michel Temer fazia do governo um “balcão de negócios” para se manter no poder. As falas do general ocorreram em meio a mais uma defesa de intervenção militar.

Presidenciável?
Hamilton Mourão deixou oficialmente o Exército em fevereiro de 2018. Desde então, mergulhou na política. A chegada de Mourão ao PRTB alimentou a expectativa de que ele fosse lançado candidato à Presidência da República. A candidatura do general, no entanto, foi vista como um entrave para as pretensões de Jair Bolsonaro. Aliados, eles rachariam os votos do eleitorado conservador do país, o que poderia interferir no desempenho de ambos.

Com o cenário indefinido, Fidelix assumiu a pré-candidatura pelo PRTB. Mas, após semanas de negociações, o partido fechou aliança com Bolsonaro e colocou Mourão como vice da chapa encabeçada pelo capitão da reserva.

Hamilton Mourão não foi a primeira opção de Jair Bolsonaro para vice-presidente. Antes, a campanha do ex-capitão cogitou diversos nomes, como: o senador Magno Malta (PR-ES); o também general do Exército Augusto Heleno (PRP); a advogada Janaína Paschoal (PSL), uma das autoras do pedido de impeachment contra Dilma Rousseff; o astronauta Marcos Pontes, o primeiro brasileiro a participar de uma missão ao espaço; e do príncipe Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL).

“Eu deixo de ser capitão. Mourão deixa de ser general. Nós passamos a ser, a partir de agora, soldados do nosso Brasil”

Jair Bolsonaro, na confirmação de Mourão como vice, em agosto

Um dia depois de ser alçado candidato a vice-presidente da República, Mourão declarou que o povo brasileiro tem a “malandragem” e a “indolência” como heranças dos negros e dos indígenas. “[No Brasil] Ainda existe o famoso ‘complexo de vira-lata’, infelizmente. […] Essa herança do privilégio é ibérica. Temos uma certa herança da indolência, que vem da cultura indígena. Eu sou indígena. Meu pai é amazonense. E a malandragem. Nada contra, mas a malandragem é oriunda do africano. Então, esse é o nosso ‘cadinho’ cultural.”

Questionado sobre as declarações de seu companheiro de chapa, Jair Bolsonaro limitou-se a dizer: “Eu respondo pelos meus atos; ele, pelos dele”.

Em 13 de setembro, Mourão afirmou que o Brasil precisa de uma nova Constituição, mas elaborada por “notáveis” e aprovada em plebiscito popular, sem a necessidade da eleição de uma Assembleia Nacional Constituinte. “Uma Constituição não precisa ser feita por eleitos pelo povo. Já tivemos vários tipos de Constituição que vigoraram sem ter passado pelo Congresso eleitos”, afirmou.

Em 17 de setembro, nova polêmica ao declarar que famílias pobres “sem pai e avô, mas com mãe e avó” são “fábricas de desajustados” fornecedoras de mão de obra ao narcotráfico.

No final do mês, o general criticou o 13º salário, benefício garantido ao trabalhador formal pela legislação trabalhista. “Temos algumas jabuticabas que a gente sabe que é uma mochila nas costas de todo empresário. Jabuticabas brasileiras: 13º salário. Se a gente arrecada 12 [salários], por que pagamos 13? É complicado”, apontou.

Quando soube das declarações dadas pelo vice, ainda em um leito de hospital, Bolsonaro manifestou-se contra o general nas redes sociais. Para ele, Mourão precisava ficar “quieto” porque estava “atrapalhando”. O presidenciável ainda afirmou que quem “mexe no salário” comete “ofensa ao trabalhador” e “confessa desconhecer a Constituição”.

Um dia antes do primeiro turno da votação presidencial, Mourão fez uma declaração com viés racista. Depois de uma rápida entrevista ao chegar em Brasília, o general apontou para um adolescente que o esperava no saguão, acompanhando a família. Então, disparou: “Meu neto é um cara bonito, viu ali? Branqueamento da raça”.

Por todas as declarações, Mourão acabou afastado do centro da campanha. Ele, que atendia a imprensa e pensava em substituir Bolsonaro em debates, foi isolado por determinação do PSL. Em 8 de outubro, durante entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, Jair Bolsonaro deu uma demonstração de como avaliava o seu vice àquela altura.

“Ele é general. Eu sou capitão. Mas eu sou o presidente. O desautorizei nesses dois momentos [declarações sobre a Constituição e possibilidade de um autogolpe]. Ele não poderia ir além daquilo que a Constituição permite. […] O que falta ao general Mourão é um pouco de tato, um pouco de vivência com a política.”

 

Como se dará a relação entre Bolsonaro e Mourão só o tempo dirá.